Juca Ferreira: “Não podemos ceder.”
Diante de qualquer tentativa de censura à arte, a única coisa a não fazer é ceder É lamentável a decisão do Santander Cultural de fechar a exposição Queermuseu, em Porto Alegre, depois de um ataque histriônico e autoritário de integrantes do MBL, grupo extremista de direita manobrado política e economicamente por legendas como o PSDB […]
Diante de qualquer tentativa de censura à arte, a única coisa a não fazer é ceder
É lamentável a decisão do Santander Cultural de fechar a exposição Queermuseu, em Porto Alegre, depois de um ataque histriônico e autoritário de integrantes do MBL, grupo extremista de direita manobrado política e economicamente por legendas como o PSDB e o PMDB.
Respondendo de forma açodada à manifestação obscurantista do MBL, o Santander Cultural feriu a Constituição Brasileira, que garante a “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Também feriu os princípios mais elementares da liberdade artística que, em nenhuma hipótese, admitem tutela na relação entre o público e a obra de arte.
É inadmissível que, no Brasil, ainda sejam praticados atos autoritários de interdição a obras de arte e a outras formas de expressão baseados na opinião de grupos moralistas, sectários, fundamentalistas religiosos ou simplesmente oportunistas, como é o caso do MBL – um movimento de feições fascistas empenhado em impor, em nosso país, o pensamento único baseado na mais retrógrada ideologia neoliberal.
Depois de décadas lutando contra a ditadura, a censura e o autoritarismo de Estado, a sociedade brasileira deve reagir com firmeza contra esse episódio. Devemos demonstrar, com clareza, total repúdio à escalada reacionária que ameaça a democracia e os direitos humanos em nosso país.
Os ecos do golpe de 1964 não nos deixam esquecer a tragédia de 25 anos de uma ditadura que se concretizou a partir da fabricação de um ambiente de instabilidade política, moralismo exacerbado, manipulação midiática e ruptura da coesão social. Não podemos nos enganar. A história se repete.
Hoje, como ontem, há um movimento organizado para subjugar o nosso país a interesses locais articulados com grupos econômicos internacionais. O caldo de instabilidade está cada vez mais denso, cada vez mais propício a investidas violentas e brutais. São muitas as tentativas de calar os artistas. Tentaram fechar o Ministério da Cultura, lembra? Não conseguiram, mas, na prática, sufocaram o ministério e estão inviabilizando as políticas culturais emancipatórias e bem-sucedidas dos governos Lula. Agora, tentam calar os artistas e amordaçar a arte, pois sabem que é por meio da cultura que as sociedades se defendem contra os ataques externos e contra as tentativas de romper sua soberania.