“SOCORROOOOOO”

A mensagem surge de supetão no meu Whatsapp comunista como uma barata que acabou de tomar uma dose aveludada de Detefon. A mensagem piscava.

“Carluxo vai proibir atletas trans em competições na capital carioca! Denunciem aos quatro cantos! #emoji #emoji #emoji”

O desespero da pessoa vem carregado de todas as exclamações do teclado de seu pobre celular, fazendo o caractere mais famoso em tempos de Bolsonaro entrar em extinção no planeta das pontuações.

Tempos depois entro no Twitter e esbarro na nojenta boca de Bolsonaro besuntada numa humilde e simples pizza de $ 1 (sdd pizza de 1 $) em plena calçada de Nova Iorque. A foto se repete aos milhares, postada incessantemente por usuários de bandeirolas vermelhas em suas ‘bio’. Acusam-no de tudo.

E a foto lá, repetida à exaustão.

Em tempos de eu-leio-somente-título-de-link-no-zap e militância desenfreada, fatos como esses se transformam na mais perfeita pré-campanha da família mais odiada do país.

Parte da Esquerda já sacou a duros golpes e contorna bem, mas um batalhão de desesperados (e quem não está?) ainda reproduz o comportamento nada estratégico que elege a extrema-direita no Brasil. Como reflete o amigo spin doctor Pedro Cross, “fazendo as mensagens deles chegarem até o último dos brasileiros”. Elege e reelege gente como Marcos Feliciano em São Paulo com 400 mil votos (2014) e essa coisa horrenda que ocupa o Palácio do Planalto neste triste presente.

O ex-deputado federal Jean Wyllys (PT) deu essa letra depois de Feliciano se transformar num fenômeno conservador graças aos embates públicos e midiáticos com… ele mesmo, o Jean. O pastor-deputado adorava o embate do “cura-gay” porque aparecia. Acabou por sequestrar para ele toda a atenção nacional e tudo que girava em torno disso pra aparecer.

E apareceu.

E se reelegeu.

Exemplo rápido, mas é a mesma estratégia utilizada pelo clã do Vivendas da Barra desde que os pássaros voam. E, bom, o campo progressista se deixa levar como música do flautista de Hamelin.

Enquanto a Esquerda – alô, Oposição da Alameda dos Estados – fazer esse jogo de dar luz ao bolsonarismo rastejante, a extrema-direita crescerá e ocupará espaços de poder com tremenda facilidade.

O PL de Carluxo, o cura-gay de Feliciano ou a foto do hiper-humilde Bolsonaro comendo pizza em plena pandemia do Brasil são mecanismos que mexem com os nervos de nosso campo, mas é urgente compreender como enfrentar a extrema-direita sem arremessa-la para o centro do palco e disseminar suas ideias e mensagens.

Sacou o que querem esses filhos do Superpop? Eles querem seu holofote, anjo.

Alguns pesquisadores têm analisado esse comportamento digital há anos e gerado alternativas concretas de como combater a extrema-direita, principalmente nas redes sociais. Até estratégias usadas pelos Democratas no EUA contra o trumpismo e que deram resultado. Ficou com curiosidade? Procure aí por Esther Solano.