Na COP30, campanha expõe ao mundo a grave crise socioambiental que ameaça os povos do Cerrado
Um futuro onde a água vire luxo e até matar a sede exija racionamento já é realidade para o Cerrado.
por Bruno Santiago*
Essa é uma preocupação constante para a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. Por isso, dedicamos nossos esforços à proteção das águas, dos territórios e das vidas dos povos indígenas e das comunidades tradicionais que habitam o Cerrado brasileiro.
Conhecido como o “berço das águas” do Brasil, o Cerrado é essencial para a sobrevivência de nossa sociedade: abastece oito das doze bacias hidrográficas do país e mantém uma profunda conexão com outros biomas. As chuvas da Amazônia, por exemplo, estão intrinsecamente ligadas à capacidade de armazenamento de água no Cerrado.
No entanto, nas últimas quatro décadas, 91% das bacias hidrográficas dessa ecorregião sofreram redução em sua superfície de água natural. Essa perda impacta diretamente a disponibilidade hídrica, agravando a escassez em mais de 300 municípios brasileiros.
É urgente reconhecer que o Cerrado vive um processo de ecogenocídio, que não apenas dizima sua sociobiodiversidade e exaure seus rios e nascentes, mas também ameaça, expulsa e vitima os povos e comunidades tradicionais que nele residem.
Em 2024, a região voltou a liderar o ranking de desmatamento no Brasil, perdendo 652.197 hectares — mais da metade do total nacional. Desse montante, 75% da devastação concentrou-se no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Quem vive com os pés no chão do Cerrado sabe que essa destruição está diretamente relacionada às mudanças climáticas.
Os principais responsáveis por essa devastação são empresas nacionais e internacionais ligadas ao agronegócio, à mineração e à exploração de recursos naturais — além de estados estrangeiros e do próprio Estado brasileiro. Paradoxalmente, todos esses atores marcam presença na COP 30, promovendo discursos sobre um suposto desenvolvimento sustentável e propagando falsas “soluções verdes”.
Em meio à crise climática e à crescente aposta em soluções de mercado travestidas de ações ambientais, povos indígenas e comunidades tradicionais do campo, das águas e das florestas seguem sendo os menos ouvidos nos debates sobre o futuro do planeta. Paradoxalmente, são eles os mais impactados pelos grandes empreendimentos e pela devastação ambiental que avança sobre seus territórios e destrói nossa sociobiodiversidade.
Durante a COP 30, que acontece de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém (PA), esse cenário de invisibilidade tende a se repetir. Para confrontar essa exclusão e disputar espaços e narrativas, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado estará presente em terras paraenses, promovendo uma intensa programação de atividades abertas ao público, em espaços organizados pela sociedade civil, como a Cúpula dos Povos, a Casa COP do Povo e a Casa do Jornalismo Socioambiental.
Incêndios criminosos, crise hídrica, desmatamento e violência no campo são alguns dos temas que irão pautar as rodas de conversa e mesas de debate. Esses espaços contarão com a participação de representantes de povos e comunidades tradicionais do Cerrado e da Amazônia, além de pesquisadores, agentes pastorais e integrantes de diversas entidades.
Confira a programação completa:
11/11
→ 8h30 às 10h
Lançamento do Manual de Prevenção e Combate a Incêndios, elaborado pelas brigadas comunitárias do Cerrado.
Local: Casa COP do Povo — Travessa Piedade, 426, Reduto, Belém (PA)
Realização: Articulação Agro é Fogo (Atividade da programação da COP do Povo)
→ 14h às 16h
Roda de conversa “Eco-genocídio em pauta: no rastro do fogo e da seca no Cerrado, Amazônia e Pantanal”
Local: Casa do Jornalismo Socioambiental — Casa Carmina, Rua Arcipreste Manoel Teodoro, 864, próximo à Praça da República, Belém (PA)
Realização: Articulação Agro é Fogo + Campanha Nacional em Defesa do Cerrado (Atividade da Casa do Jornalismo Socioambiental)
12/11
→ 8h às 10h
Apresentação dos Dados Parciais de Conflitos no Campo 2025
Local: Centro Alternativo de Cultura, Auditório São Luís Gonzaga — 1º andar do Centro Santo Inácio, anexo à Capela de Lourdes.
Organização: CPT-PA
→ 8h30 às 10h
Mesa de debate: “COP 30 na Amazônia — Caminhos para a proteção de territórios e o enfrentamento das mudanças do clima”
Local: Casa COP do Povo — Área externa coberta (térreo), Travessa Piedade, 426, Reduto, Belém (PA)
Realização: Articulação Agro é Fogo, Rede MTI, FGVCES, GEMTI/COIAB e Coalizão Florestas e Finanças (Atividade da COP do Povo)
Transmissão online: bit.ly/cop30-amz
→ 13h30 às 15h
Oficina e debate: “Cartografia das Águas Mortas do Oeste da Bahia”
Local: Casa COP do Povo — Travessa Piedade, 426, Reduto, Belém (PA)
Realização: Campanha Nacional em Defesa do Cerrado (Atividade da COP do Povo)
13/11
→ 8h às 18h
Participação no Tribunal dos Povos, com apresentação de casos representativos das comunidades TI Karipuna (RO), Barra da Lagoa (PI) e Quilombo Grotão (TO).
Local: Ministério Público Federal — Auditório, Rua Domingos Marreiros, 690, Umarizal, Belém (PA)
Realização: COP do Povo
Participação: Articulação Agro é Fogo + Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
14/11
→ 8h às 14h30
Continuação do Tribunal dos Povos, com apresentação dos mesmos casos representativos.
Local: Ministério Público Federal — Auditório, Rua Domingos Marreiros, 690, Umarizal, Belém (PA)
Realização: COP do Povo
Participação: Articulação Agro é Fogo + Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
14 e 15/11
→ 14h às 16h
Participação na programação da Cúpula dos Povos (atividades do Eixo 1)
Local: Universidade Federal do Pará (UFPA) — Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, Belém (PA)
→ Roda de conversa “Crise climática e injustiça hídrica: alternativas para enfrentar o desmatamento, os incêndios e a morte das águas” (Enlace 2)
Realização: Articulação Agro é Fogo + Campanha Nacional em Defesa do Cerrado + FASE + MapBiomas + Ibon International
→ Mesa “Alimentando a vida: povos tradicionais lutando pela soberania climática e segurança alimentar” (Enlace 18)
Realização: Articulação Agro é Fogo, Rede das Águas de Coari e MPA
As atividades da Cúpula dos Povos ocorrerão nos dias 14 e 15/11, entre 14h e 16h. Assim que a confirmação exata de datas e horários for disponibilizada pela organização do evento, atualizaremos esta notícia.
*Bruno Santiago é coordenador de comunicação da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado