1º de abril: dia que a extrema-direita adora
Quase 90% dos brasileiros admite ter acreditado em conteúdos falsos, um percentual que corresponde a aproximadamente 196 milhões de brasileiros
“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Essa frase é de autoria de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista, e estratégia de um determinado grupo político para iludir e enganar uma nação inteira. Pegando a frase de um nazista e analisando bem pouco, até porque não precisa de muita análise, não me surpreende o motivo da extrema-direita brasileira ser tão mentirosa.
Se tem uma coisa que é inerente ao ser humano, é a mentira… Infelizmente. Ela está presente em todas as camadas sociais, em todos os segmentos profissionais e provoca um estrago enorme quando difundida em larga escala. O problema é que essas mentiras chegaram ao ponto de eleger um presidente da República, como em 2018, quando o inelegível se tornou líder máximo de um país com as dimensões continentais, como é o caso do Brasil.
Um levantamento do Instituto Locomotiva mostrou que quase 90% dos brasileiros admite ter acreditado em conteúdos falsos. Fazendo uma conta muito básica e sem nenhum tipo de aprofundamento, esse percentual corresponde a aproximadamente 196 milhões de brasileiros que tiveram contato com alguma notícia mentirosa e acreditaram que era verídica.
Essa mesma pesquisa mostra que 72% dos entrevistados acreditam ter recebido notícias falsas nos últimos seis meses, e isso impacta diretamente as vidas dessas pessoas. Um exemplo gritante é a mentira que a extrema-direita plantou, afirmando que o Pix seria taxado. O que seria feito, na verdade, é uma adequação da necessidade de informação, por parte das instituições financeiras, de repassar ao fisco transações de pessoas físicas, norma que já existe há algum tempo.
Quando se faz um recorte regionalizado, a pesquisa do Instituto Data Favela revela que 89% das pessoas que moram em territórios periféricos já foram vítimas de fake news, totalizando mais de 94 milhões de pessoas. Nesses mesmos territórios, 23% acreditam que essas mentiras podem ferir a reputação de alguém e 15% identificam a criação de pânico sobre segurança como um dos principais riscos.
As fake news, como são popularmente chamadas, afetam diretamente a vida das pessoas, como foi durante a pandemia da Covid-19, quando aqueles que eram contra a vacina diziam que a imunização era uma forma de implantar um chip em quem fosse vacinado. Chega a ser risível a argumentação deles, mas muitas pessoas deixaram de se vacinar, aumentando as estatísticas da crise sanitária.
Para 91% dos entrevistados na pesquisa “Condições de Trabalho dos Profissionais da Saúde no Contexto da COVID-19 no Brasil”, realizada pela Fiocruz, em 2021, as fake news se tornaram um obstáculo no combate ao vírus. No mesmo estudo, 76,1% dos trabalhadores da saúde declararam ter atendido pacientes que expressaram fé em notícias falsas sobre a covid-19.
Esses dados mostram o poder destrutivo que as notícias falsas têm e como elas afetam diretamente a população brasileira e, principalmente, as mais vulneráveis, que são os moradores de favelas e espaços periféricos. A extrema-direita é uma disseminadora dessas mentiras e vem se beneficiando delas há muito tempo. A sociedade precisa dar um basta, buscando fontes confiáveis, antes de compartilhar qualquer informação, verificando se realmente é um jornal de renome.
Outra ferramenta que deve ser usada para combater as fake news são legislações específicas, que precisam ser apreciadas pelos parlamentares, como o Projeto de Lei 2.630/2020, que visa criar medidas de prevenção, combate e responsabilização pela disseminação de notícias falsas nas plataformas digitais. Esse texto está em tramitação no Senado Federal e é combatido veementemente pela… Extrema-direita.
O Governo Lula III tem agido intensamente, como é o caso da campanha Brasil Contra Fake que visa combater desinformações que circulam nas redes sociais e em sites de notícias maliciosos. O projeto conta com matérias desmentindo informações inverídicas sobre políticas públicas e ações governamentais.
Além disso, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, incluiu na nova licitação a determinação que as empresas interessadas apresentem estratégias para o combate às fake news. O Palácio do Planalto está preocupado com o impacto de notícias falsas como a da suposta taxação das transações via Pix, o que não vai acontecer.
Nesse primeiro de abril, além das pegadinhas clássicas no “dia da mentira”, precisamos refletir sobre a inteligência por trás das informações falsas. A quem interessa enganar o povo brasileiro? Pense nisso!
*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é vereadora licenciada e Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro.