Os idiotas da objetividade
Perdemos as eleições por fatores múltiplos e complexos, mas também por não saber renovar a linguagem. E ninguém tem a fórmula.
E José de Abreu, autoproclamado Presidente da República do Brasil, um ator atuando de forma irônica e paródica, escrachando a fragilidade das democracias latino-americanas, incomoda os puristas da direita e da esquerda.
O Presidente da República eleito agora tem um ESPELHO que amplifica seu comportamento tosco. Bolsonaro não é melhor que o personagem de Zé de Abreu: tosco, pimpão, fanfarrão e narcisista. E incomoda a esquerda que acha que qualquer coisa que “não seja séria”, qualquer expressão na linguagem popular do deboche, do grotesco e da sátira é “impuro”. Parece que não aprenderam nada com a eleição de Bolsonaro, o presidente meme!
A extrema direita tem uma legião de youtubers, fazedores de memes, personagens zueiras e uma milícia digital.
O humor é uma linguagem política. Nós falamos tanto na cultura popular digital e quando ela chega e se massifica, quando ela chega e nos derrota, parte da esquerda toma horror do processo e da linguagem e não do seu uso!
Sinceramente, além de trabalho de base, organização, autocritica, formacão, novas lideranças políticas, blá, blá blá, nós precisamos de uma legião de zédeabreus, de youtubers, de zoadores, de carnavalescos, uma massa critica no comentariado das redes que professe e lute por outros valores não conservadores e não fascistas, em todas as mídias e usando todas as linguagens.
Me chamem para uma escola de memes, porque só a “comunicação séria”, só os panfletos, só os abaixo assinados para letrados, só os manifestos, só os partidos, só os movimentos organizados, não resolveu não! Continuaremos a fazer letramento e formação para nossas turmas de pós-graduação para 20 pessoas (contém ironia), mas no momento um programa de auditório como Amor e Sexo, ou a festa do Oscar, ou o #8M nas ruas ou tudo que é mainstream me interessa muito.
Perdemos as eleições por fatores múltiplos e complexos, mas também por não saber renovar a linguagem. E ninguém tem a fórmula.
Precisamos de um ativismo pop e mainstream. Se o Zé de Abreu fura a bolha e incomoda o Presidente da República que nomeou um aliado, um ex-ator pornô deputado, Alexandre Frota, para processá-lo por “confusão no aeroporto” eu acho é bom! O cabaret vem abaixo! Vamos ficar no bomgostismo das nossas verdades complexas?
Como diria o Bandido da Luz Vermelha, personagem genial de Rogério Sganzerla:
“Quando a gente não pode fazer a gente avacalha.”
Aliás uma das linguagens potentes das manifs de 2013.
Não estou discutindo a posição de Zé de Abreu em nenhum caso específico, mas sua performance como bobo da corte em 2019. Aliás, as sátiras presidenciais no Brasil tem sido profícuas e suas personas virtuais também, como a Dilma Bolada e outras. O Zé de Abreu só fez o “download” do personagem virtual para o “real” (que aliás nunca estiveram separados) e ajuda a carnavalizar a política!
Se o Zé de Abreu fala umas merdas, como “ser branco agora é um privilégio” deve ser trollado até aprender, exatamente como o Bozo original. Mas pode assumir sim esse lugar de um Bolsonaro da esquerda! É o que tem para hoje. #zédeabreu #culturadigital #Brasil #Bolsonaro #memética #escracho
P.S. Os “idiotas da objetividade” era como Nelson Rodrigues chamava carinhosamente as pessoas que liam o mundo literalmente e de forma objetiva. Isso em um texto antológico que criticava a “monstruosa e alienada objetividade” jornalística.