Com quantos alertas vermelhos se faz uma autodestruição?
O 6º relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) intensifica o alerta sobre a aceleração das mudanças climáticas devido à ação humana e seus efeitos, muitos deles irreversíveis pelos próximos milênios.
O 6º relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), publicado no último dia 07 de agosto, intensifica o alerta sobre a aceleração das mudanças climáticas devido à ação humana e seus efeitos, muitos deles irreversíveis pelos próximos milênios.
Uma das falácias dos negacionistas é que as mudanças climáticas que estamos observando são naturais, porque a Terra já passou por outras eras de climas extremos e muito diferentes dos atuais. No entanto, o relatório do IPCC afirma que é inequívoco que foram atividades humanas que aumentaram a temperatura da atmosfera, do oceano e da terra.
Os dados não permitem nenhuma relativização: cada uma das últimas quatro décadas viu sucessivos aumentos na temperatura, o que não aconteceu em nenhuma década anterior desde 1850. Ou seja, sim, o clima nunca foi estático, mas a sanha produtivista e extrativista tem acelerado as mudanças climáticas em níveis perigosos: dos 1,09 ºC graus que aumentaram desde o período pré-industrial, 1,07 ºC foi por atividades humanas. E mais: essas e outras mudanças não têm precedentes nos últimos 2.000 anos.
Então, quais são nossas perspectivas? O IPCC apresenta vários cenários de como ficará a Terra de acordo com o avanço do aquecimento global, e é importante notar: em todos os cenários, até mesmo no mais otimista, a temperatura da Terra continuará aumentando, o Ártico ficará sem gelo marinho pelo menos uma vez antes de 2050, desastres marítimos que antes aconteciam uma vez por século podem vir a ocorrer anualmente em vários locais até 2100, a crescente urbanização vai aumentar as ondas de calor, levará de séculos a milênios para que o nível do mar volte ao normal, as temperaturas médias na América do Sul continuarão a aumentar acima da média global, entre outros efeitos.
Para amenizar essas mudanças e garantir um mundo habitável nos próximos anos, não há outra opção a não ser limitar o aumento da temperatura em 1,5 ºC. Se continuarmos com essas altas emissões de gases do efeito estufa, estaremos caminhando para o abismo: o aumento de temperatura para esse cenário está estimado entre 3,3 ºC e 5,7 ºC.
Na verdade, já estamos caminhando para o abismo: o desmatamento da Amazônia está batendo recorde atrás de recorde; o Governo Bolsonaro, toda a direita e o Centrão estão atacando os povos indígenas e, consequentemente, a proteção que eles fazem de seus territórios, com projetos que legalizam a grilagem, a mineração e grandes obras em terras indígenas; incêndios são cada vez mais comuns no Pantanal; o desmatamento no Cerrado corresponde a quase 1/3 dos níveis no país, e por aí vai.
Se de um lado temos recordes no desmatamento, do outro temos recordes no lucro do agronegócio, podendo chegar a R$ 1,142 trilhão em 2021, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Seguindo essa linha de raciocínio, o crescente lucro do agronegócio gera fome ao enfraquecer a agricultura familiar. No mundo todo, 10% da população enfrentou a fome no ano de 2020, em comparação a 8,4% em 2019.
Além dos desastres naturais, as mudanças climáticas afetarão a saúde e as possibilidades de moradia de todes, entre outros impactos. Uma mudança radical na forma de organizarmos a sociedade e a produção precisa acontecer o quanto antes para recuperarmos os direitos da classe trabalhadora e oprimida e os direitos da natureza. Uma coisa não está dissociada da outra, e quem diz lutar por justiça social estará sendo irresponsável se não colocar a luta contra as mudanças climáticas no centro de suas ações.
“O feminismo que nos interessa é o feminismo compromissado com o direito à vida, com o bem viver, com a liberdade caracterizada pela responsabilidade com o outro e com a natureza”, escreve a deputada federal do PSOL Talíria Petrone no prefácio ao livro Feminismo para os 99% – Um manifesto. É isso que guia o mandato da Bancada Feminista do PSOL, e continuaremos nessa luta: tivemos uma grande vitória ao aprovar o dia 20 de setembro como Dia Municipal da Luta Contra as Mudanças Climáticas, em homenagem à primeira Greve Global pelo Clima, que ocorreu nesse dia em 2019; também continuamos na luta pela Frente Ambientalista na Câmara Municipal, seguimos incentivando a participação popular na gestão de parques, praças e áreas verdes, promovendo a agricultura familiar, lutando pelo fortalecimento da saúde pública e de políticas de moradia, e continuamos nas ruas para nos somar ao coro: Mude o sistema, não mude o clima!
Bancada Feminista do PSOL – mandata coletiva na Câmara Municipal de São Paulo composta pelas covereadoras Silvia Ferraro, Paula Nunes, Carolina Iara, Dafne Sena e Natália Chaves