MST, CPT e movimentos sociais se unem para ajudar famílias carentes da periferia de Montes Claros, norte de MG
Neste momento de pandemia do coronavírus, movimentos populares ajudam populações carentes no norte de Minas Gerais, fazendo o papel que o Estado deveria fazer.
Por Laura Murta
Há 17 anos foi fincada em solo norte-mineiro a bandeira do Movimento Sem Terra. Em condições normais, o mês de abril é dedicado às lutas sociais e o movimento estaria em atos públicos para trazer seus clamores e suas bandeiras de luta por reforma agrária, por justiça social e produção de alimentos saudáveis nas ruas de diversos municípios brasileiros. Assim como diversas etnias dos nossos povos originários também dedicam o mês de abril para ampliar o debate por demarcação de suas terras, por justiça, por respeito à nossa identidade e diversidade.
Mas esse ano nada está dentro da normalidade. Nesse dia 23 de abril, o MST, a Comissão Pastoral da Terra, o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e o Quem Luta Educa, se juntaram para ajudar famílias carentes da periferia de Montes Claros.
Toda a produção agrícola de áreas de assentamento e acampamento do MST será distribuída para pessoas carentes da cidade, com destaque para as famílias da região da Vila Atlântida e famílias assistidas pela Paroquia São Francisco de Assis, na região do Grande Santos Reis.
Um esforço coletivo, de genuína generosidade e senso de partilha de pessoas que pouco têm para com aquelas que estão completamente desassistidas em tempos de pandemia da COVID19.
Cerca de três toneladas de alimentos produzidas nos assentamentos Eloy Ferreira em Engenheiro Navarro, João Pedro Teixeira, em Olhos D’Água, Professor Mazan e Garrote, em Bocaiúva, Darcy Ribeiro, em Capitão Enéas, no acampamento da Fazenda Arapuim em Pedras de Maria da Cruz e no assentamento Estrela do Norte, em Montes Claros. Produção que chegará às mesas de famílias que enfrentam dificuldades em função da fragilidade socioeconômica que já viviam antes mesmo da pandemia. Homens e mulheres que vivem na informalidade, em trabalhos precários, sem direitos e assistência e que agora, mais do que nunca, estão mais expostos aos riscos do novo Coronavírus.
“Nosso Movimento, que sempre foi construído com solidariedade de organizações e diversas instituições é solidário com as famílias em situação de pobreza das periferias de Montes Claros. A reforma agrária, na prática, é ver a terra repartida com quem nela trabalha, é produzir alimentos saudáveis para a classe trabalhadora do campo e da cidade, é lutar por democracia”, destaca o coordenador regional do MST, Samuel Costa.
Ao abençoar os alimentos doados, Dom João Justino, Arcebispo da Arquidiocese de Montes Claros, destacou o valor do gesto de solidariedade das famílias assentadas. Um gesto genuíno de quem compartilha o pouco que tem com o seu próximo, tal qual o próprio Cristo. “Um gesto de solidariedade que nos lembra o próprio Cristo, é assim que devemos entender essa iniciativa das famílias do movimento”, destacou Dom João.