Entre o mês de agosto  e o que vai de setembro, a direita no continente sul americano já efetuou uma tentativa de assassinato contra a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou mais uma tentativa de impeachment contra o recém chegado presidente do Perú, Pedro Castillo, anunciou mais uma vez o possível assassinato do presidente recentemente eleito da Colombia, Gustavo Petro, ameaçou em dar um golpe de estado contra o presidente do Chile, Gabriel Boric.

Enquanto isso, no Brasil, o ex-presidente Lula enfrenta uma campanha de constantes ataques pessoais e baixarias sem fim contra ele e a sua família. A direita fascista brasileira e o jornalismo corporativo, agora com a conivência do frustrado candidato, Ciro Gomes, fala de uma tal de “polarização”, onde um setor da sociedade brasileira, o fascismo armamentista que exalta o assassinato e a tortura, seria equivalente ao movimento popular liderado pelo Lula, constituido quase que com exclusividade por setores da cultura, artistas, movimentos sociais e sindicais, feministas, ecologistas e ativistas lgbtqia+. Em que cabeça alienada e mal intencionada cabe chamar isso de polarização?

A escalada de agressões, ameaças, violência e assassinatos vem de antes da eleição de Jair Bolsonaro, porém, os setores responsáveis por tais acontecimentos hoje estão integralmente identificados com o movimento “político” liderado pelo atual presidente do Brasil.

As vítimas do terrorismo de direita se empilham dia após dia: Marielle Franco, Marcelo Arruda, o mestre Moa do Katendê, Antonio Carlos Rodrigues Furtado, Benedito  dos Santos. As vítimas se acumulam, o discurso de ódio e que instiga ao terrorismo político não cessa. Quanto sangue a mais é preciso derramar?

O conceito de bolsopetismo começou a ser utilizado por setores neoliberais, mais precisamente por comunicadores vinculados ao MBL. Esse é o mesmo conceito que Ciro Gomes vem utilizando numa campanha baseada quase que plenamente no ataque pessoal sob acusações infundadas. Mas, como se chega ao conceito de bolsopetismo? Na teoria, essa equivalência é traçada a partir da certeza de que tanto o ex-presidente Lula quanto o Bolsonaro são personalistas, ou “populistas”. Bolsonaro não aplicou um plano neoliberal à ultranza durante seu governo (privatizar tudo, derrubar todos os direitos dos setores populares, em síntese)  o que o equipara ao Lula, quem foi lider de um governo que pautas históricas dos setores populares como foco central do seu governo. 

Mestre Moa do Katendê, assassinado por um bolsonarista a facadas em 2018 por dizer que apoia Haddad. O crime ocorreu após o primeiro turno das eleições. Foto: reprodução

 

Bolsonaro odeia cultura e artistas, tão assim que investe uma grande parte da sua comunicação em atacar diversos artistas de forma particular e à classe no geral. Lula foi um dos presidentes que mais incentivou a produção cultural, que mais se aproximou da classe artística para atender suas demandas. Bolsonaro odeia movimentos sociais: MST, feministas, movimentos anti racismo, movimentos em prol dos direitos do povo LGBTQIA+, enquanto isso o Lula, com todas as ressalvas que poderiam ser mencionadas, sempre esteve disposto a se aproximar e valorizar seus direitos. Lula sempre se mostrou um líder popular disposto a dialogar com os setores excluídos pelas elites tradicionais, algo que é completamente oposto às atitudes de Jair Bolsonaro.  

Um caso que teve pouca repercussão na mídia foi o do assassinato de Antônio Carlos Rodrigues Furtado, de 61 anos, quem morreu de uma parada cardíaca após ser espancado pelo bolsonarista Fábio Leandro Schwindlein, de 44 anos, que começou a agredir o idoso por ele ser militante do PT. O crime aconteceu em 2019 e foi a própria polícia de Balneário Camboriú, lugar onde aconteceu a barbárie, a que reconheceu que foi um crime com altos requintes de cruedade, já que o assassino é mais jovem e mais forte que o idoso, e, mesmo assim, continuou espancando ele ainda quando o homem já se encontrava no chão, implorando que o assassino parasse. 

“A vítima foi para a calçada e em seguida, F.L.S iniciou com as agressões. Após o ato, a vítima caiu no chão, e o autor continuou a agredí-lo. Em ato contínuo, a vítima levantou-se e pediu para cessar com a agressão, pedido este ignorado pelo autor do fato. Neste momento, a vítima caiu novamente no chão, desta vez, desacordado” boletim de ocorrência feito pela polícia.

Marcelo Arruda foi morto durante sua festa de aniversário. Foto: Reprodução

 

O governo do Lula foi caracterizado pela luta contra a fome e a desigualdade social, pela valorização da cultura, da ciência, das matérias primas, pela proteção ao meio ambiente e às economias produtoras locais . Houve, durante  os dois mandatos do petista, uma liberdade absoluta de imprensa e uma autonomia plena da justiça, o que permitiu o crescimento e o fortalecimento de um grupo disposto a barrar o PT do poder, o que acabou acontecendo anos depois, com o golpe parlamentar dado à presidenta Dilma Rousseff.

Benedito Cardoso dos Santos, assassinado com golpes de faca e machado, durante uma discussão por apoiar o candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O autor do crime, Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, é apoiador do atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).

 

Dizer que Bolsonarismo e Petismo são a mesma coisa é de uma mediocridade intelectual e política muito grande. Como a população brasileira poderia confiar o governo a quem repete essa falácia tão infantil e rasa? É de uma analfabetismo político muito grande estabelecer equivalências entre um movimento político que prega a morte, a intolerância religiosa, que hoje carrega um vasto prontuário de agressões contra as instituições e particulares, contra todo aquele que discute as políticas erráticas ou questiona os casos de corrupção levantados pela imprensa ou as instituições da justiça, falar que essa corja de gente violenta e arrogante é igual ao primeiro partido político do Brasil a governar com uma orientação popular clara.

O Brasil não precisa de gente confusa e interesseira, capaz de deturpar o panorama político atual, sem se importar com as consequências de tais atitudes,  por simples cobiça eleitoreira. O Brasil precisa de uma bandeira verossímil de construção, baseada num desejo genuíno de pacificar o país. De voltar a valorizar os setores populares, de construir ouvindo o que tem a dizer os movimentos sociais. Não se precisa de um “gênio” com projeto, porque, de fato, os melhores projetos que esse mundo já viu são os que nascem no berço dos movimentos coletivos. Esses são os projetos que mudam verdadeiramente a história. Alguém capaz de ouvir os setores da base será quem vai realmente tirar o Brasil das garras dessa política de morte que tem tomado o controle do país hoje.