Paternidade Ativa Feminista
Esta naturalização da inversão do tempo que mães e pais dedicam ao trabalho de educar os filhes é uma consequência do patriarcalismo que determina a divisão sexual do trabalho.
Que tal, no Dia dos Pais, receber uma homenagem que é também uma reflexão: você tem sido um bom pai?
Não nos referimos, é claro, a “pais de selfie”. Muitos pais ausentes e irresponsáveis gostam de postar fotos com seus filhos nas redes sociais, para afastar a verdade por trás dos sorrisos: pensões atrasadas, visitas estabelecidas de acordo com a conveniência exclusiva do pai, ausências reiteradas, desinteresse pela rotina médica e escolar, prioridade para o trabalho, estudos, viagens ou mesmo festas.
Falando da perspectiva da paternidade responsável, o pai é uma figura importante no desenvolvimento emocional e cognitivo dos filhos e filhas, impactando inclusive no seu futuro profissional e familiar.
A presença, o apoio e a participação ativa do pai desempenham um papel importante em todas as fases da vida dos filhes, da primeira infância à vida adulta.
Mas, além disso, a paternidade ativa é indispensável para que haja real equidade de gênero.
Muitas pessoas evitam enfrentar a realidade, mas o fato é que a educação de filhes é uma verdadeira jornada de trabalho. Numa sociedade patriarcal, a sobrecarga e o excesso de trabalho serem imputados à mulher, em razão da eventualidade da presença ou da “ajuda” dos pais, são naturalizados. Enquanto muitos pais amoldam suas obrigações paternas à disponibilidade de tempo que sobra do trabalho, dos cursos de aperfeiçoamento, de pós-graduação, de línguas estrangeiras e, no caso de pais divorciados, de namoro e de vida social, o que ocorre com as mulheres é justamente o contrário: as mães amoldam seu investimento de tempo ao trabalho, aos estudos, à vida social e afetiva ao tempo que sobra das atividades maternas.
Esta naturalização da inversão do tempo que mães e pais dedicam ao trabalho de educar os filhes é uma consequência do patriarcalismo que determina a divisão sexual do trabalho. E é um tabu que precisa ser enfrentado e vencido, se quisermos avançar para um modelo societal mais justo, seja do ponto de vista político, como econômico. Afinal, o Brasil tem hoje 11,6 milhões de famílias monoparentais chefiadas por mulheres, quase 20% do total das famílias brasileiras.
Por outro lado, ninguém se engane. Este não é um problema exclusivo de mães que chefiam famílias monoparentais. É um problema também de exploração do trabalho da mulher dentro de famílias originais (pai e mãe casados) e de famílias recompostas.
Seguem algumas questões que podem te ajudar a refletir se você tem sido um bom pai, na perspectiva participativa e feminista.
Para todos os pais:
– Você já calculou o tempo de trabalho que a mãe (ou mães) de seus filhes gasta com educação e atenção a eles? Se não, faça este cálculo. Ele é a base para estabelecer uma divisão de trabalho paterno e materno equânime.
– Se você já fez este cálculo temporal. o tempo que você dispende na educação e atenção aos filhes é proporcional ao da mãe (ou mães)?
– Você sabe as notas que seu filhe tem tirado na escola? Quais matérias ele mais gosta? Quais matérias está com dificuldade? Quais seus melhores amigues?
– Você tem consciência da rotina médica de seu filhe? Quando foi a última vez que ele foi a uma consulta? Seus exames estão em dia? Você divide as idas aos médicos?
– Você percebeu mudanças de humor de seu filhe na quarentena?
– Seu filhe passa tempo demais no celular? Você faz algo a respeito?
Para pais divorciados, com família recomposta:
– Os filhes do casamento atual vivem com maior conforto do que os filhes dos casamentos terminados? Há diferença no padrão de vida? Os filhes do casamento atual estão usando tênis novos e os filhes dos casamentos anteriores estão com tênis surrados? Adapte estes exemplos ao que forem mais convenientes para sua realidade.
– Você distribui seu tempo e sua atenção para filhes de todos os casamentos de modo equânime?
Para pais divorciados, sem a guarda dos filhes:
– Você somente fala com seu filhe nas “visitas” quinzenais, ou pactuaram uma forma de você estar presente nos intervalos das “visitas”, acompanhando o dia-a-dia do desenvolvimento de seu filhe?
– Você muda a data ou o horário das “visitas” para atender melhor suas conveniências e alterações de última hora?
– Você desmarca as “visitas”? Se atrasa? Deixa seus filhes esperando?
Se ao chegar ao final destas questões, você percebeu que poderia estar exercendo sua paternidade de forma mais presente, mais ativa e mais justa, aproveite seu Dia dos Pais para rever seu pacto de paternidade.
Reconheça seus privilégios masculinos, que fazem com que a mãe precise dedicar uma quantidade de tempo significativamente maior do que a sua, para que seus filhes possam crescer saudáveis, do ponto de vista emocional, físico e cognitivo.
Para exercer uma paternidade ativa e feminista, você vai precisar recalcular seu tempo e suas prioridades, abrir mão de privilégios e confortos que decorrem da exploração do trabalho das mães.
Mas, no final, é ser um pai presente e ativo que faz com que todos, pais e filhes, sejam mais felizes e encontrem mais plenitude neste relacionamento que a sociedade patriarcal desvalorizou por tanto tempo, e que vem agora sendo redescoberto, ressignificado e valorizado.
Feliz Dia dos Pais.