É dando que não se recebe
O “Centrão” é um direitão vendilhão, cuja versão original, dos tempos da Constituinte, era encarnada e trombeteada pelo vozeirão do saudoso Robertão – deputado federal Roberto Cardoso Alves – que definia a filosofia do grupo corrompendo uma frase de, nada menos, que São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”.
O “Centrão” é a coqueluche política do momento. A sua aquisição pelo governo Bolsonaro é apontada como a grande obra política do general Walter Braga Netto, chefe da Casa Civil. E o presidente já avisou seus ministros que deve cair fora do governo quem resistir a rifar auxiliares para dar lugar aos indicados dos novos aliados, sendo que um primeiro lote de nomeações estará no Diário Oficial até sexta-feira.
O “Centrão” é um direitão vendilhão, cuja versão original, dos tempos da Constituinte, era encarnada e trombeteada pelo vozeirão do saudoso Robertão – deputado federal Roberto Cardoso Alves – que definia a filosofia do grupo corrompendo uma frase de, nada menos, que São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”.
Mas o gesto mais exemplar do caráter do “Centrão” foi o do senador Ciro Nogueira que, em 11 de maio de 2016, tomou café da manhã com a até então presidente Dilma Rousseff e, em seguida, dirigiu-se ao plenário do Senado para votar pelo impeachment dela. Uma canalhice refinada!
Refinado também acabou sendo o Gilberto Kassab, que iniciou-se politicamente como discípulo do Paulo Maluf e depois foi pulando de galho em galho até constituir um feudo partidário próprio, o PSD, disponível a todo e qualquer governo. Kassab visitou Bolsonaro e nem foi infectado pelo coronavírus.
Quem não está nem aí para esse papo de refinamento é o Roberto Jefferson, do PTB, que se notabilizou ao denunciar o “mensalão”, do qual era então um dos beneficiários. Ressurgiu agora na cena defendendo a demissão do Sérgio Moro.
Nos bastidores, porém, quem se destaca na oferenda do “Centrão” para o general Braga é o deputado Átila Lins (PP-AM), que fala em nome de grande parte do baixo clero e em negócio no atacado, em cujo bojo ele quer obter o apoio de Bolsonaro para suceder ao Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara.
O que todas essas gracinhas têm em comum, além da sofreguidão fisiológica, são os rabos presos em processos e investigações relativos à Lava Jato e, por conseguinte, um ódio específico a Sérgio Moro, o que até há pouco era um ponto em comum com o PT. Mas agora, com a proliferação de inquéritos contra Bolsonaro, seus filhos e apoiadores e com o seu rompimento com Moro, viabilizou-se um casamento quase perfeito. Digo “quase” porque o Diário Oficial ainda não trabalhou para efetivá-lo.
Seria muito instrutivo encaminhar para as redes dos bolsominions a lista completa dos novos integrantes da base parlamentar do governo, com as respectivas fichas corridas, para que eles tenham uma noção da fétida areia movediça em que seu mito se debaterá daqui para a frente. Que frente?
No mês passado, o general Heleno emocionou os golpistas da extrema direita com um tremendo “Foda-se!”, dedicado aos congressistas “chantagistas” que queriam fazer valer as suas emendas ao orçamento. De agora em diante, ele vai ter que cuidar mais da própria retaguarda, pois a galera do “Centrão” anda dizendo que “quem fode por último, fode melhor”. Eu não sei de nada disso não.