Representatividade é a nossa nova palavra de ordem. No mundo da moda ou fora dele, ela pressupõe mudanças importantes de perspectivas. Instiga cada cidadão a desenvolver sua própria forma de pensar, de fazer, de viver; e promove a consciência solidária com pontos de vista alternativos, na busca por soluções concretas pra problemas urgentes.

Um desses problemas é a baixa autoestima, gerada por preconceitos sofridos, ou por baixo poder de compra, ou por falta de atenção de produtores. Mas o que falta no mundo não é produto, é apreço. Apreço por si mesmo, antes de qualquer coisa.

Esse sentimento de apreço precisa ser compreendido também dentro desse processo de ressignificação que o mundo está vivendo. Tudo está em movimento. As verdades pré-estabelecidas estão sendo desafiadas.

O espírito desse nosso tempo tem se deparado com uma realidade de intolerância, e, apesar disso, ensina e estimula o respeito entre as nossas diversas ideias, mas os valores ainda estão em transição. É o momento exato de nos apoderarmos de nós mesmos.

Até as nossas necessidades estão sendo redescobertas. Todos os dias surgem novos problemas que exigem posturas pessoais firmes, e exatamente por isso, essa é a hora de definir nossas prioridades segundo nossos próprios critérios.

O evento PopPlus mostrando sua potência, e conquistando cada vez mais adeptos

O futuro é uma construção diária, e o caminho que nos trouxe até aqui não tem que ser o mesmo que nos levará adiante. Pra chegar onde se quer, há que se ter uma visão integrada, e a certeza de que, se decidirmos, será diferente amanhã. Não deixemos que quem somos defina quem queremos ser. E não, isso não é papinho de auto-ajuda não. É papo reto sobre a estética social da felicidade, porque assumir o próprio eu/estilo importa, e muito.

Talvez a real demanda não seja vestir, mas despir. Nos despir de desejos que não são nossos, ansiedades emprestadas, certezas que não importam mais. Além de possíveis peças de roupas e acessórios impostas por um sistema de condicionamento visual autoritário, que prega regras estéticas que desrespeitam a nossa identidade e nos excluem, o que mais, de fato, estamos guardando em nossos armários?

É chegada a hora de não nos mascararmos mais antes de sair de casa pra agradar seja lá quem for, dependendo de pra onde estamos indo. Precisamos assumir que ser brasileiro é ser único.

Nossos corpos estão cheios de simbologia de nossas raízes. Temos dezenas de tons de pele, traços fortes e misturados de indígenas e negros; somos baixos, gordos, e temos curvas, e cabelos “despadronizados”. Somos infinitamente diferentes entre nós, e precisamos lembrar, sempre, que diversidade protege diversidade.

Identidade brasileira com estampa exclusiva, apresentada pelo estilista mineiro Rodrigo Bessa no seu desfile durante o MCM – Moda Contemporânea Mineira [foto divulgação]

Bora seguir livremente, sem idade, sem gênero, sem tamanho e comprimento, e até sem temperatura, assim como exige o nosso Brasil, com seus multiares.

Minha alma tem se alegrado em conhecer empreendedores chiquérrimos do mundo da moda, que cada vez mais têm se apoderado de suas essências, e têm deixado tudo mais verdadeiro, mais puro, mais colorido, mais leve e funcional.

Com o pensamento “moda plural, corpos reais, beleza além de estereótipos e protagonismo periférico”, em São Paulo, o projeto social PIM – Periferia Inventando Moda, acabou de inaugurar a UniPIM, uma escola de moda gratuita que funciona dentro do CEU da Comunidade Paraisópolis, – a segunda maior favela do País -, com o apoio e parceria da USP e da Abepem – Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda.

A marca DaMinhaCor nos conta que é a toca que tem que se adaptar ao seu cabelo, e não o seu cabelo que tem que caber na toca, saca? [foto divulgação]

Um projeto espetacular que tenho orgulho alheio e saiu na frente é o MCM – Moda Contemporânea Mineira, que foi lançado no final do ano passado em Belo Horizonte, com todos os conceitos mais ousados e inteligentes que um evento de moda poderia ter. Estive presente e me encantei em conferir a prática do que eles se propõem: “O Movimento MCM é uma rede aberta de pessoas que acredita que uma outra moda é possível, que contemple a diversidade cultural, a sustentabilidade e a inclusão social e estética” [tenho muita coisa pra falar dele, mas conto aqui em outro momento].

Também foi uma surpresa bem bacana conhecer esses dias a marca DaMinhaCor, que lançou uma touca específica pra atender a demanda de cabelos afro, e já mostrou lindamente que veio: apoiar a diversidade cultural, ser isenta de distinção de gênero, ter consciência ambiental, preço justo e voz empoderadora.

O evento PopPlus passeia pelo universo plus size com muita eficiência. Acontece em São Paulo, e reúne mais de 60 marcas de moda plus size pra todos os gostos durante um final de semana, com entrada gratuita, quatro vezes por ano. Mostra muito mais que roupa, envolvendo várias expressões culturais e promovendo super a inclusão, entre um público de cerca de 12 mil pessoas.

Quem manda no mundo e cria tendências são os indivíduos, a partir de suas próprias demandas. No querer tem poder, e é onde tudo acontece. Revolucionemo-nos.

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MCM – Moda Contemporânea Mineira