Mauro Cid tinha no celular plano de golpe de Estado para impedir posse de Lula e manter Bolsonaro
O roteiro inclui medidas como a nomeação de um interventor para restabelecer a ordem constitucional e até mesmo a cogitação do estado de sítio
O roteiro inclui medidas como a nomeação de um interventor para restabelecer a ordem constitucional e até mesmo a cogitação do estado de sítio
Um roteiro para um golpe contra a eleição de Luís Inácio Lula da Silva (PT) foi encontrado no telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro, e revelado em reportagem pela revista Veja. O documento, intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, detalha um plano no qual os militares seriam convocados para intervir em uma eventual ruptura democrática no Brasil.
O roteiro inclui medidas como a nomeação de um interventor para restabelecer a ordem constitucional e até mesmo a cogitação do estado de sítio.
No telefone de Cid, também foi encontrado um segundo documento que menciona essa hipótese. O relatório revela ainda conversas entre Cid e o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército, considerado um dos principais apoiadores dessa tentativa de golpe, que teria sido cogitada até dezembro de 2022, pouco antes da viagem do ex-presidente aos Estados Unidos. Em uma dessas conversas, Cid sugere que Bolsonaro deveria “dar a ordem” para que as Forças Armadas agissem.
A revista lembra que, em uma entrevista anterior, Bolsonaro se referiu a Cid, que está preso há mais de um mês por envolvimentos em um escândalo de fraudes em cartões de vacinação, como “um filho”.
O primeiro passo que o roteiro prevê é o envio de um relatório das supostas irregularidades praticadas pelo Poder Judiciário aos militares.
Ao todo, o roteiro tem oito etapas. Quando recebessem o relatório, as Forças Armadas nomeariam um interventor, que fixaria um prazo para “restabelecimento da ordem constitucional”, diz o documento. As decisões do Judiciário e as ações dos magistrados seriam imediatamente suspensas. O interventor, que teria sob seu comando a PF, poderia suspender todos os atos normativos que ele considerasse “inconstitucionais”.
Um das etapas do documento menciona o afastamento dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a justificativa de que eles seriam “responsáveis pela prática de atos com violação de prerrogativa de outros Poderes”. Uma das últimas etapas do passo a passo prevê a convocação de novas eleições, diante do reconhecimento, por parte das Forças Armadas e do interventor, de uma “situação em desacordo com a Constituição”.
Dentro do documento “Forças Armadas como poder moderador”, presente no relatório da PF, que destrincha o celular de Cid, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, alvo frequente do bolsonarismo, é nominalmente citado. O texto diz que ele “nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. A frase é uma menção ao fato de o ministro ter sido secretário de Estado do ex-tucano duas vezes, quando ele foi governador de São Paulo. Hoje, Alckmin é vice de Lula.
Prerrogativas pede prisão de militares
O Prerrogativas, grupo de advogados que apoiou Lula na eleição presidencial e que tem uma boa interlocução com o atual governo, defendeu nesta sexta-feira (16), que os militares envolvidos na articulação para o golpe devem ser presos.
“Os militares têm que responder a processos administrativos disciplinares e, logo após o devido processo legal, respeito ao direito sagrado de defesa, quando não houver dúvida a respeito da participação deles, eles têm que ser mandados embora bem do serviço público”, diz Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou na quinta-feira (15) o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, a prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Ministro também garantiu o direito constitucional ao silêncio.