Eu costumo dizer que a luta pela saúde pública é uma das principais bandeiras feministas. O acesso aos serviços e ações de saúde é fundamental para garantir direitos e reduzir desigualdades. São as portas destes serviços que recebem as mulheres vítimas de violência doméstica. Essas mesmas portas realizam o sonho da opção pela maternidade e devem garantir nossos direitos sexuais e reprodutivos.

Do lado de fora, mulheres que buscam para si, seus filhos e familiares um atendimento no momento em que a saúde lhes falta. Do lado de dentro, bravas mulheres profissionais de saúde que não se furtam de enfrentar os riscos para garantir a vida e a saúde de nossa gente.

Há um ano convivemos com os dilemas, as preocupações e os dramas da pandemia Covid-19. Neste período, foi constatado o aumento do número de feminicídios e de casos de violência doméstica. O Brasil registrou o maior número de mortes de gestantes e puérperas por esta doença. No primeiro semestre de 2020 foram 124, correspondendo a 77% dessas mortes no mundo.

Um governo inoperante, insensível e ineficaz fecha os olhos para a dura realidade experimentada pelas mulheres que, durante a pandemia, além de serem majoritariamente atingidas pelo coronavírus, ainda enfrentam jornadas extras ou se vêem fora do mercado do trabalho e sem direito à manutenção do auxílio emergencial para sua subsistência.

Em meio ao caos, a chegada das vacinas trouxe de volta a esperança. Um alento para que a imunização chegasse a todos de forma a minimizar o triste retrato que já conta com mais de 260 mil vidas perdidas. Importante ressaltar que as gestantes, apesar de grupo de risco, não entraram na lista prioritária para vacinação, apesar da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) esclarecer que as vacinas de vírus inativados (Coronavac e Astrazeneca/Oxford, por exemplo) não diferem dos imunizantes que já eram recomendados às gestantes, como a própria vacina da gripe.

Lutar pela vacinação de todos é uma luta feminista. É uma luta que ressaltamos no mês da mulher por entendermos que apenas com ampla mobilização e pressão a imunização será uma realidade. Sem ampla cobertura vacinal fecham-se as possibilidades de recuperar um mínimo de normalidade. E serão as mulheres as maiores prejudicadas.

Neste 8 de março, nossa voz ecoa essa luta e clama pela vida das mulheres. Nossa voz homenageia as mulheres na linha de frente no combate ao coronavírus. Profissionais da saúde e da educação, da assistência, pesquisadoras e cientistas. Nosso muito obrigada e a certeza de que serão elas a possibilitar a tantas outras e outros a chance de um recomeço.