Daniel Zen: O que esperar do governo Gladson Cameli?
Não se trata de uma crítica pessoal, nem tampouco de uma análise de biografia, currículo ou competência dos membros da equipe de governo, mas de uma ansiedade desnecessária em querer apresentar resultados imediatos ou instantâneos.
Nessas duas primeiras semanas de 2019, o vazio de conteúdo e a paranoia anti-comunista, de combate ao tal “viés ideológico”, para extirpar um suposto “marxismo cultural” do governo e da sociedade, presentes na narrativa dos membros da equipe do governo bolsonarista, parecem contaminar as administrações estaduais.
Do Rio de Janeiro de Witzel às Minas Gerais de Zema, chegando ao Acre de Cameli, todos parecem se deixar levar pela idiotia coletiva da qual são porta-vozes, além do próprio Presidente e seus Três Patetas (Flávio, Eduardo e Carlos), também os Quatro Cavaleiros do Apocalipse que ocupam lugares de destaque na Esplanada do Reich: Onyx Lorenzoni, Damares Alves, Ernesto Araújo e Ricardo Vélez Rodríguez.
“Despetizar”, “desideologizar” e outros termos esdrúxulos são alguns dos neologismos criados – e usados – por quem não tem muito mais a oferecer, a não ser demonizar e colocar a culpa por seus próprios infortúnios nos seus antecessores. Ou, simplesmente, apostar no obscurantismo.
Ocorre que a pressa e a ansiedade de quem está iniciando, no plano nacional; ou ficou muito tempo longe do exercício do poder e agora retorna, no plano estadual, não podem se converter em “foba”. Vejamos o caso do Acre:
Na Educação, o novo secretário, Prof. MSc. Mauro Sérgio, afirmou que recebera “o convite do governador Gladson Cameli para tirar a educação do Acre da propaganda de fachada”. Complementou dizendo que “a valorização do servidor público deve ser prioridade” e que, por isso, está “seguindo orientações da Casa Civil e formando uma equipe com critério técnico.” Teria feito tal declaração em repúdio a acusações de aliados de que estaria mantendo boa parte dos membros do governo anterior nas equipes dos diferentes setores da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (SEE). Para justificar o critério – justo e razoável – adotado para escolha dos membros de sua equipe atacou, sem necessidade, o trabalho daqueles servidores que ele próprio está fazendo questão de aproveitar. A pressa é sempre uma grande inimiga.
Na Segurança, o secretário, Cel. PM RR Paulo César declarou que “em 10 dias, voltaremos a nos sentir seguros”. Sabe-se que segurança material é diferente de sensação de segurança. Andam juntas, são interdependentes, mas, quem lida com a área sabe que são coisas distintas.
É plenamente possível ter péssimos indicadores de criminalidade e violência, mas, manter uma sensação de segurança em nível aceitável. A recíproca é verdadeira: pode se ter uma péssima sensação de segurança, mas ter índices e taxas de violência e criminalidade sob controle.
A sensação de segurança depende mais das ações de impacto visual, das aparências e da propaganda. A segurança, em si, nem tanto. A pressa, ela de novo, levou o Secretário a dar uma declaração que não passa de um sofisma.
Na Saúde, o secretário Alysson Bestene disse – e adotou a medida – que o Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco (HUERB) “voltaria a realizar consultas”, ou seja, atendimento ambulatorial. Sabe-se que, no âmbito do SUS, o atendimento de ambulatório, cujo paciente não apresenta risco iminente de morte, deve ser realizado nos PSF’s, UBS’s, Policlínicas e UPA’s. Um hospital de urgência e emergência deve ser destinado, exclusivamente para, adivinhem o quê? Urgências e emergências.
O resultado dessa precipitação foi uma verdadeira enxurrada de pacientes em apenas uma semana, que se recusam, agora, a ir às UPAs: todos querem ser atendidos no HUERB, sobrecarregando a unidade. Mais uma vez, a pressa e o populismo da medida não só não melhorou, como agravou a situação.
Seguiram-se a isso, ao longo dos últimos 15 dias, uma série de acusações de boicotes, desde suposições sobre a forma como a escala de férias das equipes das forças policiais teria sido concedida, no apagar das luzes do governo anterior, de modo a prejudicar os trabalhos do início do atual governo; um suposto sumiço de equipamentos da área de tecnologia da informação; a nomeação do Diretor do Instituto de Previdência do Estado sem o necessário aval da ALEAC, conforme determina a lei; além de nomeações de pessoas condenadas por improbidade administrativa para desempenhar funções no primeiro escalão do governo que prometeu tolerância zero com a corrupção.
Antes de prosseguir, faço questão de salientar: aqui não se trata de uma crítica pessoal, nem tampouco de uma análise de biografia, currículo ou competência dos membros da equipe de governo. Todos os três secretários citados são profissionais altamente qualificados.
O Cel. PM RR Paulo César foi meu colega de faculdade e é um dos oficiais mais qualificados dos quadros da PMAC, tanto da ativa quanto a da reserva remunerada. Alysson Bestene é um jovem idealista e estudioso, tem plena capacidade para lidar com os problemas e liderar as equipes da saúde na direção de bons resultados. E o Prof. MSc. Mauro Sérgio é, dentre todos os membros da equipe de Governo, o que detém o melhor currículo, além de uma bela trajetória como servidor efetivo da SEE, já tendo servido ao Estado, anteriormente, como diretor de escola, dentre outras funções que desempenhou, todas com honradez.
A questão é que, nos três exemplos citados, observa-se uma ansiedade desnecessária em querer apresentar resultados imediatos ou instantâneos. Ou ainda, de se auto-afirmar, elencando, para isso, supostas falhas de seus antecessores adversários. Ocorre que reside aí, além da pressa, do sofisma e do populismo, uma boa dose de deslealdade: primeiro porque diversos dos líderes do atual governo já fizeram parte das administrações ou da relação política da FPA e do PT, conquistando seus primeiros mandatos conosco; segundo, porque diversos dos membros que lideram as atuais equipes também tiveram passagem pelas nossas administrações; e terceiro, porque vários dos servidores escolhidos para compor tais equipes de governo também marcharam durante anos ao nosso lado.
Se errávamos tanto ou éramos tão ruins assim, porque permaneceram conosco por tanto tempo?
Tenho dito, reiteradas vezes, que farei oposição de forma responsável, sem qualquer traço de revanchismo, rancor ou ódio. O que a oposição espera do atual governo é que faça o mesmo: governe com honradez, sem se desfazer das conquistas dos governos anteriores, ainda que sejam os governos de seus adversários. O que precisamos mesmo é do mínimo de lealdade. Bola pra frente e olhos no futuro que, se o trabalho for feito de forma digna, os resultados virão.
Sendo assim, deixemos a insegurança, a pressa e a ansiedade de lado. O povo saberá esperar o tempo suficiente para, se necessário for, começar a fazer as devidas cobranças. Nós, da oposição, também.