O golpe tava aí. Caiu quem quis…
O Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. O slogan é praticamente infalível. Apesar de vivermos sob a égide de um Estado laico, quem em um país de maioria cristã, a não ser os ateus convictos, poderia questioná-lo com maior veemência? Que brasileiro, de direita ou de esquerda, seria contra a sua própria pátria? […]
O Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. O slogan é praticamente infalível. Apesar de vivermos sob a égide de um Estado laico, quem em um país de maioria cristã, a não ser os ateus convictos, poderia questioná-lo com maior veemência? Que brasileiro, de direita ou de esquerda, seria contra a sua própria pátria?
Apropriar-se, em discurso, dos valores morais que são mais caros a maioria absoluta das pessoas (a crença em sua divindade, o amor à sua família e o respeito à sua pátria), bem como usurpar os símbolos nacionais é uma receita de sucesso. Funcionou no nazismo de Hitler, no fascismo de Mussolini e continua funcionando em todos os regimes totalitário-nacionalistas e/ou fundamentalista-religiosos.
Porém, trata-se apenas de charlatanismo político. Afinal, não há respeito à família por parte daquele que já se casou três vezes, abandonando as esposas para trocá-las por novinhas, tão logo a idade lhes roube a jovialidade.
Da mesma forma, não há respeito a Deus por parte daquele que desdenha e debocha do sofrimento alheio, que se omitiu em adotar as providências adequadas para evitar a morte de, ao menos, parte das mais de 470 mil vítimas da pandemia de covid-19.
Não há respeito à pátria por quem desrespeita a Constituição da República, incitando a população a atentar contra os membros das instituições democráticas ou tentando apoderar-se das Forças Armadas como se fossem suas. É como na conhecida e multicitada frase do literato inglês Samuel Johnson: “o patriotismo é o último refúgio do canalha.”
Além de apropriar-se de valores universais, o bolsonarismo finge, diuturnamente, se importar com a corrupção. Balela: o envolvimento do presidente e de sua matilha com milicianos e suas milícias, os funcionários fantasmas, as rachadinhas, os milhões de reais lavados com a compra de imóveis e em lojas de chocolate, a nova regra do teto salarial, o orçamento paralelo e as emendas parlamentares extra-orçamentárias provam que a corrupção só incomoda se for aquela praticada por seus adversários. Se for praticada por aliados, pode.
O charlatanismo político e o estelionato eleitoral, ambos praticados por Bolsonaro, apenas comprovam o que, de há muito, já se sabe: não se governa apenas com discursos, bravatas ou contendas. É necessário competência político-administrativa e técnico-gerencial para produzir bons resultados de governo.
Infelizmente, parte significativa da população ainda escolhe seus candidatos por critérios que não dizem respeito, diretamente, àquilo que de fato importa. Acabam escolhendo o mais bonito, o mais charmoso, o mais simpático, o amigão, o “100% popular”, com maior estrutura de campanha, mais dinheiro… Esquecem que eleições para cargos político-eletivos não são concurso para Miss Simpatia.
Popularidade, charme, simpatia e sucesso eleitoral nunca foram sinônimos de sucesso na gestão. O presidente Jair Bolsonaro, o governador Gladson Cameli e o prefeito Tião Bocalom são a prova disso: apesar de fenômenos nas urnas, nenhum dos três consegue apresentar resultados minimamente decentes de gestão. Isso porque nenhum dos três tem capacidade para tal. Não se prepararam para isso, nem sob o ponto de vista acadêmico e nem sob o prisma da experiência de vida. Sem querer ofender, mas, são apenas boçais, ignorantes, carentes de qualquer habilidade ou competência que lhes credencie a atuar como bons gestores. O golpe tava aí, caiu quem quis…