Dia da Visibilidade Trans: vitórias e derrotas que impactam a comunidade

Uma data para a celebração de vidas trans, mas também de alerta, conscientização e luta pelos direitos da comunidade transgênero no Brasil

29 de janeiro é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, uma data para a celebração de vidas trans, mas também de alerta, conscientização e luta pelos direitos da comunidade transgênero no Brasil. Essa data é celebrada desde o ano de 2004 e, de lá para cá, muitas vitórias foram conseguidas, no âmbito político e social.

No último ano, por exemplo, tivemos um audiovisual repleto de pessoas transgêneros desfilando nas telas, do cinema à TV. Como é o caso de Karla Sofía Gascón, a primeira atriz transgênero indicada ao Oscar, com a interpretação de Manitas, um traficante mexicano que se transforma em Emilia Pérez, que dá nome ao longametragem.

Na televisão brasileira podemos dar destaque para as atrizes Gabriella Lorran e Galba Georgia, que interpretaram respectivamente Maitê e Natasha, no remake da novela Renascer, da TV Globo, em horário nobre. Já em Beleza Fatal, novela produzida pela plataforma de streaming Max, a atriz Pepita interpreta a personagem Bel.

Na política também não poderia ser diferente, com a deputada federal Erika Hilton se consolidando como uma das protagonistas das narrativas no Congresso Nacional, assim como a também deputada federal Mineira, Duda Salabert, e a vereadora de Niteroi, Benny Briolly, que defendem a pauta da comunidade e dos direitos humanos.

Mas, infelizmente, não temos apenas comemorações no Dia da Visibilidade Trans, muito ao contrário. Pelo 16º ano consecutivo, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Um levantamento realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) revela que, no ano de 2024, 122 pessoas trans foram assassinadas no país, sendo que cinco eram defensoras de direitos humanos.

O estudo da Antra mostra que houve uma queda em relação ao ano de 2023 de 16% no número de assassinatos de pessoas trans, que, naquele ano, ficou em 145 casos. No entanto, nenhuma morte é tolerável e, como já de costume, 117 (95,9%) pessoas assassinadas eram mulheres trans, contra cinco homens trans que tiveram suas vidas ceifadas.

Apesar da redução, o cenário ainda é adverso. A vítima mais jovem tinha apenas 15 anos e, como se fosse uma lógica social, o perfil majoritário das vítimas são e jovens trans negras, empobrecidas, nordestinas e assassinadas em espaços públicos, com requintes de crueldade.

Em 2024, dos 86 casos em que foi possível determinar a raça/cor das vítimas, pelo menos 67 casos, 78% das vítimas, eram pessoas trans negras (pretas e pardas de acordo com o Estatuto da Igualdade Racial), explicitando ainda mais os fatores da desigualdade racial nos dados de assassinatos contra pessoas trans.

O Dia da Visibilidade Trans é um lembrete de que ainda a sociedade tem uma dívida com essas pessoas e temos muito trabalho pela, mas também uma celebração das conquistas e da força da comunidade trans na busca por um futuro mais justo e igualitário para todos.

*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é vereadora licenciada e Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro.