Climatério: o que ninguém me contou e queria ter sabido
Vivemos pelo menos 1/3 de nossa existência no climatério, o período de transição entre a suposta fase reprodutiva e a não-reprodutiva da mulher. O que não me contaram sobre o climatério e adoraria ter sabido antes de vivenciar esta mudança?
Por Cláudia Guerra
A cada nova fase, outra face para as mulheres. Vivemos mais e pelo menos 1/3 dessa existência pode ser no climatério, o período de transição entre a suposta fase reprodutiva e a não-reprodutiva da mulher. Sem generalizar, compartilho a experiência de um corpo em trânsito, que expurga pelos poros e grita do útero.
O que não me contaram sobre o climatério e adoraria ter sabido antes de vivenciar esta mudança. E acredito que um coletivo com mulheres ajudaria muitas a viverem esse momento, com uma perspectiva de autoconhecimento e trocas de potências de ser com o que tem pra hoje a cada fase-face.
Na fase do puerpério (pós-parto), o lance foi bem tenso, o bebê vai crescendo e tendo autonomia, em um processo cheio de amor, cansaço e desânimo, ganhos e perdas misturados. Porém, parece que a “servidão voluntária” reduz um tiquinho. E olhe que em casa há divisão de tarefas e cuidados.
Na fase do climatério, e cada uma funciona de um jeito, você vai envelhecendo e ajustando a autonomia. A cabeça e o corpo parecem não andar mais juntos, uma disritmia estranha. Tenho dúvidas se não era só impressão idealizada de que andavam de mãos dadas.
Vou contar uma coisa para as mais jovens que entraram no “enta”: evitem casas com escadas, degraus, dois pisos, piso escorregadio, portas estreitas, móveis e armários com pontas nas passagens, prefira cadeiras que ao se sentar encosta os pés no chão, rolinho para dormir de lado e a coluna agradecerá. Aprecie suportes para se segurar no box do banheiro; evite tapetes felpudos, cortinas, almofadas peludas e ponha ar condicionado no quarto. Com os calores em chamas, você se arrependerá de não ter colocado ar. Claro que são caprichos de gente privilegiada. Ventiladores direto no corpo também ajudam nesses minutos, na brasa.
Ah, logo usará aquelas buchinhas laranja ou bege pro ouvido e dormir sem ouvir roncos de “kit marido” que escolheu, com a ausência deles. E que, de repente, começa a ter espasmos e você também: são quase pulos na cama. Eles podem virar uma “luta de box” à noite: cuidado. Se puder ter cama de casal maior, ajuda. Portanto, atente-se a estes detalhes. Só GSN – “gente sem noção” que acredita em juventude eterna. Sim, e do nada brotam alergias ou artrites: há vários tipos e acometem prioritariamente mulheres após os 4.0 motor turbo.
Não colocaremos mais linhas nas agulhas. Então, se puder, escolha óculos leve, sem palhetas que podem marcar a pele, multifocal (depois de 30 dias, o cérebro acostuma), lente antirreflexo, que não risca e nem quebra, com controle azul para a era das telas e transition para o sol. Não vai rolar ter 3 óculos. Eu curto os fashion. Usem vários tipos, cores e tamanhos de cabelos: vão cair e aí não vai rolar tanta química neles. Agora, você acha bobagem, mas use protetor solar no rosto, besunte hidratante no corpo todinho.
Passe na curva da região sacral, entre os glúteos também. Aí pode até descascar. Adquira produto recomendado por dermatologista, pois os comuns da farmácia-supermercado e água são a mesma coisa. A pele vai ressecar, por dentro e por fora e talvez coçar feito “pó de mico”: prevenção é tudo e mais barata. Uns cílios resolverão crescer pra dentro do olho, ao invés de pra fora e fundamental um espelho que aumente em 10 vezes para enxergá-lo e retirar, sem precisar de ajuda externa todo mês. O duro é que vai enxergar outras marcas que não via.
Já comece a hidratar a vagina com os cremes específicos, tome maca peruana para fortalecer a musculatura dela, ou faça pompoarismo. Nunca fiz. Fale com ginecologista. Pra que esperar a vagina ficar sequinha e sentir dor ou sensibilidade na hora do bem bom? Para os dias mais estressantes, gel lubrificante a base de água é massa. Tem uma marca com gel friozinho com tampa branca e outro quentinho da tampa laranja, nas farmácias. Seja “flanelinha” e conte como curte o lance. Algumas de nós não somos do tipo que finge orgasmo, né? Mas quem nunca? Então, se tiver intimidade com o parceiro, diga na boa que não rolou e ok.
Se não tiver esse nível de parceria, talvez fingir é menos trabalhoso que discutir a relação toda vez. Cada uma de nós verifica seu tempo interno, valores e o próprio relacionamento, se estiver em um e vai fazendo escolhas.
Se for fazer laser para retirar pelos do rosto e nas proximidades das genitálias, faça antes deles ficarem brancos, pois o laser não retira esses rebeldes-resistentes.
Passar delineador abaixo dos olhos passará a borrar com a flacidez e ruguinhas. Não precisa, mas se for fazer botox ou preenchimento, vá em profissional que só alivia expressões de cansada e de “braveza”, repondo o que esteve ali, sem mudar sua feição. Bom fazer pelo menos 1 x ao ano, com seu 13°. Sem culpa: você merece. E por falar nisso, culpa e medo paralisam, menos é mais.
Sigo torcendo pra muitas não passarem pelas insônias de início e terminais, bem como outras situações mais complexas, com a dança dos hormônios, como a sensação de ansiedade, taquicardia e pânico. Respire (com o diafragma e sem mexer o peito), inspire e não pire. Não iremos morrer disso, então relax. E nem todas passam por esses sintomas. Façamos algum exercício que detestemos menos, 3 x por semana. E comamos fibras. Uma pessoa reguladinha pode ficar sem fazer cocô, nessa fase, e aí permanecerá enfezada = cheia de fezes. Bom humor, amizades e arte tornam a vida mais interessante e leve. A boa notícia é que medicamentos fitoterápicos, florais, óleos, mais naturais, com orientação de nutricionista, podem auxiliar o intestino e o quadro geral. Mas para dormir, não me ajudaram.
Agora, vou te contar o melhor de tudo isso, já que o resto parece ser uma “merda” que se acostuma e vira uma “merdinha”, especialmente com reposição hormonal adequada para algumas que podem e por um tempo.
Não tem preço a idade nos trazer a potência de se arriscar a novas experiências, a fazer uso interno da “a sutil arte de ligar foda-se”: tenho esse livro, mas ainda não tive tempo para ler. E do acadêmico “tô defecando e me locomovendo”, expressão de colega legisladora, Duda Salabert, que tenho utilizado para me referir a fakes, ao que pensam, ou dizem sobre mim.
É muito libertador eu saber quem sou e os propósitos que me movem! Sinto-me plena e cheia de energia. Iuhuu! Só emoção! 💜💛
*Cláudia Guerra, 51 anos, no climatério, mãe de dois adolescentes, casada há 20 anos. Ativista voluntária e fundadora da SOS Mulher e Família, Conselho Direitos das Mulheres e do Núcleo Estudos de Gênero, desde anos 90. Profa. Dra. em História sobre violência conjugal, ministra aulas de Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Filosofia em faculdade privada e vereadora/PDT/AMT/MTPE-MG em Uberlândia-MG.