Bolsonaro quer a PF como milícia própria
Bolsonaro exonerou o diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, indicado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, que pediu demissão. Antes, já tinha demitido o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em uma semana, detonou os dois ministros mais populares e ficou com uma equipe de anões políticos.
Bolsonaro exonerou o diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, indicado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, que pediu demissão. Antes, já tinha demitido o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em uma semana, detonou os dois ministros mais populares e ficou com uma equipe de anões políticos.
Perante Moro, Bolsonaro assumiu que pretende fazer uma nomeação política na PF e que vai “controlar” investigações criminais. Algumas delas envolvem seus três filhos. Pode nomear para a PF um delegado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ligado a Carlos Bolsonaro, investigado por disseminação de fake news contra seus desafetos.
Há outras implicações criminais na atitude do presidente. Ele já havia tentado interferir na superintendência da PF no Rio para estancar investigações sobre a situação de milícias, inclusive no caso do assassinato de Marielle Franco. Com o novo indicado, Bolsonaro estará apto a interferir nos estados, favorecendo familiares e aliados.
Bolsonaro também pretende obstar a investigação aberta, nesta semana, pelo STF sobre os responsáveis pelas manifestações recentes a favor da ditadura e golpe de Estado, inclusive aquela que contou com a sua presença diante do comando do Exército. Uma clara afronta à democracia.
Deputados que integram o “Centrão”, em negociação com Bolsonaro para integrar sua base de sustentação, também teriam reivindicado, entre outras coisas, o engavetamento de investigações sobre os seus próprios crimes. Bolsonaro acumula esses crimes, na expectativa de que o apoio do “Centrão” impeça um eventual processo de impeachment.
Não há precedente de subordinação da PF aos interesses criminosos da família de um presidente. Ainda mais grave será se os ministros generais endossarem tais atos presidenciais, que apontam para uma ditadura de caráter pessoal e doentia, também sem precedente. Seria como se a instituição permanente Exército tolerasse a subversão da instituição permanente Polícia Federal.
Sérgio Moro sai bem de um mal governo, em que nunca deveria ter entrado. Na coletiva de imprensa em que anunciou a sua saída, destacou as articulações com estados e municípios na questão da segurança pública, surfando nos índices de redução da criminalidade, mas fez uma gestão pífia no trato dos direitos dos índios, endossando nomeações grotescas na Funai e furtando-se a decidir sobre processos de demarcação de terras indígenas.
Bolsonaro avilta o Brasil – que já sofre em demasia – com uma sucessão infinita de atos políticos tresloucados. Reações ocorrerão e o processo político, imerso em crise histórica, promete desdobramentos funestos. O país – aí incluída grande parte dos que votaram em Bolsonaro – não o aguenta mais.