Quem fala demais dá bom dia a cavalo
O ministro Ricardo Salles, aquele mesmo que se situa na intersecção entre os que integram o núcleo dos olavetes lunáticos do governo e o núcleo dos que detém o mínimo de inteligência, mas nenhum pingo de decência e caráter, em visita ao Acre nesta semana que passou, foi farto ao proferir acusações e ataques a quem considera adversários de seus aliados locais.
O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), aquele mesmo que se situa na intersecção entre os que integram o núcleo dos olavetes lunáticos (Vélez/Weintraub, Damares, Ernesto) do governo e o núcleo dos que detém o mínimo de inteligência, mas nenhum pingo de decência e caráter (Moro, Guedes), em visita ao Acre nesta semana que passou, foi farto ao proferir acusações e ataques a quem considera adversários de seus aliados locais.
Ele, que já havia questionado, meses atrás, a “relevância” de Chico Mendes para o ambientalismo, ao visitar um ponto de despejo de esgoto in natura no Rio Acre, na região central de Rio Branco (um problema deixado por nossos governos, hei de confessar), disparou: “uma administração que permaneceu no poder do Estado por vinte anos, que teve uma representante que se diz o grande ícone da defesa do Meio Ambiente (…) deixou o Estado nesta situação vergonhosa que nós estamos assistindo aqui.”
O Ministro também teria afirmado que “a florestania defendida e aplicada por aqui foi uma fraude”, alegando tratar-se de “um projeto ideológico petista”. Salles também fez questão de emitir opinião sobre o Parque da Maternidade, ao qual avaliou negativamente: “minha nota é zero para este projeto”.
Paradoxalmente às suas declarações, o ministro fez questão de visitar e fazer fotografias em um dos pontos da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex Chico Mendes), na Comunidade Porongaba, município de Epitaciolândia.
A área visitada pelo ministro é a área de abrangência da Associação de Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes em Brasiléia e Epitaciolândia – AMOPREB. A mesma associação cujo presidente me confidenciou, uma semana antes, que está há três meses tentando uma simples reunião com o secretário de Produção do Estado do Acre, Paulo Wadt, e não consegue. Não é de se estranhar: o lema do atual governo, na área de produção agrícola, é o agronegócio, do latifúndio e dos grandes proprietários de terra, em detrimento da agricultura familiar, dos pequenos produtores rurais.
O ministro falastrão deveria saber que as Resex’s, enquanto espécies do gênero Unidades de Conservação (UC’s), só foram criadas a partir da (e graças a) luta de pessoas como Chico Mendes, Marina Silva e tantos outros. Deveria saber que, na área que corresponde a atual Resex, na época do governo do tio do atual governador, não havia nenhuma escola pública sequer. Que foi graças a luta de Chico Mendes e de um “floresteiro” chamado Arnóbio Marques de Almeida Júnior (mais conhecido como Binho Marques, eleito, décadas depois, governador do Acre) que foram criadas 39 escolas no interior dessa região.
O ministro também deveria saber que somente a partir da eleição dos governos progressistas e de esquerda, os quais ele ataca hoje, é que essa “rede paralela” de escolas – situadas no meio da floresta – foi incorporada à rede pública estadual de educação básica, passando a contar com a atenção e o financiamento público.
Se tivesse mais interesse pela história do Acre e de sua gente, o ministro saberia que tais escolas só funcionavam graças aos recursos de cooperação internacional, essa mesma que o senador Márcio Bittar fez questão de atacar.
A propósito, o senador teria afirmado, dias antes da visita do ministro Salles ao Acre, que o Fundo Amazônia teria sido criado para impedir o desenvolvimento da Amazônia brasileira. Segundo Bittar, a iniciativa, custeada com recursos da Noruega e da Alemanha, é um escândalo: convênios assinados com as secretarias municipais e estaduais de meio ambiente dos estados amazônicos teriam por finalidade que esses órgãos passassem a ser “correia de transmissão” dos interesses estrangeiros no Brasil.
O senador acusou tanto a Noruega quanto a Alemanha de tentarem determinar o que o Brasil pode e não pode fazer na Amazônia, violando a soberania nacional. Para ele, os países mantenedores do Fundo pagam os estados amazônicos para que a região se mantenha no atraso.
Ao que parece, o senador ignora o fato de que, se não fossem os recursos do Fundo Amazônia, não haveria financiamento para políticas, programas e projetos de desenvolvimento, crescimento econômico, geração de emprego, distribuição de renda, redução das desigualdades e promoção da inclusão social de seringueiros, ribeirinhos, extrativistas, colonos e indígenas. Isso porque o governo brasileiro não disponibiliza outras fontes de recursos para tais políticas.
A verdade – essa mesma, que incomoda, mas que sempre prevalece – é que a população dessas regiões era completamente ignorada pelos governos dos aliados dos que hoje governam o Acre e o Brasil (seus aliados, portanto, ministro). As populações das áreas que hoje integram a Resex Chico Mendes – e de tantas outras regiões da zona rural dos municípios acreanos – eram completamente desprovidas da oferta de serviços públicos, não só na área de educação, mas de toda e qualquer sorte de serviços públicos cuja oferta, pelo estado, é obrigatória.
Um ministro que foi responsável pela liberação de 239 agrotóxicos em um período de 6 meses, que já passaram a contaminar a comida que vai à nossa mesa e, via de conseqüência, a prejudicar a saúde de milhões de brasileiros; que já foi processado, julgado e condenado por fraude ambiental, dentre outros absurdos para alguém que comanda a pasta do Meio Ambiente, não detém envergadura moral e ética nenhuma para falar sobre o que quer que seja em se tratando de política ambiental, muito menos de saneamento ambiental integrado (conceito sobre o qual ele não deve ter nenhum conhecimento).
Essa mistura do inculto com a maledicência, que caracteriza as posturas do ministro Salles e da maioria de seus colegas de Esplanada é o combustível desse governo obscurantista, de ode ao grotesco, de apologia à ignorância. É o governo das bravatas, dos arroubos de autoritarismo, das firulas e do supérfluo, em detrimento dos assuntos relevantes. Dos falsos heróis dos pés de barro, dos salvadores da pátria mancomunados com milícias, laranjas e traficantes de drogas. O Acre e o Brasil não merecem esse tipo de gente.