Gabinete do ódio aniquila ministros e ministérios
Não é à toa que as oposições estão desarticuladas. Precisariam de muita ousadia, virulência e irracionalidade para conseguir atingir o governo com um efeito deletério comparável ao que consegue o tal gabinete do ódio, comandado por um dos filhos de Jair Bolsonaro.
Não é à toa que as oposições estão desarticuladas. Precisariam de muita ousadia, virulência e irracionalidade para conseguir atingir o governo com um efeito deletério comparável ao que consegue o tal gabinete do ódio, comandado por um dos filhos de Jair Bolsonaro. A quantidade de crises graves e sucessivas promovidas pelo presidente dentro do próprio governo só nos últimos dias – ministérios da Saúde e da Justiça, Polícia Federal, Secretaria da Cultura – em plena pandemia, provam a condição politicamente paranóica e suicida e a agressividade insuperável de Bolsonaro.
Por um lado, a produção de crises intestinas em série permite ao presidente desviar a atenção do público dos efeitos trágicos da epidemia, que já matou mais de 8,5 mil brasileiros. O seu desempenho pessoal diante da tragédia, de fazer pouco caso das vítimas e de boicotar a diretriz de isolamento social, amplificando o contágio e o número de vítimas, está sendo pessimamente avaliado no Brasil e no mundo e já está erodindo o apoio ao presidente mesmo entre os seus eleitores.
Por outro lado, é absurdo o desgaste e a perda de energia causados pela autoflagelação do governo. Ministros e outros dirigentes que não estejam alinhados ao gabinete do ódio são vistos e tratados como suspeitos pelo presidente, ao mesmo tempo que vão ficando cada vez mais identificados fora do governo como meros cúmplices da situação. O desconforto é grande.
Vejam que o governo não tem nenhuma realização administrativa positiva a apresentar, seja de que área for. E o que costuma apresentar como resultado, as reformas trabalhista e previdenciária, foram, na verdade, medidas legislativas, das quais o governo não foi capaz de extrair o resultado anunciado, de geração de milhões de empregos e de retomada do crescimento econômico. Aconteceu o contrário, multiplicado pela epidemia.
Quem acha que a loucura governamental já está demais da conta que se prepare, porque vem mais pela frente. Que o diga a namoradinha Regina Duarte, secretária especial de Cultura, administrativamente estuprada pela nomeação-demissão de um maestro fundamentalista para a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Regina foi almoçar com Bolsonaro para entender a operação, que deixou um ovo de serpente de Carlos Bolsonaro na Funarte. Seria tudo muito normal num país tropical, se não fosse justamente essa turma do gabinete do ódio que promete degolar definitivamente a atriz.
Outra dama que pode levar pau é a Teresa Cristina, ministra da Agricultura. Isso porque a sua presença no governo está sendo vista como inútil. A essas alturas, ela já não tem mais o que fazer para tentar compensar a insanidade ideológica militante do chanceler, dos filhos e do próprio presidente em esculhambar gratuitamente os principais parceiros comerciais do país para bajular o principal concorrente. O que vai dar ou deixar de dar comercialmente, vai depender muito mais de condições econômicas – produção, câmbio, demanda – do que da ação da ministra.
No entanto o secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, está à espreita. Sempre quis ser o ministro e deve estar achando que é agora ou nunca. Sendo seu secretário, conspira abertamente contra a ministra e tem como trunfo a perspectiva de ampliar a grilagem oficial de terras em massa, com a eventual conversão em lei da Medida Provisória (MP) 910, que permitirá a transferência, a baixíssimo custo, de milhões de hectares de terras públicas para grandes grileiros. A grilagem oficial, que tem hoje Nabhan como principal defensor, é um projeto muito mais compatível e promissor com um governo criminoso e predador.
Mas o gabinete do ódio quer mais, muito mais! Por exemplo, quer as cabeças dos generais que ainda têm assento no Palácio do Planalto. Pelo menos da maior parte deles. Pelo menos do general Walter Braga Netto, que concentra poderes na Casa Civil e vem conduzindo a operação de aquisição do “Centrão” para evitar o trâmite do impeachment. A família presidencial vive um dilema: precisa de aliados no Congresso para abafar seus crimes, mas não quer, ou finge sofrer por ter que querer, acobertar e acumpliciar os crimes deles. Os filhos do presidente querem a cabeça dele, mas é o Braga quem ainda segura a cabeça deles. Grande bateção de cabeças!
O desgaste intestino do governo, potencializado pelo presidente, começa a dar sinais de que está se tornando insuportável, até para o intestino do presidente. Em 5/5, rolou a seguinte nota em O Antagonista: “Jair Bolsonaro afirmou, no pronunciamento do fim da tarde no Palácio da Alvorada, que está cansado depois de receber tanta “pancada”. Ele não falou claramente, mas deu a entender que estava se referindo ao exercício da Presidência da República. “Não pensem os senhores que isso não é desgastante. É desgastante para mim. A família sofre, os filhos sofrem, quem está do meu lado sofre… É o tempo todo pancada”, complementou.
O dano que o desgoverno Bolsonaro causa ao país é avassalador. A perda evitável de milhares de vidas pela epidemia é apenas o seu mais trágico e presente indicador. Quanto mais tempo de Bolsonaro no governo, maior o dano. Nesse sentido, a nota citada, se não for fake, pode representar uma tênue esperança.