Sérgio Moro filiou-se ao Podemos em 10/11/21, lançando-se pré-candidato a presidente da República. O ato teve repercussão expressiva e o ex-juiz, de imediato, assumiu o terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, oscilando entre 11 e 13%, atrás de Lula (PT) e de Bolsonaro (PL) e à frente de Ciro Gomes (PDT). Parecia iniciar uma escalada que o levaria a superar Bolsonaro e chegar à disputa do segundo turno contra Lula, que se mantém à frente e pode vencer as eleições ainda no primeiro turno.

Foto: Marcello Casal Jr. | Agência Brasil

Porém, quatro meses depois, tudo indica que Moro retrocedeu em vez de avançar. Em uma pesquisa da Quest, divulgada na semana passada, Lula segue na liderança (45%) e Bolsonaro (26%) recuperou três pontos, enquanto Moro e Ciro aparecem empatados com 7%. Se Moro não reverter a tendência de queda rapidamente, poderá sofrer um processo de nanificação precoce e perder a condição de ampliar as dissidências do bolsonarismo.

Só existe um caminho para Moro não desmoronar: detonar o Bolsonaro. Ele não tem o que acrescentar na crítica ao Lula, tendo liderado a Operação Lava-Jato, que o levou à prisão. O poder de denúncia de Moro contra Lula arrefeceu, com a anulação das condenações de Lula pelo STF, o que o tirou da prisão e da inelegibilidade. Bater em Lula é garoar no molhado. O espaço de que dispõe para crescer é pela direita.

Estreiteza

Moro virou político, formalmente, quando assumiu o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, abandonando a magistratura. Ele não percebe que, como presidente, teria a função primordial de unir setores e perspectivas diferentes para poder tirar o país do abismo em que foi lançado. Só que a sua postura desagrega, ao ficar julgando adversários e aliados como se fosse o único político honesto do país. A questão que ele próprio suscita é: com quem pretende governar?

Foto: Antonio Cruz | Agência Brasil

Não há anjos nessa história, nem mesmo o Moro. Os milhões recebidos a título de consultoria, durante a sua estadia nos Estados Unidos, geraram forte polêmica. Não ficou claro o serviço prestado. A tentativa de obter o apoio do União Brasil (fusão do DEM com o PSL), eivada de especulações sobre sua ida para aquele partido, pouco tempo depois da sua filiação ao Podemos, deixou a impressão de que Moro troca de partido como se fosse de roupa. Mas houve um impasse em relação ao vice e as negociações fracassaram.

Houve ainda o episódio envolvendo o Mamãe Falei, então candidato do Podemos a governador de São Paulo, autor do áudio misógino sobre as mulheres ucranianas. A repercussão negativa o obrigou a desistir da candidatura e ele corre o risco de perder seu mandato atual de deputado estadual. Além de fragilizar o partido, o episódio deixou Moro sem palanque no estado com maior eleitorado.

Moro também passa a impressão de monotonia programática com o discurso anti-corrupção. Vez por outra, tenta abordar outros temas ou apresenta propostas, mas parece repetir formulações alheias, sem transmitir muita convicção. As pesquisas mostram que a população não o identifica como parte legítima de outras causas. Como ministro, aceitou o esvaziamento do Ministério da Justiça, rifando os direitos das mulheres, dos povos indígenas, de outras minorias e os direitos humanos em geral, tão machucados por Bolsonaro.

Hora da Verdade

O que muitos esperavam é que Moro tivesse uma bala de prata, capaz de ferir Bolsonaro de morte. Tendo participado de um governo com tantos maus resultados, da saúde ao meio ambiente, da crise econômica à produção de miséria, da falta de obras à desestruturação das leis, das políticas e das instituições públicas, seria de se esperar que ele, assim como outros dissidentes que o apoiam, dispusessem de um grande arsenal. Mas, até agora, Moro não mostrou a que veio e mais parece um cúmplice desses males. Falta-lhe pegada crítica e projeto político, sobrando ressentimento pessoal.

Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

No seu lançamento, Moro se beneficiou das dificuldades que o governador de São Paulo, João Doria, encontrou para fazer decolar a sua candidatura. Pela posição que ocupa, Dória deveria ser o nome mais forte da chamada terceira via. Moro ocupou esse vazio ao projetar-se, de cara, aos dois dígitos nas pesquisas, tomando do Ciro o terceiro lugar. Com Moro caindo nas pesquisas, voltam as especulações sobre outras candidaturas nesse campo, como a do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que perdeu para Dória as prévias do PSDB, mas agora está sendo convidado a se candidatar pelo PSD.

Também não será a posição de outsider (questionável para quem já foi ministro) que vai facilitar a vida de Moro. Diferentemente de 2018, a maioria dos eleitores parece não querer saber de aventuras e estar à procura de nomes mais experientes. A situação ficou urgente para Moro. Se não detonar Bolsonaro, não decola. Se não decolar, tende a ser engolido pelo pântano que virou a terceira via. O prazo legal para a definição de candidaturas começa em 2 de abril. Quem não mostrar viabilidade, vai perder o poder de agregar e acabar na poeira da história.