“Gostaria de ser lido como alguém que inspirou outros jovens periféricos à escrita”, diz escritor e roteirista Stefano Volp
Formado em Jornalismo e especializado em Roteiro Audiovisual pela Academia Internacional de Cinema, Volp é autor de obras como “Nunca vi a chuva”, “Homens pretos (não) choram” e “O beijo do rio”
Machado de Assis, Itamar Vieira Junior, Abdias do Nascimento, Solano Trindade, Jeferson Tenório. A literatura brasileira é rica em escritores negros talentosos que revolucionam com suas poderosas narrativas. Hoje, entrevisto mais um desses destaques: o escritor e roteirista Stefano Volp. Formado em Jornalismo e especializado em Roteiro Audiovisual pela Academia Internacional de Cinema, Volp é autor de obras como “Nunca vi a chuva”, “Homens pretos (não) choram” e “O beijo do rio”. Atualmente, ele trabalha na adaptação audiovisual de todas as suas obras literárias.
Seu mais recente lançamento é uma distopia intitulada “O Segredo das Larvas”. Com referências afrofuturistas, Volp aborda questões contemporâneas como segregação racial, colorismo e desigualdades sociais. Em uma combinação de “Jogos Vorazes” e “O Conto da Aia”, “O Segredo das Larvas” explora um tema que muitas distopias evitam: a raça. Publicado de forma independente em 2019, o livro alcançou o primeiro lugar na lista de mais vendidos da Amazon na categoria de ficção distópica nacional. Agora, lançado pela Galera Record, o primeiro volume da trilogia chega aos leitores em uma versão revista e ampliada, com capa ilustrada pelo premiado Douglas Lopes.
Leitoras e leitores, com vocês, Stefano Volp:
Qual a sua relação com a escrita e a literatura?
Stefano Volp – A palavra escrita sempre me ofereceu uma forma de me enxergar no mundo. Alfabetizado pela minha mãe aos 3 anos, não tenho sequer memórias de uma época da vida em que eu não sabia ler. Meu futuro não seria distante das palavras. Me formei em Jornalismo e me especializei em cursos de escrita com o objetivo de me tornar um escritor profissional. A escrita é o que mais me move no mundo. Não sei como existir sem a literatura.
Há algum escritor ou escritora que tenha influenciado particularmente seu estilo ou abordagem?
Stefano Volp – Acredito que minhas referências foram se transformando com o passar do tempo. Na adolescência, as influências eram os best-sellers gringos e clássicos. Após adulto, comecei a curtir outras formas de ler e escrever. Hoje minhas maiores referências são Richard Wright, James Baldwin, Edouard Louis, Zora Neale Hurston, Conceição Evaristo, Mariana Salomão Carrara e Jeferson Tenório.
Por que é tão importante termos pessoas pretas no controle da narrativa?
Stefano Volp – Porque nos foi sequestrada a liberdade e autonomia de existir no mundo de forma humana e respeitosa. O direito de receber alfabetização e cidadania foram conquistados a preço de sangue pelos antepassados da população negra. Sem isso, seria impossível que eu pudesse ter um livro publicado hoje. Por essa memória, que é a minha, a nossa história, devemos continuar lutando pelo direito de escrever, pelos espaços e plataformas onde nossas histórias possam ser vistas, e pelo direito de reimaginar o futuro.
Qual obra você tem mais orgulho de ter lançado e por quê?
Stefano Volp – Todas têm uma história e um carinho especial. No entanto, HOMENS PRETOS (NÃO) CHORAM me orgulha muito por criar algo relativamente novo, que é trazer o debate das masculinidades negras para a ficção, em formato de contos, representando a multiplicidade dos homens negros.
Você tem algum projeto futuro do qual esteja particularmente animado? Pode nos dar uma prévia?
Stefano Volp – Meu próximo livro é uma ficção contemporânea que aborda violência doméstica e as diferentes formas que a população negra encontra para atravessar o luto. Estou super animado com este, apesar de estar curtindo muito o último lançamento, O segredo das larvas.
Você acha que a pauta racial avançou no Brasil?
Stefano Volp – Sim. No entanto, há um longo caminho a ser desbravado, temos muito chão para percorrer na luta antirracista. Tenho esperança de que a próxima geração avance melhor.
Qual legado gostaria de deixar?
Stefano Volp – Gostaria de ser lido como alguém que inspirou outros jovens periféricos à escrita, que teve coragem de explorar as diferentes facetas das pessoas (sobretudo, negras) e acolheu a comunidade queer em seus escritos, naturalizando as diferentes possibilidades de existir no mundo literário.