A força do arco-íris
Além dos desafios normais da existência humana, pessoas LGBT+ ainda precisam encarar as agruras do preconceito, e você, como uma pessoa aliada, pode mudar isso, fazendo o que é certo e não o que é fácil ou cômodo
Por Rodrigo de Aquino
Se há um grupo na sociedade que conhece o poder do crescimento pós-traumático, é a população LGBTQIAPN+. Isso não significa que todos conseguem ultrapassar a dor da segregação, da invisibilidade e do preconceito que brota como erva daninha, dificultando o florescimento de 12% dos brasileiros, ou cerca de 19 milhões de pessoas.
São pessoas que, desde a infância, lutam para se adequar e se sentir pertencentes à comunidade heteronormativa. Elas crescem e tentam se desenvolver sempre sob olhares julgadores, que recriminam gestos, falas, desejos e comportamentos naturais.
Aqui começa o sofrimento. Boa parte dessas pessoas, que só querem ser quem são, tenta seguir em frente, se moldando, na medida do possível, ao que o padrão exige. Alguns conseguem seguir em frente em direção à adolescência, negando quem são, enquanto outros, diante de tanto ódio, acabam por murchar de forma definitiva.
Os que seguem lutando contra a força maciça do preconceito enfrentarão as pedras verbais na família, os pisões morais no recreio da escola e as tempestades das premissas religiosas. Uma dor retroalimenta a outra e, assim, alguns conseguem seguir em direção ao sol. Outros, abafados e esmagados pela monocultura da mente que rege a sociedade, esmigalhados pela tentativa da ‘cura gay’, não conseguem seguir adiante.
Precisamos festejar aqueles que chegam ao mercado de trabalho e conseguem preservar sua autonomia, independência e dignidade. No entanto, é importante reconhecer que essa conquista é mais comum entre gays, lésbicas e bissexuais, enquanto as pessoas trans, no Brasil, enfrentam uma estimativa média de vida de apenas 35 anos e são frequentemente marginalizadas pela sociedade, incluindo a exclusão da escola e do mercado formal.
Mas, qual é a realidade das pessoas LGBT+ no mundo corporativo?
Aqueles que conseguem avançar geralmente são relegados a cargos intermediários, enquanto outros são percebidos apenas como uma cota em empresas que se autodenominam ‘socialmente responsáveis’, raramente chegando aos níveis mais altos de liderança. Muitos dos que alcançam essas posições são obrigados a ocultar sua vida pessoal ou a conformar-se a comportamentos heteronormativos. Mesmo mantendo uma autoestima relativamente preservada, enfrentam constantemente olhares julgadores.
Heterossexuais e pessoas LGBT+ vivenciam realidades diferentes no ambiente de trabalho. Enquanto o primeiro grupo geralmente encontra espaço para desabafar sobre seus dramas familiares, envolvendo pais, filhos e cônjuges durante o café, o segundo nem sempre encontra segurança psicológica para compartilhar seus problemas pessoais com os colegas. Ter relacionamentos positivos no ambiente corporativo é fundamental para o clima e o desenvolvimento profissional dos colaboradores.
Grandes multinacionais possuem um compliance atuante, sempre atento a comentários preconceituosos, mas é sabido que mulheres e negros, assim como outros trabalhadores, ainda sofrem com comentários e olhares inadequados nos corredores ou durante reuniões, sejam elas presenciais ou online.
Vale lembrar uma premissa da neurociência que diz que a dor emocional é processada no cérebro nas mesmas áreas neurais que a dor física. Partindo desta tese, pessoas que sofrem rejeição e preconceito são torturadas diariamente e, de acordo com a ciência, isso não é um ‘mimimi’.
Mesmo assim, a força do arco-íris, que há tempos é o símbolo da esperança, se mantém vigorosa, potente e capaz de sustentar a vida de pessoas que sofrem, dia sim, dia não, o peso do preconceito.
Aqui, fazemos uma pausa teórica. Chris Peterson conceitua a Psicologia Positiva como o campo da ciência que estuda o que torna a vida digna de ser vivida. Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi sustentam, em vários estudos, a importância de ressaltar as qualidades e potências do indivíduo para que ele alcance sua excelência, o florescimento, o bem-estar subjetivo e a felicidade.
Partindo desses pressupostos, podemos (e devemos) afirmar que a sexualidade de uma pessoa não deve interferir no seu desenvolvimento e presença como ser social, isto é, como filho, pai, irmão, sobrinho, empregado, político ou fiel a qualquer religião.
