Embustes e engodos da chamada nova política
A solidez de uma liderança política se funda na luta social, nas experiências de gestão, na lida do parlamento, dentre outras vivências, coisas que nenhum curso pode substituir, apesar de muitos políticos atuais pensarem que sim
Por Daniel Zen e Francisco Afonso Nepomuceno
Tem muito político aqui no Acre – ao melhor estilo da deputada federal Tábata Amaral (PDT/SP) – achando que lideranças se forjam em cursos de programação neuro-linguística, de coaching ou em jornadas de formação do RenovaBR.
Tolos: a solidez de uma liderança política se funda na luta social, nas experiências de gestão, na lida do parlamento, dentre outras vivências, coisas que nenhum curso pode substituir.
É claro que todo curso ou formação ajudam. E muito! Seja graduação, especialização, mestrado, doutorado… Até mesmo uma palestra ou mesmo um simples e bom bate-papo, tudo contribui para a constituição do nosso arcabouço de conhecimentos e experiências. Contudo, nenhum curso, qualquer que seja ele, “forma”, forja ou legitima líderes.
A direita mundo afora – e nossa elite brazuca copiou tal equívoco – confunde líderes com executivos. Formar um executivo, um CEO em um MBA avançado tá longe de formar um líder. Luther King, Gandhi, Chico Mendes, Mandela, Lula… A lista é imensa. À esquerda e à direita, esses líderes se fizeram na arena ou esfera pública, no mundo da vida (para usar duas expressões da Escola de Frankfurt) lutando contra injustiças, crendo em mudanças, sendo portadores de causas e tendo na utopia o limite dos seus sonhos.
O ex-banqueiro Eduardo Moreira tem feito uma trajetória interessante, a contra pelo do que historicamente se vê.
Ele fez carreira no mercado financeiro, com muito sucesso. Como ele mesmo se auto define, é um profundo conhecedor das planilhas, gráficos, estatísticas, contabilidade, análises macro e microeconômicas, mercado futuro. Ainda segundo o próprio Eduardo, lhe faltava conhecer a dor da injustiça e agora ele resolveu conhecer a vida das pessoas que produzem a riqueza que ele ajudou a administrar fazendo os ricos mais ricos.
Periferias, favelas, acampamentos do MST, do MTST, comunidades rurais, aldeias indígenas, todos têm sido locais por ele visitados. O mega executivo percebeu que jamais seria um líder se continuasse decifrando as planilhas sem conhecer a dor da injustiça. Em síntese, líderes têm sabedoria e ela é oriunda das relações sociais e vivência, na maioria das vezes, com dor e sofrimento. Executivos têm conhecimento técnico. Eis a diferença. Ambos são importantes, mas um não substitui o outro.
É preciso, pois, cautela na hora de dimensionar a importância de certos modismos e até mesmo das redes sociais na política e para o exercício da democracia.
É necessário compreender a importância e saber manejar tais ferramentas. Mas, o resultado do Brexit, das últimas eleições presidenciais norte-americanas e das eleições presidenciais brasileiras de 2018 são exemplos de como as redes sociais – antes de se constituírem em moderno mecanismo de participação popular, de exercício da cidadania participativa e de democratização dos meios de comunicação – podem constituir uma arena propícia a fraudes, trapaças e trambiques digitais. Mas, isso já é tema para outro artigo.