ONU – John Isaac

COP costuma ser assunto de especialistas, de pouco interesse para o público em geral. Mas, no Brasil, nunca se falou tanto de COP como agora, às vésperas da realização, em Belém (PA), da COP-30, a trigésima conferência sobre a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, assinada por chefes de Estado em 1992, no Rio de Janeiro. O evento chega à Amazônia 33 anos depois.

Quase todo mundo quer ir a Belém. Para quem vem de fora, é uma oportunidade única de estar na Amazônia, numa encantadora capital cheia de mangueiras e manguezais — além, claro, de milhões de paraenses. Para os que vivem ali, é hora de atrair, entre a multidão visitante, apoiadores para projetos mais duradouros.

Zona Azul

Zona Azul é o nome dado à área onde ocorrerá a reunião oficial. Um espaço nobre, com auditórios e restaurantes — uma verdadeira cidadela dentro da cidade. É lá que circularão as delegações e personalidades, onde se realizarão as reuniões formais e, talvez, se firmem novos acordos sobre o clima. É o foco da badalação.

Obras em Belém para receber a COP 30 | Alexandre Costa / Agência Pará

Os representantes oficiais dos governos têm presença garantida. Já os membros da sociedade civil e dos movimentos sociais precisam de um crachá específico, distribuído a conta-gotas e, no momento, objeto de desejo de muita gente. Afinal, viajar até Belém e não pisar na Zona Azul pode soar mal.

Isso significa que apenas algumas centenas ou poucos milhares de pessoas, entre as centenas de milhares que estarão em Belém, poderão acompanhar ou participar diretamente das negociações. Sem esquecer que há muitas cartas marcadas nesse jogo — e quem decide já deve ter decidido antes de ele começar.

Nem tudo estará azul nessa zona. Os Estados Unidos, maior emissor histórico de gases do efeito estufa e segundo maior emissor atual, estão, sob a presidência de Donald Trump, retirando-se novamente das negociações internacionais. O confronto entre Rússia e Ucrânia continua, e a paranoia da guerra espalha-se pela Europa, que tem investido pesado em armas em vez de combater a fome, a violência e o aquecimento global.

Txai Suruí discursa na cerimônia de abertura da Cop26, em Glasgow, Escócia

Até agora, a maioria dos países ainda não apresentou suas NDCs — as propostas que definem as medidas e metas de redução de emissões a serem cumpridas nos próximos anos. Apesar do agravamento da crise climática e dos prejuízos e sofrimentos que ela acarreta, poucos países aumentarão seus esforços. As perspectivas, principalmente para os povos mais vulneráveis, são sombrias.

Lado de fora

Não valerá a pena ficar muito tempo à toa na Zona Azul. Belém estará repleta de espaços alternativos, com eventos políticos e culturais, informações e debates essenciais, produtos da floresta, festas e gentes de todas as cores e amores. O Museu Emílio Goeldi estará aberto ao público, que poderá acessar parte do melhor conhecimento científico disponível sobre a Amazônia.

Milhares de representantes indígenas, quilombolas, afrodescendentes, extrativistas e agricultores familiares de toda a Pan-Amazônia estarão em Belém — e apenas alguns terão acesso à Zona Azul. Ainda assim, relatarão suas experiências no enfrentamento dos impactos da mudança climática em seus territórios. Também haverá manifestações massivas pelas ruas e praças da cidade.

Todos estarão torcendo para que a COP-30 seja um sucesso, que mais países apresentem suas NDCs e que se chegue a um acordo em torno de metas mais ousadas de redução de emissões. Espera-se ainda que mais recursos sejam destinados à adaptação dos países e povos mais vulneráveis às mudanças climáticas. Tomara que a China, maior emissora atual, e o Brasil, como anfitrião, anunciem novas medidas e ocupem os espaços vazios nas negociações.

Os processos multilaterais são complexos, penosos e lentos ao extremo. São as pressões de fora para dentro que podem movê-los. Tragédias climáticas despertam consciências, mas só o clamor das ruas é capaz de mover montanhas. Em todas as COPs, o melhor sempre esteve do lado de fora. Em Belém, não será diferente.