D. Pedro II, Getúlio, Juscelino e Lula
Na história do Brasil, entre os chefes de Estado, analisando sob o ponto de vista da importância que deram às artes e à cultura, se destacam D. Pedro II, Getúlio Vargas, Juscelino e Lula.
O poder político, para representar plenamente a nação, há de reconhecer a grandeza e a importância das artes e da cultura.
Os políticos, sejam eles populistas, demagogos, democráticos ou apenas sensíveis, devem saber compartilhar a cena nacional com os artistas, criadores e fazedores de cultura em geral.
Na história do Brasil, entre os chefes de Estado, analisando sob o ponto de vista da importância que deram às artes e à cultura, se destacam D. Pedro II, Getúlio Vargas, Juscelino e Lula.
Com diferenças marcantes nessa relação, eles reconheceram a importância da cultura em geral e das artes para a construção e o desenvolvimento do país. Esses quatro estadistas, cada qual à sua maneira, demonstraram ter crença na grandeza da nação e muito afeto pelo Brasil e sua gente.
Juscelino acreditava no Brasil, na sua grandiosidade. Aliás, o Brasil nesta época acreditava em si mesmo e tinha confiança no futuro da nação.
JK não era um populista. Era um desenvolvimentista, o que não é pouco neste país… Demonstrava, com palavras e gestos, que acreditava na grandeza do País e se via como um agente dessa grandeza, pelo viés do desenvolvimento.
JK tinha fortes ligações com as artes brasileiras e com os artistas de sua época: Portinari, Oscar Niemayer, Villa-Lobos e muitos outros. Seu chefe de imprensa era o escritor Autran Dourado. Foi amigo de Villa-Lobos.
Durante o governo de Juscelino, o moderno e o novo refletiram-se na cultura nacional. A Semana de 22 tinha fertilizado o campo do simbólico brasileiro e a era de JK foi um renascimento, com muita força daquele ambiente criativo.
O mundo, nesta época, vivia muitas rupturas e revoluções culturais, o que estimulava e favorecia os artistas e criadores brasileiros.
Nessa época, surgiu a bossa nova na música popular brasileira, cujo termo tornou-se comum nos anos 60, simbolizando o que era novo e moderno. JK mesmo foi chamado de “presidente bossa nova”, por seu espírito jovem e empreendedor.
Nos chamados anos JK, tivemos a consagração mundial do Cinema Novo e também foram criados o Teatro de Arena e o Oficina e lançados, na literatura, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Laços de Família, de Clarice Lispector, e Encontro Marcado, de Fernando Sabino.
Foi quando nasceu o concretismo de Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos.
A imprensa também evoluiu muito no período. Destaque para o JB.
Juscelino manifestava e irradiava uma grande confiança no país e um inquestionável amor e admiração pelo Brasil e sua cultura.
A memória e a recuperação da nossa história são fundamentais. Principalmente neste momento, em que o Brasil está sendo envolto por tanta mediocridade e boçalidade. Momento de negação da arte e da cultura brasileira, de desmonte e demolição de todas as conquistas culturais, de rejeição ao ato criativo, da tentativa de restabelecer a censura e de uma feroz tentativa de reduzir nossa grandeza.
O país, para recuperar sua força e sua vitalidade, terá que recuperar criticamente o nexo com o seu passado, revalorizar sua singularidade como povo e como nação, manifesta em sua arte e sua cultura para restabelecer plenamente sua confiança no futuro.
Querem nos fazer ver o país a partir de um espírito colonizado, subalterno, definido por um amontoado de boçalidades e miudezas nitidamente para nos fazer perder a autoestima.
Os ataques às artes e a narrativa pobre e colonizada que essa extrema direita autoritária e pobre de espírito está impondo ao país são uma ação consciente, uma tática de guerra híbrida.
Esta estratégia medíocre quer passar o Brasil à limpo, apagando, como se fossem nódoas, todos os registros e marcas da nossa singularidade como povo e como nação.
Tentam, em vão, demonizar e desmerecer todos os traços da contribuição africana e dos povos indígenas à nossa identidade e, sistematicamente, desvalorizam a nossa rica diversidade cultural.
Eles demonstram um enorme mal-estar diante das liberdades presentes na nossa cultura e na nossa maneira de ser.
Além do fato de serem ignorantes, colonizados, incultos, os arautos dessa direita neoliberal e autoritária não conseguem compreender que as artes, os saberes e fazeres, incluindo a ciência e os saberes tradicionais, são os verdadeiros pilares da civilização.
O Brasil é bem maior do que esse projeto medíocre e, mais cedo ou mais tarde, nos livraremos desse pesadelo. As artes e a cultura serão importantes para a reconstrução do país e para sua transformação.