A Classe Média no poder
Esse ethos classe média e moralista dos almoços de domingo e da família conservadora foram tornados políticas públicas e políticas de perseguição e ódio as diferenças.
Bem na sua cara! A Classe Média no poder! Interrompendo minhas férias para comentar essa foto sensacional a partir das observações do Ricardo Sardenberg. Isso é que é choque cultural! O que temos aqui? Uma foto típica dos grupos no poder, o Presidente da República ladeado por aliados na Biblioteca do Palácio da Alvorada. E no centro da foto, entronizado, o Presidente de chinelo Rider, calça de moletom, camiseta e um paletó improvisado e mal ajambrado jogado por cima de tudo. Bolsonaro está “em casa” de chinelo recebendo as visitas.
Qual o problema? Quando Lula chegou ao poder também produziu um escândalo: por carregar isoporzinho nas férias, por sua afetividade e fala desengessada e improvisada, pela quebra dos protocolos em muitas ocasiões formais. E claro por políticas públicas para os pobres, as mulheres, os negros, as minorias, mesmo com todas as suas limitações.
E hoje temos sim um segundo choque cultural, dos novos ocupantes do Planalto. Mas o contexto e injunções dessa “revolução conservadora” são outras.
A figura de Bolsonaro que provoca identificação com tantos eleitores é a desse mal ajambrado, improvisado que “afronta” o sistema e que expressa literalmente um governo de improviso, feito por “não-políticos”. O anti-sistêmico de Bolsonaro é um sistema de extrema-direita e conservador, mas com a cara do tiozão do churrasco que torna tudo risível ou “palatável”. O homem “sem qualidades” é a nova “qualidade”.
Bolsonaro comanda uma equipe de improviso, vindo de um partido de aluguel como o PSL, que aluga legenda, e cujos escândalos começam a explodir com uma corrupção gotejante e sistemática, perto, muito perto das corrupções concretas e reais do cidadão de bem: para “ajudar” a familia, os primos, os amigos.
Um governo cujos desentendimentos são de um grupo formado às pressas para ocupar o poder, misturando a presidência da República e o Estado com o humor e comando dos filhos do presidente e seus estilo de vida boçal e violento, agressivos nas redes, o parlamentar-playboy-filhinho de papai com costas quentes, falando sem consequência. Toda essa informalidade que se alia aos poderes fáticos e pára-militares.
A “informalidade” da milícia, dos amigos dos amigos nos gabinetes, do espetáculo de improvisos em um chat de condomínio, que se tornou o país. Toda uma corrupção apresentada como “mal menor’ diante dos “profissionais” da política. Daí criminalizar tudo que é organizado: partidos, movimentos, todas as conquistas coletivas.
Triunfo do indivíduo e sua network e rede em um capitalismo e governo mafioso: a família, o clã, acima de tudo.
O problema não são os hábitos culturais populares da família Bozo, mas esse ethos classe média e moralista dos almoços de domingo e da família conservadora tornados políticas públicas e políticas de perseguição e ódio as diferenças.
E muito bem notado por Ricardo Sardenberg sobre o distinto grupo, a tapeçaria monumental com as mulheres de Di Cavalcanti sinuosas e libidinosas, a música, a arte, as pernas escancaradas de uma mulher (se automassageando?) e prestes a soltar um gozo na cara dos moralistas.
É a tapeçaria Músicos de Di Cavalcanti na parede da biblioteca do Palácio da Alvorada pairando na foto.
Para um governo que acha que cultura e arte “não são importantes”, o modernismo brasileiro de Di, com sua liberdade e vitalidade, dá uma resposta, mesmo que simbólica: a arte e a cultura vão jogar e jorrar na cara da extrema-direita e dos conservadores emergentes, de forma pedagógica, explicando o que é uma vida não fascista! #governos#Cultura #arte