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Estamos no Brasil e, muitas vezes, fica difícil exercitar olhar para o futuro se no presente ainda estamos lutando por direitos básicos e pela garantia da vida. Mas se tem algo que tenho feito nos últimos tempos e que recomendo, é tentar tirar um pouco os olhos do que está acontecendo neste minuto, para pensar o futuro, ou os futuros. Há desafios agora colocados que impactam diretamente o futuro das pessoas pretas no país em diversas escalas e nesta coluna, quero me debruçar sobre a Inteligência Artificial.

Você já deve ter ouvido falar, ou pode estar, agora mesmo, utilizando algum dos diversos aplicativos já existentes em que a Inteligência Artificial se torna ferramenta de apoio. Pois o debate está cada vez mais acirrado e tem relação direta com a vida profissional e uma transformação profunda no mundo do trabalho. Há grupos diversos de pesquisas dedicados a compreender os aspectos negativos e positivos deste avanço tecnológico sobre o futuro de diversos setores. Embora existam divergências, todos apontam que haverá queda na empregabilidade das pessoas em função do uso da IA associada a outras formas tecnológicas, especialmente nas áreas de telecomunicações, finanças e indústria, com a automação.

Em 2013, um estudo dos pesquisadores americanos Carl Frey e Michael Osbourne apontava que 47% dos empregos no EUA poderiam ser substituídos por máquinas. Já em 2016, outra análise de Meliane Arntz, Terry Gregory e Ulrich Zierahn apontava que a potencialidade dessa substituição era de 9%. Mais recentemente, em 2019, outro estudo apontava que até 2030 haverá um equilíbrio entre perdas e ganhos: 20% para ambos os lados, com pequenas variações. Contudo, isso significa que um número gigante de pessoas serão afetadas – entre 40 e 160 milhões de mulheres e de 60 a 275 milhões de homens precisarão buscar outras ocupações, pois as suas seriam perdidas para automação.

Importante saber também que, no Brasil, pretos e pardos são apenas 9,9% dos profissionais de tecnologia e apenas 2% das startups brasileiras têm fundadores negros. O relatório do Fórum Econômico Mundial, 2018, com base na oitiva de empresários, aponta que haverá mais perdas de postos de trabalho do que ganhos. Já o relatório da McKinsey indica que os trabalhadores do setor de serviços correm mais risco de serem substituídos, cerca de 30%.

Vale lembrar que, no Brasil, o trabalho do cuidado cabe quase, na maior parte das vezes, às mulheres e não são remunerados, assim como a grande maioria daquelas que trazem o trabalho doméstico como profissão. Estas profissionais, geralmente, são precarizadas em seus direitos e sobrecarregadas, uma vez que dão conta das tarefas nos locais de trabalho e em seus lares, relegadas aos piores salários e à negação dos seus direitos.

Tudo isso nos leva a reflexão sobre o que ocorrerá com categorias que, historicamente, são precarizadas, como as trabalhadoras do serviço doméstico. Pesquisadores da Oxford, no Reino Unido, e da Universidade Ochanomizu de Tóquio, em estudo de 2023, apontam que 39% das tarefas domésticas poderão ser automatizadas nos próximos oito a dez anos. Eles listaram tarefas como manutenção da casa e do carro, pagar contas, passar roupas, entre outras, mas também pontuaram que os cuidados com crianças e com adultos estão entre os pontos críticos para serem automatizados.

Diante de tantas informações, não tão óbvias pelos dados, mas brutais pelo o histórico de precarização, cabe a reflexão sobre o que reserva esse futuro tão próximo para as trabalhadoras/es do Brasil?