Análises preliminares estimam possível queda de até 50% no nível de poluentes; redução no tráfego é a principal causa do fenômeno; Visibilidade de estrelas pode estar ligado a fatores climáticos.

Foto: Mídia NINJA

De repente, ficou tudo azul. São Paulo, cidade tradicionalmente conhecida por seus tons de cinza e uma garoa fina, passou a ter, por tempo indeterminado, um ar mais puro, que lembra aqueles de pequenas cidades do interior.

Uma parte dos paulistanos percebeu o novo fenômeno nas últimas semanas: desde que o fluxo dos carros, ônibus, caminhões e aviões começou a reduzir drasticamente pelas medidas de autoisolamento e os decretos do governador de João Doria, uma baixa histórica dos indicadores de poluentes foi observada.

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Todos os dados obtidos até o momento indicam a melhora e a redução da atividade de transporte o principal motivo, afirma o especialista André Luis Ferreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). A limpeza do ar, que pode ser percebida intuitivamente ao olhar para o céu da maior cidade da América, é medida diariamente pelo site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e pode ser acessada por qualquer interessado.

A pesquisadora Mariana Veras, do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP, comparou os dados da Marginal Tietê relacionados ao PM10, um tipo de poluente inalável que pode penetrar no aparelho respiratório. O comparativo mostrou redução drástica da substância no mesmo período de 2019 e também comparado com o período anterior ao início das quarentenas, mesmo o início de março tendo tido bastante chuva, o que diminui os índices. 

Análise comparativa de poluentes entre o dia 11/3 e 25/3 em São Paulo. Alguns horários do dia 25 não foram monitorados pela CETESB. Gráfico por Mariana Veras, do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP.

 

“Somos vilões e vítimas da poluição do ar, já que nossa saúde é impactada nisso”, afirma Mariana, que acredita já temos tecnologia suficiente para tomar escolhas diferentes sobre meios de transporte e matrizes energéticas, responsáveis pela poluição do ar.

De acordo com André Luis há muitos aprendizados também sobre o espaço público nessa crise: “Menos automóveis circulando geram menos ruído, uma melhor saúde respiratória, menos acidentes, atropelamentos, morte de ciclistas. Um conjunto de coisas que o frenesi do deslocamento gera de danos para cidade.”

Tudo verde – com exceção da vila industrial em Cubatão. Visualização dos dados públicos da CETESB no dia 29 de março de 2020.

 

Apesar de não haver estudos científicos aprofundados sobre o fenômeno até o momento, a opinião informal de especialistas estima que a redução total dos poluentes na cidade pode variar entre 30 a 50%, de acordo com o tempo da quarentena em combate ao novo Coronavírus.

A poluição do ar mata aproximadamente sete milhões de pessoas todos os anos no planeta, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, sendo considerada uma grande ameaça para a saúde e o clima.

A pandemia do Coronavírus, ao diminuir a circulação de pessoas e consequentemente os níveis de poluição nas grandes cidades como São Paulo poderia, ironicamente, ajudar na saúde respiratória de milhares de pessoas, incluindo os infectados pelo COVID-19?

Mano do céu

Junto com o céu azulado, começaram a pipocar no twitter também relatos sobre a aparição de estrelas em SP:

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Apesar do entusiasmo, a opinião do especialista em astronomia do IAG/USP, Roberto da Costa, não é tão otimista. “Não acho que seja tão mágico assim. A poluição do ar deve ter diminuído muito, mas sou cético de achar que as condições astronômicas em São Paulo mudaram de maneira significativa.

Apesar disso, Roberto dá dicas para os amantes do céu que quiserem prestar mais atenção aos astros nesse momento do ano na capital. 

De acordo com o professor, Vênus, que já foi conhecida como estrela Dalva pelos antigos, aparece no começo da noite e está bem brilhante, podendo ser observado na direção do pôr do sol, entre 18h e 19h, sendo o objeto mais brilhante do céu durante a noite depois da Lua, que está em fase crescente. As 3 Marias, que fazem parte da constelação de Orion, também podem ser observadas de São Paulo, assim como Júpiter e Saturno, que aparecem mais no fim da noite, na direção do nascer do sol.

 

 

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