Comitiva brasileira se porta como uma república de bananas em terras de Tio Sam
É muito humilhante, para qualquer brasileiro, favorável ou contrário a Bolsonaro, ver o Presidente de seu país arriando as calças e ficando de joelhos para as autoridades de um outro país, quem quer que sejam elas, mesmo que se trate de um aliado e parceiro comercial.
A primeira missão oficial de Bolsonaro aos EUA como Presidente da República foi decepcionante, desastrosa e frustrante.
Em um misto de diplomacia sabuja, entreguismo e vira-latice, com pitadas de alta traição nacional, o Brasil voltou com saldo negativo na bagagem: dispensou os americanos de obter visto em viagens ao Brasil; entregou de bandeja o Centro de Lançamento de Alcântara – CLA; aceitou comprar trigo norte-americano com taxa zero e sem contrapartidas; e prometeu leiloar, em futuro próximo, áreas generosas do Pré-Sal. Em troca: absolutamente nada!
É muito humilhante, para qualquer brasileiro, favorável ou contrário a Bolsonaro, ver o Presidente de seu país arriando as calças e ficando de joelhos para as autoridades de um outro país, quem quer que sejam elas, mesmo que se trate de um aliado e parceiro comercial.
Ao dispensar o visto de americanos em viagem ao Brasil, o Presidente abriu mão de uma receita de R$ 60 milhões ao ano, obtida com a expedição de vistos para australianos, canadenses, japoneses e americanos. Não obteve, da parte de lá, um tratamento igual (o chamado princípio da reciprocidade), pois brasileiros com destino aos EUA continuarão tendo que pagar caro para obter seus vistos!
Ao mesmo tempo em que fez este gracioso e desnecessário gesto de benevolência com o “primo rico” Tio Sam, o Presidente espinafrou brasileiros que emigraram para os EUA. Ao invés de lutar pelos seus compatriotas e tentar colaborar para regularizar tais situações, afirmou que a maioria dos imigrantes não têm boas intenções para com os EUA, quando todos sabem que a ampla maioria deles saem de seus países em busca de trabalho. Pior ainda: o Presidente firmou acordo para facilitar a deportação de imigrantes brasileiros em situação irregular nos EUA, de volta ao Brasil.
Pergunto: que tipo de Presidente é esse que bajula o povo de outro país e maltrata os seus compatriotas? Não estamos falando de terroristas. Estamos falando de brasileiros que foram em busca de uma vida melhor e que, agora, vão contar com uma providencial ajuda de seu próprio país para que sejam deportados de volta para casa.
Não parou por aí. O acordo de “uso comercial” da Base de Alcântara para suposto lançamento de satélites norte-americanos é mais um passo na condição subserviente do Brasil para com os interesses intervencionistas dos EUA na Venezuela. Alcântara é no Maranhão, bem próximo da fronteira venezuelana. Sem fazer juízo de valor sobre a administração de Maduro ou a auto-proclamada presidência de Guaidó, defendo que os interesses da Venezuela devam ser soberanamente resolvidos pelo seu povo, sem intervenção militar estrangeira disfarçada de “ajuda humanitária”. Todos sabem no que essas “ajudas” americanas vão dar. Basta ver o resultado delas nos países do Oriente Médio. O interesse deles é no petróleo venezuelano e nada mais. E o Brasil, o que tem a ver com essa “rela” para estar facilitando a vida de Trump e sua trupe?
Pelo meio do caminho ainda surge uma “visita surpresa” (!!!) à CIA, a agência de inteligência e espionagem norte-americana. Certamente, ideia de Sérgio Moro, para acertar termos de novas “cooperações técnico-institucionais” para suposto “combate à corrupção”, onde segredos de estado, de posse de empresas estatais estratégicas, são entregues em troca de bagatelas de R$ 2,5 bilhões para que procuradores e magistrados de sua Lava Jato possam se locupletar com palestras milionárias e processos de “compliance” trilhardários. É a República de Curitiba assaltando os cofres da República do Brasil, à luz do dia, em missão oficial, para fazer caixa 3 e viabilizar pretensões políticas de seus membros.
Os prejuízos não são só de ordem moral, simbólica ou, simplesmente, migratória. Por conta desse “realinhamento estratégico” com os interesses estadunidenses, reduzimos nossas exportações para China (minério de ferro e soja), Países Árabes (aves, principalmente frango) e Mercosul (incluindo automóveis). A China é, hoje, o nosso maior parceiro comercial, responsável por 26% de todas as nossas exportações. Os EUA detém apenas 12% de nosso comércio exterior. Os yankees agradecem, pois passarão a fornecer, à China, a soja que o Brasil fornecia. E nada de espaço para que eles comprem nosso aço, nossa carne, nosso metanol…
Mas, não se podia esperar coisa diferente de uma comitiva cujo ministro da Fazenda, em seu discurso perante a Câmara de Comércio Brasil-EUA, suplica, quase que de joelhos, para que os EUA permitam que o Brasil ingresse na OCDE. E ainda diz que o impedimento anterior se dava porque o país estava “pulando com a perna esquerda” e, agora, “pula com a perna direita”.
Para reforçar a sua condição subserviente e justificar o pedido, o ministro afirma que ele e o Presidente “gostam muito da América: de jeans, de Coca-Cola e da Disneylândia”. Tudo em casa, ora bolas, carambolas! E pra arrematar, disse: “Por favor, deixem-nos entrar na OCDE. Os EUA são a única barreira para isso. Mas se não der, tudo bem, sem problema. Vamos em frente”. Algo do tipo: “Tô pedindo por favor, mas, vocês só dão se quiser…” A propósito, a condição imposta por Trump para que o Brasil ingresse na OCDE é que o país abra mão de seu tratamento comercial diferenciado de país emergente perante a OMC, o que não equivale a dar um anel para ficar com o dedo: trata-se de escolher com qual dos polegares você deseja ficar.
A inspiração para uma fala tão risível do ministro Paulo Guedes deve ter advindo do próprio Presidente. Depois do filho Eduardo ter dito que os imigrantes “ilegais” são uma vergonha; e do pai Jair já ter mentido sobre a hospedagem em Blair House e sobre ser o primeiro governo brasileiro dos últimos 30 anos “favorável” (what the fuck does It means???) aos EUA, o Chefe-de-Estado brasileiro teria afirmado, no jantar dado em homenagem ao “guru” Olavo de Carvalho, os seguinte: “O Brasil caminhava para um socialismo. Nos livramos da ideologia nefasta de esquerda.”
Nefastos, se é que podemos utilizar tal expressão para designar qualquer ideologia política, são os extremismos, Senhor Presidente, sejam eles de esquerda ou de direita, coisa que nunca fomos. Contudo, Vossa Excelência é um digno representante da extrema direita racista, misógina, homofóbica e supremacista. Portanto, Senhor Presidente, ao invés de estar fazendo o Brasil e o povo brasileiro passar vergonha no “estrangeiro”, digo o seguinte: vá tomar um golden shower! E PT saudações!