A Rota do Rosário: um caminho de fé, cultura e reconstrução afro-brasileira em Minas Gerais
Minas carrega, em cada cidade histórica, batuque de Congado e passo dos Reinados, a força viva da cultura afro-brasileira.
Minas Gerais carrega, em cada cidade histórica, em cada batuque de Congado, em cada passo dos Reinados, a força viva da cultura afro-brasileira. Durante séculos, essa herança foi negligenciada ou reduzida a folclore. Agora, com o surgimento da Rota do Rosário, poderemos dar um passo essencial rumo à valorização dessa identidade tão presente e pulsante em suas raízes. Mais do que um projeto cultural, fruto da nossa mandata na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, trata-se de uma reparação histórica, social e espiritual.
A Rota do Rosário nasce com o objetivo de conectar os territórios mineiros onde as Festas do Rosário resistem como expressões de fé, de ancestralidade e de construção comunitária. Não é apenas sobre turismo, embora ele esteja presente. Não é apenas sobre cultura, embora ela seja o alicerce. A Rota é, sobretudo, um instrumento de preservação de saberes, de valorização dos povos tradicionais e de fortalecimento do pertencimento de um povo historicamente marginalizado.
Trata-se de uma iniciativa que parte das bases: das comunidades, dos capitães de guarda, das mestras, das irmandades e festeiros. E por isso é autêntica. É construída com escuta, com presença, com respeito aos ritos. Não é uma imposição institucional. É o reconhecimento de que essas tradições são patrimônio imaterial e precisam ser tratadas com dignidade e protagonismo.
Ao percorrer a Rota do Rosário, não se percorre apenas um itinerário geográfico, mas um trajeto de resistência ancestral, onde cada canto, cada dança, cada ritual evoca a força dos que vieram antes e construíram, com fé e luta, as bases da cultura afro-mineira. As festas do Rosário, celebradas em dezenas de municípios mineiros, são verdadeiros livros vivos da história do Brasil que não está nos manuais escolares: a história dos povos negros que, mesmo escravizados, nunca se curvaram.
A importância da Rota também se revela no seu impacto econômico e social. Ela impulsiona o afroempreendedorismo, gera renda por meio de feiras de artesanato, gastronomia típica, turismo de base comunitária e formação de cooperativas. Ela capacita guias, fortalece o comércio local e, principalmente, devolve às comunidades o controle sobre sua própria narrativa e desenvolvimento.
No campo da educação, a Rota do Rosário também cumpre um papel fundamental. As leis 10.639 e 11.645, que tornam obrigatória a inclusão da história e cultura afro- brasileira e indígena no currículo escolar, encontram aqui um exemplo prático de aplicação. Os saberes dos congadeiros, os ensinamentos dos benzedeiros, as músicas e coreografias dos Reinos tornam-se conteúdos vivos a serem transmitidos às novas gerações, dentro e fora da sala de aula.
Outro aspecto essencial da Rota é o acolhimento espiritual e emocional que ela proporciona. Em tempos de crise de saúde mental, as práticas tradicionais de cura e benzimento ganham relevância. A Rota reconhece o valor desses saberes ancestrais, não como misticismo ou exotismo, mas como parte integral do cuidado com o corpo e com a alma.
Essa não é uma política qualquer. É uma política de Estado, que se articula com diversas áreas: cultura, turismo, saúde, educação, economia. É uma política de inclusão, que combate o racismo ao valorizar o que sempre foi invisibilizado. É também uma oportunidade única de posicionar Minas Gerais como referência no turismo cultural e religioso, com reconhecimento nacional e internacional.
A Rota do Rosário não é apenas um projeto. É um ato de resistência, de memória e de futuro. É o Brasil profundo, negro, católico, sincrético, popular, que ganha voz, corpo e visibilidade. E mais do que isso: que ganha dignidade. Que se reconhece e se fortalece.
Minas Gerais, com sua tradição plural e seu povo de fé, tem agora a chance de ser vanguarda. De mostrar ao país que a cultura afro-brasileira não é passado – é presente e, sobretudo, é caminho de futuro. E esse caminho, agora, tem nome, rota e destino. É a Rota do Rosário. E ela já começou a transformar vidas.