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Por José Carlos de Almeida

Na última terça-feira (28), o professor Osvaldo Machado da Silva Neto, 41 anos, foi demitido do Colégio Visão, de Goiânia, por ter utilizado em uma prova uma tirinha do cartunista André Dahmer. Osvaldo é professor de sociologia.

O desligamento do professor provocou a reação dos estudantes, que promovem, na manhã desta quarta-feira (29), uma manifestação nos corredores da escola privada, contra o desligamento do funcionário.

O motivo da demissão foi a publicidade do fato, que ganhou repercussão ao ser veiculada pelo blogueiro Gustavo Gayer, em suas redes sociais.

Gayer que é ex candidato a prefeito de Goiânia postou um vídeo acusando o professor de “doutrinar” os alunos. “O professor de sociologia ensinando para os jovens que a polícia causa barbárie. Odeio a polícia, mas ama os bandidos”, disse ele, na gravação gravada na segunda-feira (27), que recebeu apoio de seus seguidores.

Gayer é conhecido por promover Fake News em suas redes, ele foi citado em uma lista do Google encaminhada à CPI do Covid como o segundo blogueiro que mais disseminou fake news no país durante o auge da pandemia.

A tirinha foi usada pelo professor em uma prova de recuperação, questionando “qual o elemento do Estado que está sendo retratado”, mostra um dos personagens de André lendo um jornal, comentando, no primeiro quadro, sobre mais um assalto em São Paulo. Em seguida, o mesmo personagem diz “ainda bem que temos a polícia para combater a violência em prol…” E final com a frase “… da barbárie”.

Osvaldo Machado lecionava há seis anos no colégio. Ele disse que viu o vídeo na segunda pela manhã e o anúncio da demissão na terça-feira.

“Esse vídeo produziu enorme desconforto. A questão na prova, com a utilização da tirinha, não era sobre a polícia ou bandido, mas sobre o aspecto do estado”, disse Osvaldo em entrevista ao correio brasiliense.

Segundo o professor a prova foi aplicada apenas para seis alunos em recuperação. Osvaldo afirmou ter comunicado à direção da escola sobre o uso da tirinha, sem que houvesse qualquer manifestação contrária. Ele ainda complementou: “No dia seguinte (terça-feira), percebi algo estranho. A diretora me chamou e, depois da aula, quando me apresentei, foi surpreendido com o anúncio da demissão. Considerei o motivo desproporcional”, disse ele em entrevista ao Correio Brasiliense.

Osvaldo leciona em outro colégio particular de Goiânia, o Simbios, e afirma que lá recebeu apoio dos professores e diretores.

“Me acolheram, disseram que nada ocorreria em função desse episódio lamentável. Fui vítima da ideia de escola sem partido, de violência psicológica e econômica, mas saio de cabeça erguida, com o apoio de pais, alunos e professores do colégio que me demitiu”, afirma.

“Eu e minha esposa planejávamos uma gravidez, mas agora, com a maior parte dos meus rendimentos cortados, e sem plano de saúde, fica mais difícil realizar esse sonho”, lamenta.

Osvaldo disse ao Correio Braziliense não ter decidido ainda se pretende processar o colégio Visão, mas está inclinado a mover uma ação contra Gayer, por difamação e danos morais.