“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos”. Essa advertência feita por Jesus Cristo, registrada em Mateus 7:15-20, continua valendo.

Em 21 de maio de 2022, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, indicado para o cargo no governo passado pela chamada bancada evangélica, disse que favorecia, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, prefeituras de municípios ligados a pastores.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Para apurar a santa manipulação dos recursos destinados à educação, a Polícia Federal instaurou um inquérito, ao qual o ex-presidente reagiu: “Estão fazendo uma covardia contra ele”. “O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto a minha cara toda no fogo pelo Milton”. Uma semana depois, outro inquérito foi aberto para apurar a distribuição, pelo Ministério da Educação (MEC), de bíblias impressas com a foto de Ribeiro na contra-capa.

A indignação foi geral, inclusive entre evangélicos. Bolsonaro teve que demiti-lo. Ao sair de Brasília, Ribeiro deixou cair um revólver ao lado do balcão de embarque, que disparou e feriu uma funcionária do aeroporto. Não foi o cara de pau que se queimou.

Cambada

A bancada evangélica prima pela defesa do que considera bons costumes e se esmera em criminalizar quem pensa diferente. Sempre que ocorrem casos de pastores envolvidos com pedofilia, estupros, assassinatos ou apropriação do dízimo para luxos pessoais, alega tratar-se de uma minoria entre milhares de pastores. Porém, os casos de desvios de conduta são cada vez mais frequentes, mas a bancada e suas igrejas não os condenam publicamente e, com frequência, os mantêm como pastores.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Da mesma forma, a maioria desses pastores-parlamentares adora o ex-presidente, que os privilegiou com verbas públicas enquanto deixava morrer centenas de milhares de pessoas por falta de vacina, disseminava armas entre civis e aumentava o sofrimento e a miséria dos mais pobres. “Não se pode servir a dois senhores”!

Foi assim que, para além das isenções fiscais de que gozam as igrejas, o ex-presidente, às vésperas das últimas eleições, determinou a isenção de imposto de renda para as prebendas recebidas pelos pastores, um privilégio absurdo em relação ao restante da população.

Bocas vazias

Na semana passada, a Receita Federal revogou essa isenção, o que provocou reações iradas entre os beneficiados. O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da bancada evangélica, disse que o governo atual odeia os evangélicos, insinuando que a decisão da Receita teria motivação política e tentando jogar os fiéis, que não recebem prebendas e não gozam de isenções, contra ele.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

“Deixa eles serem eles, os resultados logo virão. Logo temos eleições municipais. Basta lembrar que nas eleições dos conselhos tutelares demos uma surra no governo e daremos outra. É só esperar que 2026 está logo ali“, disse Sóstenes, se referindo ao ano da reeleição de Lula.

“Aos profetas que fazem o meu povo desviar-se, e que, quando lhes dão o que mastigar, proclamam paz, mas proclamam guerra santa contra quem não lhes enche a boca”. (Miquéias 3:5-7)

São palavras de Jesus Cristo, que expressam a sua justa indignação contra aqueles que manipulam a fé das pessoas para encherem os próprios bolsos.