O avesso do avesso
As manifestações desse domingo, 26/05, convocadas em apoio ao governo Bolsonaro, foram significativas, mas, não tiveram o tamanho esperado.
O motivo oficial da convocação para as ruas foi manifestar apoio a reforma da Previdência e ao pacote anti crime do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).
Afora o inusitado de um “protesto a favor”, na rebarba, os manifestantes acabaram carregando um apoio involuntário a uma pauta extremamente negativa que ninguém, em sã consciência, apoia: Queiroz, Flávio, laranjas, milícias, gasolina a R$ 5,00, gás de cozinha a R$ 100,00, dólar a R$ 4,10, alta na inflação, nos juros e na maior taxa de desemprego dos últimos 30 anos são itens que se agregaram a pauta dos manifestantes e que explicam a baixa adesão da população.
Admitamos que alguma reforma da Previdência seja necessária. Que, de tempos em tempos, dada a elevação da expectativa de vida das pessoas, seja preciso rever a idade mínima, o tempo de serviço e o tempo de contribuição. Contudo, é inadmissível que, a pretexto de ajustar tais critérios e de se cortar privilégios, se queira aprovar uma proposta que prejudica categorias específicas de trabalhadores e os mais humildes beneficiários da assistência, da previdência e da seguridade social – produtores rurais, professores, idosos e pessoas com deficiência. Seriam esses aqueles que o governo Bolsonaro enxerga como privilegiados?
Também admitamos que, em uma hipótese remota, a reforma seja aprovada da forma como foi proposta pelo governo, na íntegra. A economia dela oriunda – de R$ 1 trilhão – seria gradual, ao longo de uma década, em escala de progressão geométrica: seria modesta nos primeiros anos, até chegar ao seu ápice nos últimos anos. Até surtir os efeitos desejados, o governo Bolsonaro já teria acabado.
Ocorre que os problemas de juros, inflação, câmbio, desemprego e desigualdade social elevados são presentes, necessitam de solução em caráter de urgência, aqui e agora. A reforma da Previdência não tem capacidade de resolvê-los de imediato.
Por esse motivo, dentre outros, é que a outrora altíssima popularidade do presidente caiu a uma velocidade até então inédita. Em apenas 5 meses de gestão, segundo levantamento do instituto XP, 36% dos eleitores já consideram o governo de Jair Bolsonaro ruim ou péssimo, e 34% o consideram ótimo ou bom. É a primeira vez que a XP mostra a desaprovação maior do que a aprovação. Uma demonstração clara de que os setores sociais que lhe facultam apoio começam a perder a paciência.
Nem mesmo as chantagens semanais de Paulo Guedes (Economia) têm surtido efeitos perante parlamentares que, a todo dia, desmascaram o discurso presidencial de que a dificuldade em aprovar suas propostas no Congresso Nacional decorre do fato de estarem tentando praticar uma “nova política”. Afinal, o que eles continuam praticando é o mesmo “mecanismo” de oferta e promessas de ministérios, cargos e liberação de emendas a deputados e senadores em troca de votos favoráveis às pautas do governo. O velho toma-lá-dá-cá da velha política de sempre.
Assim como ocorreu com o governador Gladson Cameli (PROGRESSISTAS), aqui no Acre, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito porque carreou, para si, o sentimento de mudança ante ao repúdio e a insatisfação da população para com a política de uma forma geral. A mudança veio, mas, com elas, não vieram as melhorias. Ao contrário, todos os números oficiais demonstram ter havido uma piora significativa, não só nos indicadores socioeconômicos, como também na qualidade da oferta dos serviços públicos.
Ainda há tempo para aprumar o rumo, arrumar o prumo, colocar o trem nos trilhos. Para isso, é necessário menos bravata e mais ação. Colocar de lado o chamado combate ideológico e a atenção no supérfluo para focar em medidas que tenham efetividade no combate aos reais problema da população. O povo, sobretudo os crédulos eleitores bolsonaristas, aguardam ansiosos. Ainda resta alguma paciência, mas, como tudo na vida, ela também tem limites.