O povo quer feijão e não fuzil: o Rio de Janeiro também produz feijão agroecológico
A primeira colheita a gente não esquece! E se for de feijão preto no Rio de Janeiro e cultivado no sistema agroecológico, os motivos para comemorar são triplicados. Se o grão não pode faltar na mesa brasileira, o feijão preto é o queridinho dos cariocas.
Por Akemi Nitahara e Andresa Paiva
A primeira colheita a gente não esquece! E se for de feijão preto no Rio de Janeiro e cultivado no sistema agroecológico, os motivos para comemorar são triplicados. Se o grão não pode faltar na mesa brasileira, o feijão preto é o queridinho dos cariocas.
O cultivo do feijão preto no Sítio São José, localizado na cidade de Magé, na Baixada Fluminense, começou com o incentivo do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), para diversificar a produção no local. A experiência em 1 hectare plantado deu certo, com a colheita feita em agosto, e a família camponesa já prepara a próxima, que deve ocorrer em setembro/outubro.
As sementes crioulas foram doadas pelo MPA e trazem como característica o não uso de agrotóxico e a seleção manual com muito amor e atenção, um conhecimento passado localmente através das gerações. São sementes produzidas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas e indígenas, portanto, trazem em cada grão a sabedoria da terra e passam longe do controle das multinacionais de sementes.
O objetivo do cultivo no Sítio São José, além de produzir o feijão para comercialização, é produzir também sementes crioulas, parte do trabalho internacional da Via Campesina para dar autonomia aos camponeses e independência de governos ou das empresas multinacionais, setores que buscam apoiar apenas o agronegócio produtor de commodities.
A iniciativa faz parte também da campanha “Cada Família Adota uma Semente”, lançada pelo MPA em 2018 para promover esse grande tesouro, que gera autonomia, cultura e soberania alimentar para os povos. Isso tudo em meio à política de desmonte dos incentivos promovida pelo governo federal.
Após o veto do presidente ao Projeto de Lei da Agricultura Familiar (PL 735/2020) em julho do ano passado, a proposta tramitou novamente no Congresso Nacional e a chamada Lei Assis Carvalho II foi aprovada pelo plenário do Senado no dia 25 de agosto. O objetivo do projeto, que segue para sanção presidencial, é executar ações para diminuir os impactos socioeconômicos causados pela pandemia de Covid-19, que afetam agricultores familiares em situação de pobreza e de extrema pobreza.
Apontado como o país que mais planta e consome feijão no mundo, a produção brasileira basicamente atende à demanda interna. Segundo dados da estimativa de safra do IBGE, o Brasil produz cerca de 3 milhões de toneladas de feijão por ano, divididas em três safras. Porém, para 2021, a previsão do instituto é de uma redução de 7,4% em relação ao ano passado, alcançando 2,67 milhões de toneladas, o suficiente para atender no limite ao consumo interno.
A área plantada total de feijão no país é de cerca de 3 milhões de hectares. No estado do Rio de Janeiro, a área plantada de feijão é de 1,4 mil hectares e a produção chega a 1,5 mil toneladas.
De acordo com a Embrapa, o consumo anual de feijão no Brasil é de 14 quilos por pessoa. O feijão é um alimento rico em vitaminas do complexo B e possui compostos antioxidantes, que previnem algumas doenças. Além de ser rico em ferro, cálcio e potássio, o feijão ajuda a reduzir o colesterol e a regular a glicose no sangue. Combinados, arroz e feijão se complementam nas proteínas necessárias para uma alimentação saudável.
Feijão preto agroecológico produzido com sementes crioulas do Sítio São José. Em breve na Cesta Camponesa!