Até quando vão nos matar? Nega Juh, Presente!
O que presenciamos é a falta de respeito com as vidas de mulheres que, assim como Nega Juh, entram para a política e correm risco todos os dias
Perdemos mais uma nossa. Mulher preta, mãe, favelada e ativista pelos direitos civis e melhorias nas vidas das pessoas da sua comunidade. Juliana Lira de Souza Silva, a Nega Juh, foi brutalmente assassinada esse final de semana, junto com seu filho, Alexander de Souza Gomes, de 27 anos. Ela deixa uma lacuna na cidade de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Pouco tempo depois de ter anunciado sua pré-candidatura a vereadora na cidade, sua voz ativa foi calada. Este resultado fatal, contínuo e repetido, reflete a falta de punição para quem comete crimes de violência política de gênero. Vivemos isso em 2018, quando Marielle Franco teve sua vida ceifada, interrompida pela ação criminosa de pessoas com interesses escusos.
Nós não podemos deixar que casos como esses sejam somente estatísticas, números a se contar, corpos a se empilhar. Somente no ano passado, foram registrados 114 casos de violência política de gênero, segundo dados do Observatório de Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – e 2023 não era ano eleitoral. Em 2024, por ser um ano com eleições municipais, esse número deve ser ainda maior.
Desde a sua sanção, em agosto de 2021, a Lei 14.192 puniu apenas uma pessoa, o deputado estadual do Rio de Janeiro Rodrigo Amorim (União Brasil), contra a vereadora de Niterói, Benny Briolly (PSOL), primeira travesti eleita no Rio de Janeiro. O parlamentar teve como condenação uma pena de um ano e quatro meses de serviços comunitários prestados à população em situação de rua, e o pagamento de 70 salários mínimos.
A prestação de serviços comunitários é de extrema necessidade, mas, em se tratando de homens brancos, cisheteronormativos no Brasil, sabemos que essa “punição” é passível de deboche e de brincadeiras entre eles. Além de tudo, a decisão foi tomada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE/RJ) e ainda cabe recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O que presenciamos é a falta de respeito com as vidas de mulheres que, assim como Nega Juh, entram para a política e correm risco todos os dias. Risco contra suas vidas, de trabalharem em prol do que acreditam, de perderem a vida pelas mãos e mandatos de homens que não aceitam a posição de liderança que as mulheres, principalmente negras e periféricas, têm assumido. Não vamos nos calar nem aceitar esta impunidade! Nega Juh, presente!