A moda como foi feita e pensada não interessa mais. Apesar de ser a segunda maior indústria do mundo, com milhões de pessoas envolvidas direta e indiretamente, esse “mundinho fashion” ficou reduzido, muito equivocadamente, a tendências, prisão emocional e roupas. Sabe aquele repertório visual estereotipado desde sempre? fez a passagem! Ganhou repertório poético, vivo.

Economias mais conscientes estão direcionando nossas vidas, e, finalmente, nossos espelhos não estão mais na TV. Já sabemos que trocar com os outros nos movimenta, nos amplia, nos envolve, e que as coisas só estão bem de verdade quando estão bem pra todos. 
Agora o que manda é o estilo verdadeiramente diverso, com jogo de ideias em uma perfeita integração entre a estética e a alma. Agora quem produz estabelece relação ética com o desejo e com a linguagem. E consumir é uma extensão do pensamento, que chega no coração. Então vamos enriquecer a nossa autoestima, integrar nossos ser e ter?

O Brasil íntimo taí, resistindo. E a gente precisa ter certeza que não está sozinho nesse universo da moda, porque moda faz muito parte da nossa vida, o tempo todo. Somos milhões de consumidores e criadores mas não nos conhecemos. Não nos consumimos. 
Por isso está nascendo uma superparceria Mídia Ninja e Mônica Horta, pra conhecer e divulgar aqui no nosso Instagram quem são os criadores de moda autoral brasileira… o quê, como e onde produzem? Se você é um deles vem contar tudo pra gente, enviando um e-mail pra [email protected].

Aí estão os primeiros dez criadores selecionados pela curadoria de Mônica Horta, pra que você possa conhecer o conceito do trabalho de cada um, e se aproximar do que mais tiver a ver com seu estilo. É lindo, necessário, e urgente que priorizemos o que é feito por quem está do nosso lado, por quem sente como a gente, tem preço justo, está atento a todos os corpos, respeita nossa cultura, tem o olhar pro futuro e produz com amor.

Porque é impossível apreciar o que não se conhece, olha só

Bianca Poppi é estilista, jornalista, multifacetada; dessas figuras com olhar raro. Desde 2014 comanda seu “Brechó da Poppi”, precursor no mundo online, superinovador, porque, além de ser um acervo de garimpos selecionados pessoalmente por Bianca, parte dele recebe interferências feitas à mão por ela, que também apresenta virtualmente as peças em looks com produções de moda muito bem cuidadas e inspiradoras. 
Exatamente como dizem seus bordados, é uma marca “vintage, porém moderna”. Única.

Fotos – Divulgação


Lucia Lemos à frente da marca Canarito constrói camisas colecionáveis. Com o slogan “Arte para vestir e histórias para contar” junto a um pensamento refinado, produz pocket coleções de 30 peças de estampas exclusivas, sempre criadas por colaboradores artistas de prestígio, com diferentes atuações. Suas tags contêm informações sobre o número da peça, a imagem da arte original e o nome do artista. A Canarito prova que moda autoral não copia, se propõe.

Legenda
Estampas: Borboletas de Salvador Dali, Orixás de Emerson Rocha, Piranhas de Isaac de Oliveira.

Fotos – André Patroni


Diego Gama acha que “a moda pode ser um campo poderoso de questionamento sobre as formas e os modos com os quais tecemos a realidade”. Para a sua coleção mais recente, construiu milhares de “plumas” de polímeros de silicone, que poderiam ter sido retiradas de um pássaro plástico do seu universo provocativo. Suas apresentações são sempre conceituais, que depois se tornam coleções originais, com peças superusáveis. Na sua passarela já reinaram criaturas vegetais, empoderadas com seus cabelos-planta [aliás, uma das melhores coisas que já vi no mundo da moda dos últimos tempos]. 
Grandes nomes compartilham do seu ecossistema afetivo, como Maria Beraldo, que usa atualmente uma blusa de látex dele em seu trabalho musical “Cavala”.

Fotos – Agência Fotosite


Gustavo Silvestre partiu de Pernambuco pro mundo. Designer e artesão, adotou como linguagem o crochê, e foi com ele que, por exemplo, construiu o provador da loja da Farm em Nova Iorque, e muito mais, desde muito tempo. Suas criações são movidas pelo coração, e sempre produzidas com a aplicação de conceitos sustentáveis.
Ele também é idealizador do Projeto Ponto Firme, com o qual desde 2015, ensina crochê na penitenciária masculina Adriano Marrey, em São Paulo, e já desenvolveu coleções inteiramente incríveis com os alunos. Fazem parte das suas especialidades, outras artes manuais, utilizadas por ele pra explorar a dupla moda e arte, como nos figurinos da Pablo Vittar e Anitta.

