Nos idos anos de 1988, fiz um curso com o sensacional filósofo Roland Corbisier, no sindicato dos médicos do Rio de Janeiro. Como alguns participantes eram professores de Engenharia da UFRJ, fui convidado para uma palestra naquela instituição. Pouco antes de começar, ouvia-se um enorme burburinho num auditório lotado por cerca de 400 alunos, que pareciam não ligar muito para filosofia. Em poucos minutos de palestra, não se ouvia nem uma mosca, enquanto o professor discorria sobre as diferenças entre filosofia, política e ciência.

Assim ele esclarecia a divisão entre essas três formas de produção humana: a filosofia seria a maneira mais ampla de pensar, onde seriam incluídas a linguagem e tudo o que vem antes do nascimento e depois da morte. A vida na cidade, no estado, no país e na Terra faz parte da política. A ciência, por sua vez, possui um método que utiliza determinados instrumentos para chegar a seus resultados.

Hoje, vivemos um movimento mundial contra a política, caluniada, difamada e injuriada no Brasil pela mídia de mercado. Enquanto isso, Bolsonaro apresenta-se como alguém novo, contrário ao “sistema” e sem qualquer “viés ideológico”. Misturando políticos profissionais do sistema de representação com a política, a mídia hipócrita denomina o conjunto dos políticos de “classe”, como se seus representantes pertencessem a uma “casta”, a política fosse imutável, não houvesse manifestação, tampouco eleição a cada dois anos no país, onde novos representantes podem ser eleitos.

Trata-se de um processo de alienação, pois nossas vidas são políticas, exercidas de forma indireta, através de representante eleitos, e direta, nas ruas, como estabelece o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal.

As condições dos hospitais e das escolas públicas, o preço da passagem dos transportes coletivos, da comida, dos planos de saúde, da gasolina, do táxi e do Uber, as receitas e despesas dos orçamentos dos municípios, estados e país, só para contarmos alguns exemplos, dependem de decisão política. O racismo é estruturado politicamente desde o nascituro. Enquanto descendentes de homens livres nascem com todos os direitos, os descendentes dos escravos, negros, índios e pobres, vêm à Terra sem sequer terem o direito ao saneamento básico. Nas favelas, crianças brincam ao lado de valas sujas entre porcos e ratos. Algo inimaginável para um branco de classe média, herdeiro de homens livres, como eu.

O presidente do Brasil, vereador do Rio de Janeiro por dois anos, deputado federal durante dezoito anos, tendo sido filiado a nove e agora sem partido, não conseguiu formar o seu partido nazista “Aliança pelo Brasil”. O nome remete à Aliança Renovadora Nacional – ARENA – partido da Ditadura militar, entretanto, hipocritamente, ele é um político que se diz não ser político!

Trata-se de uma política de plágio ao nazismo, que vem implantando uma república miliciana fanática religiosa, usando as Forças Armadas brasileiras com o objetivo de impor uma política educacional da polícia militar e dar todo o poder à Igreja Universal, como já confessou expressamente sua ministra Damares.

Temos de afirmar, fazer e dizer que TUDO é política na veia e este ano não haverá abstinência nem abstenção nas ruas e na eleição!