A região metropolitana de São Paulo é um contínuo urbano que abriga 22 milhões de pessoas, mais de 10% da população brasileira. É gente de todo o país e de muitos lugares do mundo, que circula pela pujante e extensa massa de arranha-céus e se amontoa pelas favelas, periferias e bairros residenciais.

A Grande São Paulo é o maior centro industrial, comercial, financeiro e de serviços. Negócios, gastronomia, melhores escolas, intensa vida cultural. Problemas superlativos de trânsito, enchentes, especulação imobiliária e violência urbana. Supostamente, a esperança de mudança do Brasil, para melhor, terá que passar por lá, se não partir de lá.

Crédito: Canto dos Clássicos

Saí, então, atrás de boas histórias meta-paulistanas para lhes contar e confesso que as encontrei, tanto em lugares emblemáticos, como a Favela de Paraisópolis, onde os moradores se organizam de forma heróica para mitigar a carência e a doença, quanto em ações setoriais, como a importância crescente da agricultura urbana no abastecimento da população.

Embora haja resultados dessa busca que são super pertinentes ao espírito dessa coluna, achei que só somando todos eles – o que extrapola o espaço de que ela dispõe – seria possível comunicar a esperança na escala dessa metrópole. Parti, então, para outro caminho: procurar pela esperança através dos olhos e dos corações das pessoas que vivem lá.

A sede do Instituto Socioambiental (ISA) é em São Paulo. Recorri aos meus colegas de lá, terceirizando a procura e lhes perguntando: “O que te dá esperança”? Segue-se um resumo das respostas que eu recebi.

Percepções da tribo 

Há uma controvérsia básica: se há – ou não há – esperança em São Paulo. O não haver, não significa a inexistência absoluta, mas uma crença na impossibilidade da esperança brotar das entranhas da cidade, e que ela vem de fora para dentro, como os alimentos saudáveis que chegam dos quilombos do Vale do Ribeira, ou como desdobramento de uma mudança de rumo político para o Brasil como um todo.

Outros olhos procuram a esperança eliminando alternativas e explicitando onde ela não está. Não adianta procurá-la, por exemplo, nos redutos elitistas das avenidas Paulista e Faria Lima, que concentram, em vez de dividir, a renda e todas as oportunidades, enquanto o sofrimento e a miséria se espalham pela cidade.

Claro que também não há esperança na carência em si, mas é a esperança que moveu e move milhões de pessoas que ali nasceram – ou para lá vieram – em busca de trabalho, dinheiro, escola ou hospital. A esperança está na rua, nas ações de solidariedade com os que moram nela e na luta por direitos. Assim como está presente nos encontros entre novos amigos, amantes ou parceiros, que a cidade, exuberante, oportuniza.

Apesar de tantas agruras metropolitanas, olhares mais atentos percebem a presença da esperança mesmo em entranhas mais sinistras da cidade, como no pedido de ajuda que fazem aos motoristas retidos nos semáforos, ou como num canto de louvor em uma igreja da periferia. Para muitos, a simples continuação da vida já é motivo de esperança, que também pode estar, em qualquer lugar, como expectativa de mudança; eles estão feios, mas ficarão melhores, com a nossa ação.

São Paulo não tem praia, não tem rio que preste para nadar e os parques estão fechados por conta da pandemia. Mas a esperança persevera na ação dos jornalistas e dos profissionais de saúde que vão às ruas para nos informar e vacinar. Também pode estar disfarçada entre uma banca de frutas e um carrinho de churros, em algum lugar da zona leste, oculta nos sonhos das crianças, mas também pode se expressar no som de uma guitarra tocando xaxado.

Em suma, se encontra a esperança em boa parte das gentes de São Paulo, em várias formas, o que é próprio da sua diversidade, ocupando os espaços de liberdade.

Os céticos dirão que os meus colegas forçam a barra ao falarem de esperança em lugares tão degradados. Mas, vale a pena prestar mais atenção nas gramíneas que florescem entre o asfalto e o meio-fio: um mundo em miniatura, que insiste em viver e em nos dizer que, se deixarem, ele cresce e aparece. A esperança se esconde no avesso da tragédia.

Na perspectiva de virar a tragédia ao avesso, concluo, com uma lição do Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

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