E quem não viu que a porta do inferno abriu
E eles odeiam gente como nós
E o calafrio que hoje você sentiu
É o medo que faz a gente mais veloz
Eles Odeiam Gente Como Nós – Fresno

Nenhuma pessoa LGBTQIAP+  deveria sentir medo, vergonha ou algum desconforto para utilizar banheiros. É um direito básico de qualquer ser humano.

Lembro de várias vezes em que tive medo de usar banheiros públicos, principalmente quando tinha o cabelo raspado. Os olhares das outras mulheres dentro do banheiro para mim e meu corpo eram cruéis. 

Já passei alguns constrangimentos com frases como ” ah, achei que fosse banheiro de homem” ou ” o banheiro dos homens é do outro lado”. A pior situação que passei foi em um bar lá em Madureira (Zona Norte do RJ), uma mulher chegou pra mim e me proibiu de entrar no banheiro junto com ela porque na cabeça lesbofóbica dela, eu a iria agarrar lá dentro. Sendo que era um banheiro com duas cabines individuais. E sim né, com toda certeza eu saí da minha casa naquele dia para agarrar pessoas desconhecidas em banheiros ~ironia~

Já enfrentei problemas em uma empresa onde trabalhei, um dia uma outra mulher me viu entrando no banheiro e literalmente saiu correndo pra não ficar no mesmo lugar que eu, achando que eu poderia fazer algo contra ela.

Mas o que aconteceu comigo não é um caso isolado, várias pessoas LGBTQIAP+ encontram dificuldades para usar banheiros na rua. Conheço pessoas trans que tiveram problemas de infecção urinária por terem medo de usar o banheiro da rua e precisar esperar chegar em casa para usar o banheiro de casa. E também lésbicas que foram expulsas de banheiros de shopping por seguranças ou constrangidas sendo chamadas de “homem” por eles.

Nesta semana em Tauá no Ceará, Milene Pereira de Sousa uma lésbica negra, tentou utilizar um banheiro em um bar e foi agredida por um homem. Ela foi espancada pelo agressor e teve o joelho quebrado. Em entrevista para o “Bom Dia Ceára” , Milene desabafou dizendo que talvez não vá conseguir trabalhar por ainda não poder ficar muito tempo em pé. Além da dor da agressão, Milene poderá ficar sem renda no Brasil de Bolsonaro, onde pessoas não brancas pobres estão passando fome.

O que aconteceu com Milene foi lesbofobia, foi um crime! 

Ser uma pessoa que foge da norma padrão, da heteronormatividade, do que se espera ser mulher/ser homem é sair de casa e enfrentar problemas para usar o banheiro, algo bem normal para pessoas heterossexuais cisgenero.

 Com o avanço do bolsonarismo fascista no Brasil, as pessoas estão perdendo mais ainda a vergonha de serem lgbtqiap+fobicas. Elas estão sendo legitimadas pelo Estado para atacarem tudo aquilo que consideram como “inimigo”. 

O Brasil é um dos países que mais mata pessoas LGBTQIAP+. A cada 19 horas uma pessoa LGBTQIAP+ é morta no Brasil de acordo com uma pesquisa do Grupo Gay da Bahia. E 77% das vítimas de homicídio são pessoas negras de acordo com uma pesquisa.

Ninguém deveria sofrer para utilizar o banheiro, é um direito básico!

Todo o meu apoio a Milene e que mais nenhuma outra lésbica tenha que passar por esse tipo de violência.

Daqui, vou seguir utilizando a comunicação como ferramenta de transformação social!

E todo o dia a morte testa a minha sorte
Mas eu não sou um bicho fácil de abater
(Fresno)

Até a próxima! Seguimos