Além de vacinas, o governo Bolsonaro mandou incinerar R$ 214 milhões em testes e remédios de alto custo

Foto: Alan Santos/PR

Por Cley Medeiros

Desde 2019, o governo Bolsonaro (PL) incinerou R$ 214,2 milhões em diversos medicamentos utilizados no tratamento de doenças raras e de alto custo, como vacinas e remédios para pessoas com câncer, paralisia, HIV, hepatite C e outras.

A informação foi divulgada hoje (16) pelo jornal Folha de S. Paulo e não levou em conta os desperdícios de vacinas contra a Covid-19.

Entre os medicamentos para doenças raras, foram descartadas ainda 949 unidades do Translarna, produto usado para pacientes com distrofia muscular de Duchenne, que causa degeneração muscular progressiva.

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Os dados sobre estoques da Saúde estavam sob sigilo desde 2018 e foram liberados apenas após recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU).

Segundo fontes do governo, a maior parte dos produtos foi descartada após a expiração da validade. Além disso, outros produtos com data de validade vencida podem estar no estoque aguardando descarte, conforme apurou a Folha de S. Paulo.

Além dos medicamentos para doenças raras e de alto custo, o governo federal também incinerou medicamentos destinados a várias formas de mucopolissacaridose, uma condição que pode causar restrições nas articulações, problemas respiratórios e cardíacos, hérnias e outras dificuldades, além de aumentar o risco de morte prematura. O valor total desses produtos descartados foi de cerca de R$ 2,9 milhões.

Lista de medicamentos de alto custo perdidos devido à má gestão do governo Bolsonaro

  • Translarna – tratamento: distrofia muscular de Duchenne; unidades incineradas: 949. Valor: R$ 2,74 milhões
  • Betagalsidase – tratamento: doença de Fabr; unidades incineradas: 259. Valor: R$ 2,46 milhões
  • Eculizumabe – tratamento: hemoglobinúria paroxística noturna; unidades incineradas: 127. Valor: R$ 1,73 milhão
  • Vimizim – tratamento: mucopolissacaridose IVA; unidades incineradas: 632. Valor: R$ 1,61 milhão
  • Galsulfase – tratamento: mucopolissacaridose VI; unidades incineradas: 283. Valor: R$ 1,24 milhão
  • Alfagalsidase – tratamento: doença de Fabry; unidades incineradas: 272. Valor: R$ 1 milhão
  • Metreleptina – tratamento: síndrome de Berardinelli-Seip; unidades incineradas: 47. Valor: R$ 1,1 milhão
  • Idursulfase – tratamento: síndrome de Huner; unidades incineradas: 186. Valor: R$ 985 mil
  • Nusinersen (Spinraza) – tratamento: atrofia muscular espinhal (AME); unidades incineradas: 2. Valor: R$ 319 mil
  • Nitisinona – tratamento: tirosinemia hereditária do tipo 1; unidades incineradas: 1.200. Valor: R$ 229 mil
  • Alentuzumabe – tratamento: esclerose múltipla; unidades incineradas: 2. Valor: R$ 56 mil
  • Kanuma – tratamento: deficiência de lipase ácida; unidades incineradas: 1. Valor: R$ 23 mil

Total: R$ 13,5 milhões

Respostas? Queremos

Para a reportagem da Folha, o Ministério da Saúde afirmou que, o desperdício de vacinas, medicamentos e insumos é resultado do descaso do governo anterior. Segundo a pasta, o governo Bolsonaro não compartilhou informações sobre os estoques armazenados antes de sua posse.

O ex-ministro da gestão Bolsonaro, Marcelo Queiroga, afirmou não possuir esses dados, que ficam sob responsabilidade das áreas técnicas.

Luiz Henrique Mandetta não respondeu aos questionamentos e disse apenas que fez esforços para mudança de estoque. O agora deputado federal Eduardo Pazzuelo não comentou a reportagem.

O Ministério da Saúde disse estar buscando adequar esses estoques e negociar soluções com estados e municípios para evitar novos desperdícios.

Bolsonaro deixou vencer 27 milhões de doses de vacinas

Cerca de 27 milhões de doses de vacinas foram desperdiçadas. E, nos próximos seis meses, mais de 20 milhões de doses vão vencer, de acordo com o Ministério da Saúde. O governo anterior, inclusive, negou à equipe de transição, informações sobre estoques e validade dos imunizantes.

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O prejuízo aos cofres públicos por conta dessa perda de lotes foi de R$ 2 bilhões.

O governo federal está buscando uma solução conjunta com estados e municípios para evitar novos desperdícios.

As vacinas vencidas são retiradas da refrigeração, acomodadas em tonéis e levadas para uma empresa que faz o descarte. O destino final destes imunizantes é o aterro sanitário.