Fora do Eixo e Mídia NINJA: estado permanente de vigília e ação
Uma movida, um levante do Brasil profundo.
A rede de iniciativas sociais denominada Circuito Fora do Eixo e sua filha mais nova, a Mídia Ninja, completou doze anos de existência e realizou o seu VI Congresso, ocorrido entre os dias 21 e 24 de junho de 2018.
Essa rede nasceu no início do ano de 2006, como uma articulação de artistas e produtores culturais em torno da necessidade de intensificar a ação de suas bandas, festivais e de tudo que gira em torno da cadeia produtiva da música independente.
Passou, aos pouco, a agregar iniciativas de outras linguagens artístico-culturais, até inserir-se nos debates de construção de políticas públicas de cultura, como sujeitos ativos, atores sociais protagonistas destes processos.
Indo além, passou a se relacionar com iniciativas de temáticas distintas à cultura, bem como com outros movimentos sociais e entidades tradicionais da sociedade civil (de sindicatos e partidos políticos a novos movimentos sociais – NMS’s), tanto no Brasil, quanto nos países da América do Sul e em diversos países de outros continentes.
O VI Congresso Fora do Eixo e Mídia Ninja passou em revista toda a trajetória destas duas redes que congregam essas diversas iniciativas, a maioria das quais não podem sequer se classificar como Organizações Não-Governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade Civil (OSCs) ou mesmo como movimentos sociais. Muitos desses grupos (ou coletivos, como costumavam se intitular) não são sequer entidades, no sentido técnico-jurídico: não tem CNPJ, estatuto, dirigentes ou qualquer coisa que o valha ou que caracterize o paradigma jurídico das entidades da sociedade civil. A maioria delas sequer precisa ou sente necessidade de trabalhar no âmbito destes marcos de institucionalidade formal: são “organelas sociais” (que podem ou não se agrupar em células, órgãos e sistemas), que se articulam em redes, que se juntam a outras redes e assim por diante. O que tais iniciativas, tão plurais e díspares em suas temáticas, têm em comum? O experimentalismo e o progressismo, como pensamentos balizadores e fundantes de suas narrativas existenciais.
No dizer de Pablo Capilé, um de seus fundadores e maior articulador, o conjunto da obra, do acúmulo dessa trajetória representa “uma movida, um levante do Brasil profundo”. É uma “busca por um novo mundo possível”, que se constrói no desenvolvimento e ressignificação de tecnologias sociais (novas formas de relacionamento e convivência social, cultural, econômica e política a partir da apropriação e uso da tecnologia pelas massas) na busca pelo usufruto e pelo exercício de direitos e garantias sociais de novíssimo tipo, de 4a ou 5a geração/dimensão.
Negritude, periferia, ativismo digital, cultura hacker, contracultura, latinidades, feminismo, midiativismo, midialivrismo, inserção dos novíssimos movimentos sociais na política eleitoral como estratégia de ocupação de espaços foram somente alguns dos temas debatidos nos quatro dias do congresso, dentre muitos outros.
Como militante fundador e atual colaborador e entusiasta dessas redes, verdadeiras trincheiras da resistência em tempos de golpismo e retrocessos democráticos, atendo a mais um chamado para um “estado permanente de vigília e ação”, visando retomar a hegemonia do pensamento progressista na América Latina.