Bolsonaro já era
Jair Bolsonaro já está duplamente inelegível e responde, agora, a uma acusação formal de tentativa de golpe de estado, em conluio com outras 36 pessoas. As provas e evidências colhidas pela Polícia Federal para sustentar a acusação são abundantes. Bolsonaro continua dizendo que tudo não passa de “historinha” inventada pelo ministro Alexandre de Moraes para […]
Jair Bolsonaro já está duplamente inelegível e responde, agora, a uma acusação formal de tentativa de golpe de estado, em conluio com outras 36 pessoas. As provas e evidências colhidas pela Polícia Federal para sustentar a acusação são abundantes. Bolsonaro continua dizendo que tudo não passa de “historinha” inventada pelo ministro Alexandre de Moraes para incriminá-lo, mas a sua defesa já embarcou na tentativa de reduzir danos, que admite a ocorrência dos fatos e minimiza a sua atuação, ou o faz de vítima.
Mesmo que haja redução de danos, a robustez das provas e dos testemunhos aponta para o oferecimento da denúncia pela Procuradoria Geral da República (PGR), que deve ser acolhida, julgada e condenada pelo STF. Além de ser preso, Bolsonaro deverá ter os seus direitos políticos suspensos por alguns anos. Como já declarou, ele poderá se refugiar em alguma embaixada para evitar a prisão.
Bolsonaro está enlouquecido, acusando antigos apoiadores de traição e ameaçando não dar paz ao Brasil se não for anistiado. Chegou ao ponto de pedir, numa entrevista ao Wall Street Journal, que Donald Trump adote sanções econômicas contra o Brasil caso a sua anistia não seja aprovada.
As opções que estão colocadas são a prisão e o exílio. Não existe candidatura. A direita está sendo impelida a antecipar o processo eleitoral de 2026, para dispor de tempo para construir candidaturas e articulações que lhe dêem competitividade. Bolsonaro está fora de si e do jogo.
Quem será?
Após as eleições municipais, Bolsonaro enquadrou o seu entorno próximo, constrangendo especulações sobre possíveis candidaturas presidenciais, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e da própria esposa, Michelle, e exigindo fidelidade à estratégia de forçar a candidatura dele mesmo, aprovar a anistia e pressionar o Judiciário. Agora essa estratégia dançou e ficará cada vez mais difícil impedir a expressão de alternativas.
Michelle transborda de ambição. No dia em que foi noticiado o indiciamento de Bolsonaro, ela não escondia a sua alegria, recheada de declarações de amor ao marido. Comenta-se que é ela quem faz a caveira, junto ao Bolsonaro, de todos os candidatos que surgem no campo da direita. Ela pontua bem nas pesquisas de intenção de voto e pode manipular as emoções de Bolsonaro para vir a ser a sua escolhida.
Tarcísio tem o trunfo do governo de São Paulo, é confiável para as elites econômicas e tem condições de obter apoios mais à direita, como o PL, e mais ao centro, como o PSD. Porém, ele tem a opção de disputar a reeleição, uma empreitada mais fácil do que derrotar Lula, e não precisaria renunciar ao cargo de governador em meados de 2026. Semana passada, Lula contratou com Tarcísio e Nunes, o prefeito reeleito da capital, um pacote bilionário de obras de infraestrutura, cujos melhores resultados seriam colhidos num eventual segundo mandato.
Correm por fora os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e do Pará, Helder Barbalho (MDB), além de Pablo Marçal (PRTB), que tiveram bom desempenho nas eleições municipais. São bem avaliados nos respectivos estados, mas pouco conhecidos nos demais. Seriam possíveis alianças entre essas forças, mas seria necessária a inclusão de outras mais e do bolsonarismo, para aumentar a competitividade.
Como seria?
Os pré-candidatos da direita terão que suportar e driblar os surtos e as grosserias de Bolsonaro, até um certo ponto. Todos farão de conta que estão solidários com Bolsonaro, para não ter um veto dele e cooptar os seus eleitores, mas fazendo o possível para que a sua nova condenação ocorra logo, pois há muito o que fazer para construir outra candidatura.
A direita precisa promover a antecipação do processo eleitoral, para vincular outros nomes à sua pauta e aumentar a pressão sobre o governo Lula. No âmbito do mercado, essa pressão já vem sendo feita através de cobranças sobre a questão fiscal. As elites não querem abrir mão de isenções tributárias que as beneficiam, mas questionam os investimentos em programas sociais. Tentam erodir o mérito da política econômica, que aqueceu a economia, reduziu o desemprego e melhorou as condições de vida dos pobres.
Essa urgência também se aplica a uma eventual candidatura da família Bolsonaro, o que tensiona as próprias relações internas. Nada garante o apoio automático do centrão, muito pelo contrário. Começa que o próprio PL corre o risco de punição institucional pelo envolvimento na tentativa de golpe. A PF pede, também, o indiciamento do seu presidente, Valdemar da Costa Neto. A direita quer os votos do Bolsonaro, mas quer se safar da pecha golpista.
A direita deve se cuidar, sob o risco de perder o bom momento histórico e se deixar arrastar para o fundo do abismo pela crise do bolsonarismo. Lula não está morto, muito pelo contrário. A economia cresce, o desemprego e a miséria desabam. A reeleição continua sendo mais provável.