Mas a mesma sociedade que fomenta o murchamento humano, através do machismo e do racismo, é aquela que busca enquadrar, negar ou exterminar pessoas LGBTs, regredindo nos seus direitos.
Passamos pelo Dia Internacional contra a Homofobia (17 de maio) e logo mais chegará a 28ª Parada do Orgulho LGBT+. É importante lembrar que hoje o Brasil conta com um governador assumidamente gay e uma governadora lésbica, duas deputadas federais transexuais e atores e atrizes lidando com suas orientações sexuais de forma natural e tranquila. Nenhum passo será dado para trás e essas conquistas merecem ser celebradas!
Por mais que haja um movimento crescente do conservadorismo, no Brasil e no mundo, não há mais espaço para retrocesso. A virtude da coragem nutre a pauta dessa população, em busca de mais moderação, justiça e humanidade.
Além dos desafios normais da existência humana, pessoas LGBT+ ainda precisam encarar as agruras do preconceito, e você, como uma pessoa aliada, pode mudar isso, fazendo o que é certo e não o que é fácil ou cômodo.
A seguir, apresento algumas dicas do movimento Aliados em Ação criado pela ONU, que ajudarão a preservar a saúde mental e o bem-estar da população LGBT+, com benefícios gerais, pois ajudará na criação de uma sociedade justa, amorosa, tolerante e, principalmente, respeitosa com a diferença.
- Ouvir e Acreditar: Escute as experiências das pessoas LGBT+ e acredite nelas quando falam sobre discriminação, mesmo que você não tenha presenciado pessoalmente. Pergunte como você pode ajudar de forma afetiva e efetiva.
- Aprender e Pesquisar: Eduque-se sobre as comunidades LGBT+, começando por uma simples pesquisa na Internet para ver como você pode oferecer apoio a grupos que precisam (essa pessoa pode ser seu colega de trabalho, seu irmão de fé ou seu filho).
- Combater todo tipo de discurso de ódio: Não tolere piadinhas, tome uma posição contra qualquer tipo de manifestação preconceituosa, discursos de ódio e insultos dirigidos a qualquer pessoa, incluindo pessoas LGBT+, em ambientes como escola, trabalho ou casa. É importante falar contra isso, mesmo que pareça difícil.
- Denunciar a Violência e Discriminação: Se for seguro, denuncie casos de violência e discriminação. Existem maneiras anônimas de fazer isso ou você pode encontrar uma pessoa confiável para ajudar.
- Expressar Apoio de Forma Segura: Se for seguro, use broches, pulseiras ou roupas com mensagens de apoio às pessoas LGBT+ para mostrar que elas estão seguras com você.
- Compartilhar Conteúdo Positivo: Use suas redes sociais para compartilhar conteúdo positivo sobre pessoas LGBT+ e combater mitos e estereótipos negativos.
- Apoiar Organizações e Ativistas: Dê suporte a organizações e ativistas LGBT+ em sua comunidade e além dela.
- Celebrar e Participar: Participe de eventos e festivais LGBT+ inclusivos, como a Parada da Diversidade da sua cidade e celebre a diversidade.
Lésbicas, trans, bissexuais e gays do Brasil e do mundo continuam acreditando que merecem ser quem são, com os mesmos direitos e deveres de qualquer outro cidadão, independente da sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero.
Resilientes, reconhecem suas dores e, cheios de esperança e amor, seguem construindo uma sociedade mais justa e feliz para todas as pessoas. Viva a diversidade e todas as vidas que habitam abaixo desse lindo arco-íris da tolerância, do respeito e da igualdade.
Rodrigo de Aquino é comunicólogo e especialista em Bem Estar e Felicidade, estuda desenvolvimento humano desde os 14 anos de idade. Especialista em Psicologia Positiva (IPOG), Planejamento estratégico (Miami Ad School) e Coolhunting (Istituto Europeo di Design) se dedica integralmente ao estudo do desenvolvimento humano e da felicidade no mundo corporativo, através de sua formação como Chief Happiness Officer. Realiza mentorias, palestras e consultorias na área de criatividade, florescimento humano e FIB (Felicidade Interna Bruta). É embaixador em São Paulo da ONG Doe Sentimentos Positivos, fundador do Instituto DignaMente e idealizador/host do podcast “Sobre Nós”.