A vitória da atriz Fernanda Torres no Globo de Ouro pela sua atuação como Eunice Paiva em “Ainda Estou Aqui” extrapola as fronteiras do cinema e ecoa um poderoso recado político para o Brasil e o mundo: ditadura nunca mais! Dias antes de completar dois anos dos ataques antidemocráticos às sedes dos Três Poderes, o reconhecimento internacional é um símbolo da resistência da nossa democracia e da capacidade de revisitar o passado para que ele jamais se repita.

O filme de Walter Salles não apenas narra a história de Eunice Paiva, mas também traz à tona as profundezas da crueldade da ditadura militar brasileira. Para além da censura e da repressão, revela como aquele regime despedaçou famílias, destruiu sonhos e manchou nossa história com um período de trevas. É impossível assistir à cena em que Rubens Paiva é levado de casa e não retornará, sem sentir o peso dessa triste fase de nossa história. Este é o Brasil que não queremos nunca mais.

Foi com horror e perplexidade que o Brasil acompanhou, em 8 de janeiro de 2023, à tentativa de golpe de Estado por um grupo que não aceitou o resultado das eleições democráticas que elegeram o presidente Lula. Revoltante também é lembrar que o ex-presidente Bolsonaro, em um ato de profundo desrespeito à memória histórica do Brasil, cuspiu na estátua de Rubens Paiva na Câmara dos Deputados, afirmando que o ex-parlamentar “teve o que mereceu”. Uma atitude desumana, desrespeitosa e que nos lembra da importância de estarmos atentos, fortes e mobilizados para proteger nossa democracia.

A história de Eunice e Rubens Paiva nos convida a olharmos para o presente com coragem e responsabilidade. É um lembrete para condenar veementemente qualquer tentativa de golpe. Inclusive, uma pesquisa recente do Instituto Quaest nos mostra que os brasileiros estão cada vez mais conscientes da importância da democracia e não estão dispostos a tolerar mais o autoritarismo. Os dados revelam que 86% dos brasileiros reprovam os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, sendo que até entre eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro essa desaprovação chega a 85%, demonstrando que a consciência democrática no Brasil é forte e supera a polarização política.

Na próxima quarta-feira, 8 de janeiro, a Praça dos Três Poderes será palco de atos simbólicos e de memória, incluindo a devolução de obras de arte históricas restauradas após os ataques de 2023. Entre elas, um raro relógio do século XVII, destruído durante os ataques e agora restaurado na Suíça. Mais que reparo material, o presidente Lula trabalha para a reconstrução da confiança e do fortalecimento do Estado democrático de direito.

O Brasil não está disposto a retroceder. A democracia não se sustenta sozinha, é mantida pela vigilância, pela ação cidadã e pela memória ativa. Como sociedade, devemos continuar escrevendo nossa história com liberdade e justiça, rejeitando qualquer sombra de autoritarismo. Sem anistia para os golpistas, pois ditadura nunca mais!