Fotos – Divulgação e Danilo Sorrino


Isaac Silva é um ser gigante. Ele veio da Bahia, está há 10 anos em São Paulo, e é superprestigiado por poderosos com conteúdo, como Elza Soares, Liniker, Gaby Amarantos, e mais. Isso deve-se ao fato de que a marca Isaac Silva potencializa a diversidade estética e exalta diferentes corpos, sempre empenhada na ressignificação da imagem do povo negro brasileiro, sempre de maneira livre, colorida, com história; sempre compartilhando o melhor olhar sobre antigas coisas, e dizendo: “acredite no seu axé”. Ele faz moda com pitadas generosas de felicidade.

Fotos – Jack Bones e Agência Fotosite

Ken-gá é uma marca que marca. Desde 2016, apresenta sua luta explícita pelo empoderamento feminino. “Talvez a maior viagem de uma mulher seja pra dentro dela mesma”.”, diz a estilista Lívia Barros, que, ao lado da Janaina Azevedo, acaba de lançar sua coleção mais recente, com o tema “A Boleia Mística”, toda construída em cima da vida da Afrodite, uma caminhoneira de Cuiabá, que assumiu sua mulheridade aos 68 anos. Com o senso de humor habitual, trabalharam elementos iconográficos dos caminhões e das estradas, como dos protetores de bancos e as cores do pôr-do-sol. A coleção também ganhou um documentário. Quem ousa usar Ken-gá exala liberdade.

fotos – Alex Batista e Agência Fotosite

Magna Coeli pensou a REfazenda, há 30 anos, como um modelo de negócio vanguardista. Sua marca se posiciona como uma empresa de comportamento, que se comunica por meio de produtos com conceitos sustentáveis. Suas coleções têm forte contexto sociocultural e argumentos filosóficos, propondo tipo a “renovação diária de ideias”.

Sempre trabalha com parcerias com artesãos e pequenos produtores locais, e acompanha o uso de suas peças para além da compra, influenciando seus consumidores a se estabelecerem como cidadãos do mundo, alongando o ciclo do produto por meio de sugestões de novas formas de vestir. Este ano, a marca foi a única, fora da Europa, convidada pela ONU a contar sua história no Fórum de Recursos Mundiais – o maior fórum sobre sustentabilidade do mundo, que aconteceu na Bélgica.

Fotos – Divulgação e Silvio Crisóstomo

O mundo Renata Buzzo é feito à mão. Sua marca é vegana, slow fashion, trabalha o upcycling, e prioriza matérias primas nacionais sustentáveis e certificadas, como o algodão brasileiro. Para a estilista, “o processo de criação e seus impactos no sistema é tão importante quanto o resultado final de uma roupa”. Por isso, suas criações sempre apresentam soluções estéticas de uso de resíduos, junto a aplicação de bordados e manipulação de superfícies têxteis. Renata foi escolhida pela Vogue Itália para representar o Brasil entre os 7 designers do “The Next Green Talent” – evento de sustentabilidade que aconteceu em fevereiro de 2019 durante a Semana de Moda de Milão.

Fotos – Divulgação e Agência Fotosite


Gabriela Mazepa usa restos de tecidos pra produzir novas coisas com upcycling. Ela não reproduz suas ideias apenas em invenções têxteis, mas as ensina em cursos pelo Brasil. Apesar de ser mais uma a usar essa técnica, seu trabalho tem o valor agregado de um olhar artístico e ao mesmo tempo prático, com inteligência estética funcional, que faz com que sua marca mereça atenção, a começar pelo nome: “o nome Re-roupa vem com esse hífen porque é como se fosse outro espaço para encaixar verbos possíveis, como re-fazer, re-imaginar roupa, re-modelar, re-significar, re-aproveitar. O hífen vem com a ideia de poder encaixar todas as possibilidade de fazer algo novo em um pedaço de roupa”.

Fotos – divulgação e Agência Fotosite


Fabíola Trinca é tingidora natural, pesquisadora, artista contemporânea e figurinista.
Sua história com tingimentos naturais nasceu em 2015, e de lá pra cá vem estimulando todos os melhores sentidos humanos através de suas “Cápsulas Cores”, como são definidas as coleções da sua marca “Studio Trinca”, da qual a primeira foi a Coleção “Paixão mordente”, em que foram trabalhadas 100 peças de roupas de tecidos naturais, garimpadas em brechós e tingidas por ela, em um projeto que durou 6 meses, de forma colaborativa e autoral, contando com a participação de 15 pessoas em funções diversas.
A marca usa apenas fibras naturais, biodegradáveis, cria coleções circulares e atemporais, incentiva o consumo consciente, e tem como um dos seus princípios integrar o artista e o artesão, com a reciclagem e reutilização de peças já existentes no mundo. Fabíola vê o trabalho manual, artesanal e ancestral como fonte máxima de sabedoria.

Fotos – Igor Cabral e Priscilla Haefeli