Por Ben Hur Nogueira

O curta-metragem “O lado de fora fica aqui dentro”, dirigido pela cineasta mineira Larissa Barbosa, foi um dos destaques do 47º Festival Guarnicê de Cinema na última sexta-feira (14), onde faturou os prêmios de Menção Honrosa e Melhor Atriz Coadjuvante, para Luana Vitra.

O curta é um retrato sensível de como a ancestralidade afro-brasileira deve ser materializada através de uma nuance rotineira onde vemos a potência de um novo prodígio do cinema brasileiro aparecendo na direção, onde vemos Larissa tratar os temas de direitos trabalhistas e as raízes raciais que transmitem-se no nosso cotidiano ancestral, ao mesmo tempo que notamos a consolidação do cinema produzido e construído na cidade mineira de Contagem.

“Marina, uma jovem que está grávida, experimenta a vida a partir dos metais da cidade periférica e industrial onde cresceu. Aos poucos, com a ajuda de sua irmã Núbia, ela descobre um passado onde os trabalhadores negros que ergueram a capital foram bestializados e excluídos. Quando se encontra com Maria, uma senhora que dizem assombrar um dos primeiros edifícios da capital, algo sobrenatural acontece. Agora, essas mulheres querem de volta o que lhes foi tomado”, diz a sinopse do filme.

Em entrevista com a diretora do curta-metragem, perguntamos sobre o cenário do cinema negro nacional, ancestralidade e o significado de vencer um prêmio como este e suas próximas expectativas no cenário cinematográfico mineiro.

Cine NINJA: Como que foi para você ser premiada no Festival Guarnicê?

Larissa Barbosa: Receber esses dois prêmios no Festival Guarnicê foi muito especial pra gente. Primeiro porque é muito bonito ver como a narrativa toca territórios distintos, ainda que seja uma história tão regional.

CN: Como foi o processo de criação do curta-metragem como um todo?

LB: Falar de Maria Papuda, de industrialização, de juventude e ancestralidade negra, de acesso à cidade é acessar um passado e um presente muito marcante das metrópoles. Trazer a personagem de Núbia através do corpo dessa grande artista, Luana Vitra, para o filme, como ficcionalização de si própria, é reafirmar como a arte pode ser emancipatória para os povos negros. Por isso, não à toa Luana levou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante.

CN: Qual a importância de filmes feitos e produzidos em Contagem atualmente?

LB: Oficialmente surgimos aí, porém nossa história começa em 2018 na universidade pública. Sem esse espaço de formação na UNILA, fazer cinema, para nós, seria impensável. Justamente por isso nosso processo criativo começa muito antes, e construir o filme com esse tempo foi maravilhoso. “O lado de fora fica aqui dentro” foi um curta muito especial por diversos motivos, mas especialmente por ser o primeiro filme da Moringa e ter sido gravado em Contagem, cidade onde nasci e fui criada. Contagem é meu ponto de partida e acredito que também minha maior referência estética, narrativa, sonora e visual. Pois o cinema é sobre deixar-se afetar e minha vivência em Contagem foi meu primeiro afeto.

CN: Quais são as suas expectativas para o cinema negro produzido no Brasil?

LB: O cinema negro é muito potente. O cinema feito por mulheres é muito potente. O cinema feito por corpos dissidentes é muito potente. Só precisamos que a sociedade continue acreditando e valorizando a cultura e o cinema nacional. Durante o Guarnicê tive a oportunidade de conhecer mais sobre a maravilha que é o cinema maranhense. Por isso desejo vida longa ao festival e aos filmes. Fui e continuo afetada pelo cinema de vocês.

Foto: Divulgação