No meio do caminho tinha um Coaf
Com esse modus operandi, acaba não sobrando tempo para se indagar ou perquerir sobre aquilo que deveria ser prioridade: quais são as propostas de políticas públicas que serão implementadas pelo novo governo pelos próximos quatro anos? Até agora, nem sinal delas.
A estratégia de comunicação e de relacionamento com a opinião pública adotada até aqui por Bolsonaro tem sido bastante eficiente. Porém, ela é de curta duração, posto que, sozinha, não se presta a satisfazer os anseios da população por mudanças concretas, além de já ter sido desvelada por diversos jornalistas, analistas políticos e internautas.
Desde antes da campanha eleitoral, prosseguindo agora no início do governo, o Presidente aposta na comunicação direta por meio de redes sociais. Para isso, usa de um linguajar leve, não raro em tom de deboche, com chavões, “memes”, slogans da campanha, enfim, todo um arsenal linguístico e argumentativo necessário para atingir aquilo que as gerações “Y” e “Millenium” convencionaram chamar de “lacração”. Além disso, volta e meia, prossegue instigando a violência, a intolerância para com os que pensam diferente e, o mais curioso: trabalha junto ao senso comum teórico coletivo da população a criação de inimigos imaginários (comunismo, viés ideológico, marxismo cultural), no melhor estilo adolescente “hater”.
Tudo isso, adicionado aos anúncios de medidas mirabolantes e absurdas, sempre seguidas de desmentidos e recuos, além de demonstrar uma certa falta de preparo para o mister governamental e para o múnus público, aparenta ter uma outra finalidade: gerar uma cortina de fumaça, através da qual ele consegue, ao mesmo tempo, distrair os opositores e descredibilizar a mídia, que perdem tempo debatendo e dando repercussão aos anúncios das medidas absurdas e mais tempo ainda repercutindo os desmentidos e recuos do Presidente, enquanto o Ministro da Economia, Paulo Guedes, fica sossegado para fazer o que a eles de fato importa: o desmanche do Estado de bem estar social, com medidas que, como nas palavras de Requião, promovem a desnacionalização, o entreguismo e a supressão de direitos do povo, tais como a reforma da previdência que abrange trabalhadores comuns, mas exclui militares, judiciário, ministério público, deputados, senadores e todos os demais privilegiados; a agenda de privatizações; os cortes no Sistema S; juros mais altos para o financiamento habitacional pela Caixa Econômica e… estamos apenas começando!
Se o Líder Maior se comporta de tal forma, não é de se estranhar que uma parte significativa de seus ministros também o façam: Onyz Lorenzoni, Damares Alves, Ernesto Araújo e Vélez Rodríguez parecem não só repetir a receita em suas próprias pastas como, em certas ocasiões, fazer parte da estratégia no sentido mais amplo do governo. Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse da Esplanada do Reich Bolsonarista são os mais frequentes em anúncios bombásticos, medidas polêmicas e – sobretudo e em grande quantidade – profusão de asneiras.
Com esse modus operandi, acaba não sobrando tempo para se indagar ou perquerir sobre aquilo que deveria ser prioridade: quais são as propostas de políticas públicas que serão implementadas pelo novo governo pelos próximos quatro anos? Até agora, nem sinal delas. Em 20 dias de gestão não houve nenhum anúncio de nenhuma medida concreta e significativa que possa gerar desenvolvimento: crescimento econômico, com geração de emprego, distribuição de renda, redução das desigualdades e promoção da inclusão social.
Ocorre que Onyx, Ernesto e Damares já viraram alvo da Rede Globo e de outros veículos da grande imprensa, como revide à declaração de guerra do Presidente à emissora e demais veículos por ele considerados como “rebeldes” ou não alinhados ao governo.
Onyx vem sendo alvo por conta de sua arrogância, petulância, prepotência e sucessivas descobertas de casos de corrupção por ele praticados. Em três semanas de governo ele já coleciona denúncias de um “dual core 2 duo” de caixa 2; passagens aéreas utilizadas na campanha eleitoral, mas, pagas com recursos de seu mandato parlamentar; e uso de notas fiscais frias para recebimento de verbas indenizatórias da Câmara dos Deputados. Pediu desculpas e o Ministro de Estado-Chefe da Passadoria Geral de Pano da República, Sérgio Moro, perdoou. Do contrário, já estaria fora.
Ernesto, além de já ter sido atacado por suas excentricidades, textos e posições polêmicas, foi alvo de críticas pela trapalhada na nomeação e demissão do Presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações – Apex; e pela divulgação de uma fake news sobre um almoço inexistente entre ele e os embaixadores da Bolívia e Itália, em que estariam tratando da extradição de Cesare Battisti. Detalhe: ambos os embaixadores negaram que o encontro tenha acontecido.
E Damares… Ah, pobre Damares! Já foi alvo de sucessivas e diárias matérias jornalísticas desairosas sobre, ao menos, três de suas declarações inusitadas: a de que viu Jesus na goiabeira; a de que agora estamos a ingressar em uma Nova Era, em que meninos vestem azul e meninas, rosa; e uma terceira, questionando a validade científica da teoria da evolução.
Dos quatro, por enquanto, só Vélez Rodríguez está sendo poupado. Mas, precisa explicar melhor a trapalhada com as mudanças nas regras do edital para aquisição de livros, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD; além da nomeação, seguida de instantânea exoneração, de um energúmeno designado para gerir o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, responsável, dentre outras políticas, pela elaboração e aplicação do ENEM.
O fato é que, em apenas três semanas, Bolsonaro acumula tantos recuos quantos são os seus dias no exercício do cargo de Presidente, o que demonstra, das duas, ao menos uma coisa: ou ele não acreditava que poderia ganhar a eleição e não se preparou adequadamente para este “momento”; ou ele, de fato, não sabe para que lado a banda toca, sequer imagina para que rumo direcionar o Brasil.
Por enquanto, o povo e sobretudo seus eleitores e admiradores seguem distraídos pelas medidas inócuas até aqui adotadas, tais como a edição do decreto que flexibiliza a posse de armas como se, doravante, os problemas de criminalidade, violência e segurança pública fossem resolvidos pelo fato de se poder ter uma arma guardada em casa. Essas mesmas pessoas continuam acreditando no Presidente, aplaudindo-o e repetindo o mantra do “mito” todas as vezes em que ele “lacra” no Twitter. Mas, não sabemos até quando. Porque, muito mais do que “lacração”, o que o povo quer mesmo é emprego, renda e o exercício de seus direitos e garantias fundamentais assegurados.
O que ninguém esperava era que, além de todas as trapalhadas e ausência de propostas, no meio do caminho houvesse um Coaf. E, junto com ele, um Queiroz, R$ 7 milhões, vários Micheques, 48 depósitos de R$ 2 mil cada em apenas um mês, um pagamento de R$ 1 milhão e várias cascas de laranja pra escorregar… Afora que, em 2 meses pós-eleições e 20 dias de Governo já teve Wal do Açaí, JBS, lista de Furnas, disparo ilegal de mensagens de zap com dinheiro de caixa 2 eleitoral, ocultação de patrimônio… Se investigarem mais um pouco vão descobrir que a facada foi fake, que tem milícia pelo meio e… Quem matou Marielle?