Marcha da Maconha em SP: Fogo na Babilônia!
A cidade cinza ficou nublada. A cada flash, um beque. A cada baque, um rap, um reggae, um trap. Uma batalha, uma tragada, uma nova ponta guardada, mais um charuto bolado. Fogo. É Marcha da Maconha, tá tudo liberado.
Foto: Mídia NINJABota fogo na Babilônia! A cidade cinza ficou nublada. A cada flash, um beque. A cada baque, um rap, um reggae, um trap. Uma batalha, uma tragada, uma nova ponta guardada, mais um charuto bolado. Fogo. É Marcha da Maconha, ta tudo liberado. Sem polícia, sem estado. Desobediência civil, zona autônoma: hoje a cidade é nossa.
26 de maio de 2018. 10 anos de Marcha da Maconha. 10 anos de resistência, luta e autonomia. 10 anos de luta nas bases, nas quebradas, nas escolas, nos movimentos sociais, nas redes, nas universidades e onde mais queiram trocar ideia sobre o fim da Guerra às Drogas, o poder da canábis e políticas de drogas.
10 anos de luta pela cidade. Fumar seu baseado é arriscado. Quanto mais pala, menos pala. Quem conhece, ta ligado. Maconheiros e maconheiras são marginalizadas, esculachadas, discriminadas, às vezes presas ou mesmo forjadas. Nos fardados, jamais confiar. Se a sirene soar, o baseado sempre abaixar. Sempre se cuidar, com os fardados jamais ramelar.
Quantos e quantas não rodaram por um baseado? A pergunta nunca vai calar enquanto tantos morrerem e serem aprisionados nessa guerra que parece não ter fim. A pergunta nunca vai calar enquanto não responderem cadê o Amarildo?, por que Rafael Braga foi preso?, quem matou Marielle e Anderson?, e tantas outras que todos os dias ecoam nas nossas periferias.
50 mil marcharam sobre o principal centro econômico de São Paulo. 50 mil baseados queimaram essa terra cinza. E suas cinzas vão plantar as raízes dessa revolução verde. Quem deu a explosão inicial foi o bloco feminista, aquele que segue na linha de frente, mostrando como a luta antiproibicionista só é possível se feminista e ‘Bucetas Ingovernáveis’.
Feminista, sim! Não há mudança real se não houver equidade de gênero. E na Guerra às Drogas são as mulheres as mais penalizadas. São as mulheres, principalmente as negras, as maiores vítimas do encarceramento. Não há toa a proporção de mulheres negras encarceradas (62%) é igual à das presas por tráfico (62%), apesar de não haver uma relação causal entre as duas.
Então, ramelão, que fica bancando representante de PROERD por aí, se liga, que você não sabe de nada. Esse baque queimado é pela vida de muitas pessoas. Essa fumaça de 50 mil baques é pra ver se você se contagia e sai da sua viagem careta, dançando coreografia do PROERD com PM fardado.
Não, não é de intervenção que precisamos, como mandou o papo a Marcha da Maconha do Rio de Janeiro. Precisamos sim que as pessoas entendam, como estava escrito no cartaz da paciente de canábis medicinal, Clárian, “só queremos viver, basta de guerra!”. Ao lado de sua mãe, Cidinha, e seu pai, Fábio, mais uma vez ela saiu na linha de frente da Marcha, com seu lindo sorriso e sua personalidade forte.
Isso só foi possível graças a canábis. Como uma criança que tem múltiplas convulsões, em decorrência de uma doença rara chamada Síndrome de Dravet, pode ter qualidade de vida? Usando o canabidiol, substância presente na canábis, ela pode, por exemplo, sorrir, brincar, ter amigos, se divertir. E sair na linha de frente de uma marcha com 50 mil maconheiros. Não é pouco.
Clárian é o símbolo de uma luta de milhares e milhares de pessoas em todo o país. Vidas que encontram na maconha a possibilidade de viver com qualidade. Pacientes considerados criminosos. Cultivadores relegados à criminalização, escondidos em suas casas e clubes de cultivo.
Cultivar é estar na mira do estado, que não pensa duas vezes em violar nossas casas, corpos e vidas. Por outro lado, cultivar é se relacionar com uma planta única, cheia de personalidade e possibilidades. As plantas que estavam na Paulista ontem são esse grito de liberdade: Jardineiro não é criminoso!
A Marcha é esse momento. De juntar as forças e sair pronto a explodir. Explodir e queimar a Babilônia inteira. Levar para nossas lutas, para nossas quebradas, para nossos espaços a mesma liberdade que dispomos na Paulista. Não pode ser só festa: é luta, energia e construção de uma revolução que não para.
Fumar maconha é um ato político de seres políticos em territórios políticos. Enxergue a potência do seu ato político, entenda seu lugar de fala e queime seu baseado com consciência: a revolução verde só está começando.