O isolamento de crianças negras
“As crianças aprenderem de forma assustadora a serem racistas”. Ana Paula Xongani, mulher negra e mãe conta como é difícil criar uma criança negra num mundo que despreza e exclui negros.
Texto reproduzido do perfil de Ana Paula Xongani
“Em lágrimas escrevo:
Tem muita coisa linda na maternidade, mas tem muitas dores também. Ser mãe de uma menina preta me trouxe muitos medos, muitos desafios e muita força.
É muito triste ver a sua filha sendo rejeitada! Mesmo antes de dizer “Olá!” ela chega perto e todas correm, ela se aproxima, e todas as outras se agrupam, ela chama e ninguém responde. Isolam-a, excluem-a, a machucam.
Ela não entende, mas sente. Não reclama, mas entristece. Meu coração parte!
Dessa vez eu tava aqui espiando, chorando e pensando em formas de acolher a minha filha. Dessa vez eu chamei ela pro meu colo, abracei, disse que ela era linda e inteligente, falei que a amava.
Mas e quando eu não estiver?
A gente sempre fala da solidão da mulher negra, muitas vezes relacionada a afetividade adulta. Mas essa solidão começa muito cedo, começa na infância. O racismo é aprendido pelas estruturas e reproduzido pelos pequenos de forma assustadora. Tivemos avanços, mas as nossas meninas negras ainda são preteridas, rejeitadas, isoladas.
À minha filha eu perguntei:
– Suas amigas não querem brincar?
E ela me respondeu:
– É sempre assim mãe, mas eu não me importo, gosto de brincar sozinha.
Será que gosta? Ou aos 4 anos já se protege na solidão?
E pra você que acredita que é “coisa de criança” certamente você não é uma mulher negra. Nós mulheres negras vivemos esses mesmo traumas na infância, foi ruim mas com o passar do tempo a gente esqueceu, superou ou refletiu em outros momentos da vida. Mas, ser mãe te faz reviver alguns deles, e dessa vez de forma mais intensa e muito mais dolorosa.
Doe muito!”
Ana Paula gravou um vídeo também para o seu canal
*Gravei e publiquei um vídeo/desabafo no canal do youtube Ana Paula Xongani – “Tenho Pressa”*