Somos o apogeu da famosa geração “nem nem” (nem estuda, nem trabalha) que encontrou em nós a expressão absoluta da palavra vagabundagem.

Somos aqueles ausentes intelectualmente, somos aqueles desprovidos de interesse. Somos os apáticos, os que mantêm relações virtuais e distanciadas, que não se tocam que não se encontram, que vivem a vida olhando a tela dos novos e modernos smartphones.

Somos os indomáveis, aqueles que não sabem conviver com autoridade. Somos os “ativistas de Facebook”, somos a geração que acha que “um like vai mudar o mundo”. Somos os revoltados e ao mesmo tempo os acomodados.

Todos têm muito o que falar sobre a atual juventude, como se a ideia de juventude fosse estática, facilmente definível.

Nossa sociedade lida com a juventude como se essa pudesse ser homogeneizada, como se um jovem dos Jardins fosse igual a um jovem do Capão Redondo. Como se juventude fosse alguma virose com rápido poder de alastramento que adoecesse jovens de 15 à 29 anos da mesma forma, entrando no barraco e na cobertura pela porta da frente.

Quanto mais eu leio e mais ouço falar sobre o que é essa “juventude”- usada no singular como categoria absoluta, mais me convenço que o IBGE não chega por onde eu ando.

Foto: Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA

Por onde eu ando as juventudes não são “nem nem”. Por onde eu ando as juventudes trabalham muito, estudam demais, quebram barreiras diariamente pra acessar conhecimento, fortalecer o entorno e ainda dar conta da própria saúde mental. Por onde eu ando meninas das periferias falam sobre os limites de seus relacionamentos, sobre o direito ao seus corpos, sobre como a falta de oportunidade as afastam de muitos lugares.

Por onde eu ando a molecada desinteressada ocupou mais de mil escolas.

Por onde eu ando, no virtual e no material (sim, porque real são os dois) a galera está sedenta por conhecimento, a galera está comprando mais livro que roupa, a galera está criando cultura, fazendo slam, estudando para o vestibular, trabalhando meio período pra ajudar em casa e comprar cabelo sintético pra se trançar e lutar contra o auto-ódio que alimentou sua vida inteira.

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Foto: Mídia NINJA

Quanto mais eu ouço os pessimistas digitais, que bravejam sobre como a tecnologia está destruindo a geração e afastando os seres humanos, mais percebo que tem muita gente que não está entendendo nada e talvez, estejam até preocupadas com as possibilidades que essas novas formas de existir nos ofereceu.

Vale a pena sempre enfatizarmos que juventude não é um dado biológico, é uma categoria social, e não pode falar ou ser tratada como se estivesse descolada de uma realidade total, como se a juventude de hoje não fosse reflexo pro bem e pro mal, de todas as outras categorias de idade que coexistem.

Vamos perder o costume de apontar e falar sobre “a juventude de hoje”, “a geração de vocês”, vamos parar de tirar o corpo fora como se fôssemos todos pequenas ilhas divididas pela data de nascimento ou pelas definições alfabéticas de X, Y, Z.

As incansáveis tentativas de classificar, engessar, homogeneizar e criticar as juventudes brasileiras de uma forma pessimista me cheira muito mais a medo do que abordagem analítica.

Geração “nem nem”: nem vi, nem ouvi falar.