Ministro Milton Ribeiro pede demissão após escândalo do ‘bolsolão’ do MEC
Milton foi o terceiro ministro da Educação do governo Bolsonaro, todos envolvidos e demitidos após polêmicas e desgastes
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, entregou nesta segunda-feira (28) sua carta de demissão ao presidente Bolsonaro. O pedido de exoneração veio em mais um episódio de crise do Ministério da Educação, desta vez envolvendo as denúncias de favorecimento ilícito de pastores na distribuição de verbas do ministério.
Milton foi o terceiro ministro da Educação do governo Bolsonaro, todos envolvidos e demitidos após polêmicas e desgastes.
O caso veio à tona desde que um reportagem do Estado de S. Paulo apurou o funcionamento de um gabinete paralelo, integrado por dois pastores próximos a Bolsonaro, Gilmar Santos e Arilton Moura, que comandam a agenda do ministro da Educação, favorecendo prefeituras próximas a eles. Eles não têm cargo no governo, mas participaram de diversas reuniões com autoridades nos últimos anos.
Após a denúncia, áudios vazados e depoimentos de prefeitos reforçaram a acusação de tráfico de influência e troca de favores entre ministro, pastores e prefeitos, envolvendo verbas do MEC e construção de igrejas.
Durante toda a segunda-feira, corria boatos de que Bolsonaro demitiria o ministro no começo da semana em meio à polêmica. Preocupada com a imagem, a própria bancada evangélica teria se posicionado pela saída de Milton a fim de que resolvesse suas denúncias fora do governo Bolsonaro.
Esta não é a única polêmica contra Milton Ribeiro no exercício de sua função no MEC. A Procuradoria Geral da República (PGR) denunciou o ministro por homofobia em janeiro deste ano após entrevista concedida ao Estadão, associando “homossexualismo (sic)” a “famílias desajustadas”.
Leia íntegra da carta do pedido de demissão:
Desde o dia 21 de março minha vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam proximidade com o Ministro da Educação.
Tenho plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade.
Eu mesmo, quando tive conhecimento de denúncia acerca desta pessoa, em agosto de 2021, encaminhei expediente a CGU para que a Controladoria pudesse apurar a situação narrada em duas denúncias recebidas em meu gabinete. Mais recentemente, em _, solicitei a CGU que audite as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida sobre a lisura dos processos conduzidos bem como da ausência de poder decisório do ministro neste tipo de atividade.
Tenho três pilares que me guiam: Minha honra, minha família e meu país. Além disso tenho todo respeito e gratidão ao Presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser Ministro da Educação do Brasil.
Assim sendo, e levando-se em consideração os aspectos já citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção.
Não quero deixar uma objeção sequer quanto ao meu comportamento, que sempre se baseou em pilares inquebrantáveis de honra, família e pátria. Meu afastamento do cargo de Ministro, a partir da minha exoneração, visa também deixar claro que quero, mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas deste Ministro de Estado de interferir nas investigações.
Tomo esta iniciativa com o coração partido, de um inocente que quer mostrar a todo o custo a verdade das coisas, porém que sabe que a verdade requer tempo. Sei de minha responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Meu afastamento é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais.
Assim sendo, não me despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada.